terça-feira, 28 de julho de 2009

Carta ao Cazuza.


Amigo porra louca... você estava certo, certíssimo, por completo... as idéias realmente não correspondem aos fatos. Você? me acerta em cheio. A forma como você pronuncia, faz caber a mesma palavra em trilhões de significados em zilhões de situações distintas. O fato foi bem melhor que a idéia. Tenho a impressão de que a realidade atou as mãos em cada canto de sonho das duas almas... tomando todos os gostos e formas dos primeiros beijos idealizados e misturou a tudo que de concreto já houve no mundo. O primeiro beijo? Você sabe que minhas bochechas queimam e nunca sei quais palavras utilizar para falar de tudo. Nada pode escapar. Até hoje não despertei daquele momento. Tento me manter serena, economizar a entrega, permanecer de olhos abertos... mas não dá! Sonho acordada, segundo após segundo, em progressão geométrica de amor agudo. Não foi em aeroporto algum, nem nquele barco que você tinha me sugerido, nem no morro do outro sonho, nem no carro frenético, nem em lugar algum que já nos beijamos antes. Era manhã clara, cedo... eu de febre, meu amor de sangue. Foi a primeira vez que acordamos a menos de um oceano de distância. Eu não sabia, não soube e nem saberei o que fazer. Eu chorei, eu ri, eu duvidei, mas o fato é que meu amor estava a minutos de distância da minha casa. Assustei, disse sim. Houve o atraso, óbvil... os atrasos são a sombra de meu amor. Nossos cabelos estavam molhados e ventava muito. Dia frio. Houve criança trazendo fôlego de vida, criança com o mesmo sangue que circulava pelas veias de meu amor. Houve um supermercado cheio de gente. Cheiro, voz, visão.. tudo novo. Olhos arregalados para não perder nada. Risos e mais risos. Era uma imã que nos juntava em cada corredor de chocolates, frutas e pães. Abraços desajeitados, incrédulos e urgentes ... toque novo. Tudo sem vergonha. Me afoguei em seus cabelos no meio da multidão e a partir daí não vi mais nada a não ser nós dois. Outro cenário. Foimeu pão e minha comida, minha sede de saliva... é todo meu amor que há nessa vida. Acho que já não aguentávamos mais a espera do provar. Na verdade percebemos que suportamos muito mais do que imaginávamos ou precisávamos. Agora não era necessário resistir, persistir, imaginar, etc e tal. Frente a frente. Inacreditável, tudo novo . Eu, como diz meu amor... sou mais experiente. Hilário, mas isso não serviu para nada. Curriculum vão. Fui estátua, muda, petrificada de medo, como uma criança prestes a dar seu primeiro passinho. Não suportamos mais, para felicidade geral da nossa nação. Foi num corredor. O gosto? De todas as delícias dos mundos reais e imaginários fundidas numa poção mágica. O cheiro? Da pele que eu esperei por um tempo maior que eu pude. O som? Meu coração, óbvil. Serelepe. E o coração do outro corpo me chamando pra vida e me tirando do coma. A luz? Do mesmo sol que tocou minha pele no dia verde. Não foi teatro, não havia roteiro. Tontura. Perna bamba. Vou cair. Senta e respira.Fôlego. Febre. Observar. Não solto. Desde então grudamos. Ferro e platina fundidos numa liga indestrutível para construir castelos de segurança máxima contra todo tipo de destruição. Nosso muro. Nossos tijolinhos colocados com cuidado a cada dia. Ando fazendo promessas malucas, como você amigo. Faz parte do nosso show. A vida é desconhecida e mágica mesmo, mas anda tagarela dormindo ao meu lado. Pra que sonhar? Ah.. eu escolhi viver só se for a dois. O amor é brega.



beijos fortes e melecados de sua amiga,



Amélie.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tão cliché.

Mãe Terra me fez comum: aparência, voz, sorriso, talento, beleza... tudo comum. Odeio ser comum. Nascer comum é destino, ser comum é escolha. Passei a vida toda me esquivando de jargões. Sou cansada de saber que sou o verme da pulga do mamute gigante chamado vida. Sou nada, uma miséria perdida nesse universo lindo. Escolhi trilhar esse cenário comum com aventuras diversificadas e tentar fazer de meu rastro um pouco de diferença nessa imensidão de história. Pois paguei a minha língua, moço! O jargão me pegou! Maravilho-me diante da dominação que meus sonhos de travesseiro exercem sobre minha sobriedade. Estou apaixonada mais uma vez, seu moço! Passei a vida toda amando platonicamente e certamente aprovo mais o sabor das coisas reais. Gosto do toque, do concreto, do alcance dos olhos. Numa dessas noites atrás, quando meu amor ainda era segredo, erro, imperfeição, me refugiei em minha fronha de Mickey. Meu amor veio me visitar no sonho. E mesmo que em sonho, poderia ter sido um sonho mais real, mas não foi. Meu amor desembarcara por fim num aeroporto lotado por seus queridos. Adentrou o saguão com ar sublime, forte e a mesma travessura de sempre nos olhos. Abraçou sua mãe e seus familiares, passando por mim como se eu fosse um vidro transparente... numa sem-gracisse notória; mas mesmo assim seus olhos teimaram à sua timidez e rolaram pros cantos do rosto, me fitando de lado ... gelando minha espinha. Abraçou, beijou e berrou com todos seus outros amigos presentes, exceto eu, claro. Chegara a hora de deixarmos o aeroporto e irmos para casa. Saímos todos juntos, com uma jóia recém chegada. Ao abrir a porta, estava chovendo para a surpresa geral. Todos recuaram pra não se molhar, e eu que nunca tive medo de tempestades permaneci, e meu amor também. Eu e ele no palco principal com uma plat[eia gigante dois passos atrás de nós. A chuva veio para lavar aquela estranheza de um reencontro tempos depois. Havia uma poça e uma poça guardava todo registro das memórias que juntos viveram algum dia. Num segundo só nossos olhos se encontraram, percorrendo o mesmo caminho de lado que deslizaram no saguão. Timidez fora embora, e deu um contorno curvo e brilhante e sapeca naqueles olhinhos puxados. Meu amor me deu a mão e pulamos juntos na poça de chuva, cheirando a carro, asfalto e óleo... Se açúcar tivesse nome, seria o seu, e nessa chuva que já nos embalou nas madrugadas de nosso amor telepático, não te derreteu. E mesmo tirando-me o chão, deu-me a sensação de maior vividez já provada. Nossos olhos congelaram-se uns nos outros. Vi seus contornos, suas contrações, seus brilhos e me dei conta de que já não havia mais platéia. Só havia eu, você, um céu azul gigante, a poça de chuva e o calor de suas mãos nas minhas. E daí.. o jargão nessa história? Dentre as mil formas que poderia ser, nosso primeiro beijo fora em um sonho dentro de outro sonho. Sepulto aqui este sonho de fronha de Mickey na corrida para seus braços. Paguei minha língua, e mesmo que não aja realidade alguma, foi numa fantasia que eu adorei ser beijada. E adivinhem só? Mais uma vez... contra tudo o que eu pensava. dá-lhe senso comum! Aqui jaz: " O primeiro beijo, dá-se com os olhos."


te amo toin toin... não me destrua como uma faca cortando as etapas.