terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Para quem queria notícias.



Desliguei a televisão. As luzes ligadas em silêncio fazem o barulho do computador ser tão alto que chega a ser silêncio também. O silêncio mais ensurdecedor. Estar só não é fácil. Bem, na verdade é fácil quando a "auto-companhia" é agradável, quando sua voz não grita de medo, de dor, de angústia, de saudosismo. Todos se foram e de repente notei que estou só. Acho que nunca me notei tão só, e isso me deixa assustada. O tic-tac, que vem lá da sala, me tortura e me traz uma pergunta dificílima mais uma vez ... por que o sopro da vida? Hoje me senti totalmente desimportante, desnecessária, descartável. Como alguns diriam, dramática também. Mas a questão é que isso dói mesmo. Eu gostaria que tudo estivesse diferente, nenhuma faxina ou multirão tem adiantado. Ano desorganizado, inorgânico, desengonçado. Fim de ano aterrorizante, escuro, mortal. Não me reconheço mais porque tenho sido outra pessoa, ando sem chão, sem história, sem conteúdo. Sirvo a um sistema esperando pelo tal ano da transformação. Pelo menos ainda guardo esperança de um 2011 melhor, e que em algum dia da minha vida meus sonhos tornem-se tão claros que enfim eu possa tocá-los. Apenas um bastava para me sacudir essas cinzas, lavar esse presente que me pergue. Já se perguntou se você realmente causa saudade em alguém? De que serve essa existência ( de perdas) se estamos todos sozinhos no final? Sem beijos ou palavras de boa noite. Hoje eu vou dormir só, e qualquer barulho, principalmente os que vêm de dentro, é sinal de perigo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Hoje vou falar de Bossa e Tropicalismo.



Pela manhã assistindo ao telejornal vi uma Belo Horizonte devastada pela chuva e um Rio de Janeiro perfurado por balas e queimado por traficantes. O que me chamou atenção foi a diferença da postura da população em relação aos dois acontecimentos. Sempre me perguntam se morro de vontade de conhecer o Rio, sempre respondo que não. Com a licença dos apaixonados, a Cidade Maravilhosa para mim é uma grande farsa, uma bela embalagem de um produto podre em nome de um cartão postal para os gringos.
O tropicalismo surgiu contra a ditadura militar, como um grito de cansaço, a revolução pelo direito de falar vestida em calças jeans. As músicas eram enérgicas, explícitas ou subliminares só queriam uma coisa: o basta aos horrores da tirania. Foram os que não aceitaram, os que se divergiam da rebeldia sem causa da jovem guarda ou do conformismo da Bossa Nova.
Não havia lugar melhor para o nascimento da Bossa. A beleza natural do Rio chacoalha os músculos das garotas e dos garotos de Ipanema, dá leveza ao Bondinho como se fosse pássaro, e dá nome ao Morro como se fosse doce, surfando nas ondas do mar. Pequena elite da beleza que deixou de herança a apatia para a populção em geral. Ricos e pobres assistem o espetáculo de destruição cíclica, ora é pela chuva, ora é pelo tráfico. Feito marionetes, os cariocas ou choram ou sorriem, nunca gritam ou paralizam o calçadão. Os compositores da Bossa, cantavam canções baixinhas, em melodias excelentemente suaves, dentro de apartamentos, que era para não incomodar certos vizinhos.
Notam a gravidade disso? Não há promessa de um remanejamento estrutural social ou físico, e o povo nem protesta por isso. Atualmente os bandidos estão varrendo a cidade, desconstruindo o que foi estruturado com trabalho popular. Se existe algum protesto ou no mínimo exigência da população pela segurança que lhes é direito? Nada! Só aguardando uma possível aliança com a Força Nacional. Meu Deus, possível! Cadê o exército? Para quê tanto silêncio?
Como Tom, Miúcha, Nara, Vinícius... cantam o sofrimento, assistindo pela janela como se fosse parte do cenário, como se todo caos tivesse realmente a poesia ufânica de Wave.
Eu fico puta com isso.
O Rio é considerado elite intelectual do Brasil, mas é justamente de Minas, os indivíduos quietos por definição, que vem o grito de socorro ou de pare após uma noite de chuva. Foi necessário uma noite de chuva para que a população tumultuasse, berrasse, escancarasse a ferida numa das principais avenidas de BH. No Rio, isso é rotina. Será egoísmo?
Quem diria que os mineirinhos têm o sangue quente de Tom Zé, Gal, Torquato Neto, Os mutantes , Bethânia, Gil, Caetano... Mas é só mais um dia. Mais um. Um dia.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O desabrochar da primavera.




- Hoje faz um mês que nos mudamos. Uma hora dessas, há um mês atrás, estávamos mortas e com a casa toda bagunçada.



- Um mês depois continuamos mortas, com a casa de fora um pouco mais arrumada e com a casa de dentro um caos.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Mad world.

"...The dreams in which I’m dying are the best I’ve ever had..."


domingo, 3 de outubro de 2010

É o homem.



"Tem gente que é tão pobre, tão pobre, que só tem dinheiro."

sábado, 4 de setembro de 2010

Mais vida.


A vida é um soco, um jab direto, extra potente na sua bochecha mais bonita. O pescoço gira, deformado, até completar a volta, de 360º. Seguido de morte, ou com uma morte por dia, a cabeça retorna ao ponto de partida.

- E o homem que veio do pó, retorna ao pó.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Neguinha dos olhos.





Por quanto tempo me privarás
Do teu olhar no meu olhar?
Esse olhar que me adoça, me acalma, me delira
Esconde-se atrás dessas pálpebras...

Pálpebras cruéis, cerradas, trancadas
Qualé a chave que te abre?
Qual foi que fiz que te fechei?

Pálpebra nervosa, rígida, gélida
Sabes bem como me castigar
Me botar de joelhos...

Belos cílios da luz de meus olhos
Não fique tanto tempo sem me mirar
Que eu morro de tanta falta tua

Deixa de emburro
Esquece de me matar
Abra-te novamente
E traga a minha grande parte
que pertence a você.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Memorial do Gentileza.

























Tu tens voz, moço!

Então usa esse poder com mansidão
Como instrumento de gentileza
Porque tal qual o poder de um olhar
É o da palavra que não volta

Usa tua fala com candura, seu moço

Porque tal qual um olhar
Pode tua palavra me viver ou me matar

Cuide para não me assassinar com tuas letras

Que essa vida já é dura demais, moço

As frases ardem, cortam e não voltam não

Mas se usadas com sabedoria
Podem ser o jardineiro que colhe,
Que leva, a paz e as flores.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Aos livros.


Como o homem foi capaz de inventar uma coisa tão fantástica quanto os livros? Sinceramente essa dureza diária e extensa ganha sentido quando chego em casa tarde da noite, tomo um banho cheiroso, molho os cabelos que é para expulsar a fumaça, como uma comida quentinha, com gosto de mãe... e depois de tudo isso deito naquele sofá iluminado e me escondo atrás das páginas de um bom livro. É no fim da noite que meu dia nasce. Livro é o meio de transporte para o mundo sozinho, em que posso ser tudo, sem cansaço e ainda beber da fonte da beleza que os olhos enxergam, que é pra enfeitar a rotina. Livro é minha luda-de-mel de cada dia, um atalho para a liberdade no meio do sufoco. Meu descanço. O tirar dos sapatos apertados e quentes. Minha prece antes de dormir. Benditos e perpétuos sejam os livros bem escritos!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Com a licenca de Shakespeare....


Já viu quantos textos existem falando sobre o que a maturidade nos ensina? Acho mesmo belo acreditar que as coisas que aprendemos são repletas de beleza, d'até vontade de aquilo tudo ser verdade. Acho que os poetas de antigamente tinham menos cimento nos olhos, ficava mais fácil ver a beleza depois de uma grande queda. A queda tinha altura determinada. Parece que o século XXI é uma queda livre. A beleza na minha opinião não está nas coisas que você percebe no final, acho que está nesse cair desembestado e mesmo assim declarar que se é feliz. A beleza está em se sentir completo com tanta coisa faltando ou com tanta coisa sendo arrancada de voc6e o tempo todo. O mundo é uma desconstrucão constante de tudo aquilo que um dia você acreditou que fosse a verdade que te faria feliz. Hoje deu vontade de falar sobre o que eu aprendi, numa linguagem moderna, numa verdade real e atual. A maturidade me ensinou a ter menos amigos. Não fique com pena, foi uma opcão. A vida caminhou bem melhor quando percebi que muito é apenas quantidade, e muitos amigos podem te causar uma dor de igual grandeza. Então é melhor optar pela qualidade de me dar e receber muito mais, muito melhor, questão de intensidade, dedicacão e lealdade. Lembra daquela teoria que diz que seus amigos verdadeiros não se igualam a quantidade de dedos que você tem na mão? É pura verdade. E a novidade é que isso não é nada ruim e muito menos sinônimo de solidão. O fundamental é mesmo sua família, que é carregada de defeitos. Em família a gente se regaca, expõe-se ao avesso e sempre se ama no final, apesar de quase tudo. Perdoar é realmente muito bonito, mas como diria Quintana: Que trabalheira! Quase ninguém perdoa por completo e quem pede perdão quase sempre fica com o orgulho ferido. Dinheiro é mesmo uma merda, tudo é comprável no mercado e sem ele você não faz nada. Nunca pensei que chegasse aos 19 anos sem carta de motorista, mas a prioridade de ter um carro saiu de cena para dar lugar às minhas 8 viagens anuais à paz das cachoeiras. Virei aventureira. As pessoas que desrespeitam seus hábitos vão te irritar, por exemplo pessoas que jogam papel na rua me irritam e isso, esse pequeno detalhe, pode me impedir sim de desenvolver uma amizade com tal pessoa. Dos meus erros passados herdei muito mais nojo, que aprendizado. Você é uma galeria de coracões partidos. Achou que ia ser sempre a vítima da história? A mocinha que amava platonicamente? Tcharam! você, logo você, já partiu e vai partir outros coracões até o fim da sua vida. Todo mundo é um pouco muito vilão. comer chocolate todo dia engorda. Fazer trocentas coisas por dia não será mais tão possível, porque o corpo pesa, o fôlego diminui e o cansaco aumenta e você, meu amigo, pede arrego. E dentre as coisas que voce deixa de fazer devido ao cansaco, a atividade física ocupa a preferência. As pessoas fazem e insinuam sexo o tempo todo. Fazem sexo sem amor. E sexo nem é tão bom assim como você pensava. Então não se assuste quando te proporem um ménage, isso acontece com grande frequência na era do hedonismo. A capacidade de absorver um idioma ou um curso é diretamente proporcional ao quanto você e seu bolso são responsáveis por você, na idade adulta é muito melhor, mais sério. Se escolher não ser preconceituoso, por favor, faca isso por você. Não quero ter de ver mais pessoas tornando-se skin-heads depois de perceber que o mundo não vai deixar de ser preconceituoso se você não for. Nào seja fanático por religião, a ponto de perder sua capacidade de criticar e transformar em volta. Faca de tudo que for possível para não ter de depender da bondade alheia, as pessoas são ruins e de repente você vira refém e vende sua liberdade por muito pouco. Infelizmente, hoje enxergo o sexo masculino, com duas ou três excessões no máximo, como uma máquina reprodutora e selvagem. Homossexualismo é consequência da destruicão da família, e não o contrário. Todo mundo se cala no final. para passar no vestibular tem de estudar e isso só depende de você mesmo. Existem pessoas que têm só um grande amor da vida, mas existem outras que amam várias vezes durante a vida e isso não é pecado e nem banaliza sua capacidade de amar. Não existe uma lei que te impeca de amar mais de uma vez. Se você namorar, vão dizer que ele nào presta. Se não namorar ninguém vão dizer que é gay. Se nào gostar de sexo, vão dizer que é brocha. Se gostar, dirão que é tarado. Se for gordo, que precisa emagrecer e se for magor, que precisa dar uma engordadinha. Ou seja, não espere nem reconhecimento, nem agrado. Compre belos e grandes fones de ouvidos, com uma potência que te impeca de ouvir o mau tom alheio. Qualquer som que vaze, vai te machucar sim, afinal você se importa e muito com o que os outros dizem. Você e eu somos mesmo um cliché. Então aperte o play numa bela cancão e vá andar pela natureza, porque essa sim é bela e divina.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rainha Dourada e Soldadinho de Chumbo.




Esse texto de hoje é dedicado aos meus avós. Às vezes nos esquecemos. Qualé? Eu sou de câncer, o que torna esquecer mais espontâneo ainda. Minha calma se perde no meio dessa correria toda. O egoísmo é o ritmo da modernidade. Vivo em funcão do meu emprego, do meu estudo, das minhas refeicões. É tudo meu, entende? E quando tudo fica meu demais, olhar para o nosso ou para o outro vira missão dantesca, falta tempo e sobra comodismo. Eu estressada faco questão de colocar em marcador fluorescente o defeito das pessoas, paciência super saturada. Qualquer pessoa? Não, os mais próximos. É tão fácil ser sorridente com meus clientes. De repente até nossas emocões ficam capitalizadas. Será que é porque eles pagam meu salário? E ainda me perguntam o porquê das minhas preferências pelo mato. Ser urbano me deixa desatenta aos detalhes que me fazem realmente feliz. De repente me esqueco de que minha casa é a simplicidade. Hoje tive um dia diferente. Por precaucão, e gracas ao oftalmologista não trabalhei. E a tarde abriu espaco para que um grande amor meu fosse relembrado. revivido. Falar de amor é tão fácil quando o coracão de concreto permanece gélido. Sentir amor é que gasta tempo, e mestria, exige rebolado e magia. Entre o cafezinho cheiroso, os biscoitinhos doces e risos e vozes roucas só lamentei o tempo que morri de trabalhar ou o tempo que gastei com pessoas que julgava meus amigos ... Pedi perdão pelas vezes que deixei de ver minha vó, toda pequenininha, brigando por mim. Ao invés disso decidi vê-la brigando comigo. Como ela é brava! Luta, argumenta, gesticula em defesa da troca do meu velho colchão como se fosse um grande ideal a ser defendido. Bravo! Eu poderia ter rido de muitas outras piadas do meu avô. Certamente meus avós são partes fundamentais de minhas delícias. E no fundo a gente sempre sabe disso, porque no final das contas é pra cá que eu sempre volto e me encho de paz. Eles têm tanta história para contar! Bom mesmo é esquecer. Como aquela boneca que um dia encontramos no canto do quarto e nos lembramos do quanto é bom brincar. É na perda, quando notamos que estamos sem chão e já não sabemos onde pisar que notamos o porquê de toda essa palhacada que é viver aqui. A saudade é a maior arma da vida contra o egoísmo humano. Eu gosto de ser chamada de "fia", e de ter a barriga doendo de tanto dar risada enquanto caminho com minha vó. Bom mesmo é esquecer, mas para se lembrar depois e antes que a estupidez se torne parte do nosso caráter. Por que sou louca de amor por essas pessoas desde pequenininha? Ah, devem ser as rugas.



P.S.: Desculpem pela falta de cedilhas, coisas de teclado.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Carta ao Cazuza III


Amigo Cazuza,
Nos meus tempos existe uma música que você iria amar deslizá-la em sua língua presa. Canta um verso que "eu sou uma galeria de corações partidos." Eu espero sinceramente que daí do alto, de fora ou onde quer que você esteja alguma coisa faça sentido. Com quantos corações na sua galeria, você partiu? Quantos corações mais eu terei de partir até o fim dessa dolorosa existência? E por mais quantas vezes eu terei de ser forte, ou fraca demais a ponto de me recompor, me desmoronar e fazer outros corações dentro de mim mesma? Eu só liguei mesmo para falar que estava com saudade, não precisava dizer mais nada, só que estava com saudade. Acho que foi isso mesmo que levaram meus dedos ao teclado, mas sabe da força das palavras? é claro que sabe, você fez o caos com elas. A grande força das palavras me fez engolir toda grande saudade que não cabia em mim. Deve ser entendimento de fraqueza, sufoco de orgulho que nos leva a negar verdades vomitadas, explícitas. Dizer não a quem sabe muito bem a quantas andam a alma que vaga. E eu só queria dizer que estava com saudade. Nãos. Mas às vezes não importa o quanto você ou os caminhos mudem ou quantos séculos se passem. Alguns venenos não mudam, são nocivos, corrosivos, necessários. Algumas flores plantadas sempre serão colhidas com amarguras. Parecem juras, que adivinhem só, se realizam, perpetuam-se. Ser o doce pecado de alguém vai ser sempre a dor de ser doce e pecado de alguém. Parece que a eternidade nos ouviu naquele quarto. A voz do outro lado vem e vem de novo com a crueldade mansa do texto (já esperado,decorado) e você que ouve o mesmo desenrolar de letras, sangra-se quantas vezes mais o ritual repetir-se. São venenos nocivos e perpétuos, com poder concedido pelo universo e mistério indecifrável. Por exemplo... qual é o significado dessas coisas que apesar do quanto você ou as coisas mudem ou quantos séculos passem ainda lhe matam em mansas porções? Amor não sei se dura daqui até a eternidade. mas dor, é o cativar eternizado,. Insônia. Angústia. saudade. Eu sabia que tinha algo errado. e se você disser que não, eu vou dizer que te vejo equilibrando-se no talvez, cá e lá, sim e não. E se você disser que não, outra vez, eu vou achar graça porque no fundo a gente sabe que se sabe muito bem.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

00:00 às 06:00.


Você percebeu o quanto somos maiores? As árvores crescem para sobreviver ao ritmo da vida. O tempo gasto no cultivo de um brotinho nunca é perder. Se você contar sua vida, vai perceber que pouquíssimos permanecem. E olha, as decepções podem lhe arrancar despedidas dolorosas eternamente. Mas elas são poquíssimas comparadas áquelas despedidas que às vezes nem nos damos conta do adeus. As pessoas vêm e vão, e a vida dita o ritmo. E puxa! Às vezes a gente nem percebe. Você não sente que você poderia ter feito mais? Eu sempre acho que se mais amor fosse dado, mais força contra a história meus queridos teriam para permanecer. Talvez tivessem ficado cinco, como os dedos da minha mão. Permanecer. Pode ser que olhar pela lente de doze meses, seis meses seguintes pareçam fáceis. Mas é que eu não me acostumo em não lhe ver por muitas horas, meus olhos escorrem sempre, você sabe, num mimo só. Por isso fica combinado que eu cuido daqui e você cuida daí. E se o futuro chegar antes da gente, inventamos outro futuro. Mas outro futuro nosso. Como o jardim suspenso. O desafio é estarmos juntos sem seus olhos nos meus por um tempo maior, como é agora. Mas eu te peço para não desistir, pode contar com minha prece. Vou cuidar para a saudade não ser tão maior que um-metro-e-sessenta-e-sete-centímetros a ponto de me fazer esquecer. Ey, não se esqueça de mim. De hoje. Sabe o que é mais engraçado? Agora eu não tenho medo. Eu tenho coragem para te carregar nas costas quando a madrugada acabar e não desistir nunca de lhe arrancar o sorriso pelo qual me apaixonei. Amar também pdoe ser isso, ter seu corpo tatuado na minha espera. Eu vou estar aqui com um motivo entre os dentes que não lhe faça desistir dos meus beijos. pra velar seu sono, seu cansaço. Pernas são estradas.

domingo, 11 de julho de 2010

"Encontro e perda ao mesmo tempo, eu não vou parar..."


Daqui a sete dias eu completo 19 anos. É estranho neh? Do nada você pensa que... Porra, já têm 19 anos vezes 365 dias, e você não fez grande coisa nesse tempo todo. Meus amigos se sentem muito diferentes com 19. E é claro que é, a gente percebe que cresceu mesmo. É a tênue linha entre adolescência e idade adulta. Tênue e desagradável. Doem mais os corações partidos e as pessoas que já se foram. Como disse Ana, são contas de banco, e correspondências chegando com seu nome... e o Ruan, passou o aniversário trabalhando, e a Jéssica passou o dia internada num hospital. Acho irônico, era pra ser nosso dia. E acaba sendo mais um dia racional. Uma vez assisti a uma reportagem que falava sobre as mudanças que ocorrem nos nossos olhos em relação à interpretação das cores com o passar dos anos. As crianças enxergam as cores num tom mais azulado, é claro que fica tudo mais vivo, como um céu de verão e praia. Na idade adulta, enxergamos as coisas em tons esverdeados, se não percebeu é quando as coisas começam a desbotar. E na velhice... Deus, na velhice as coisas ficam amarronzadas.... Acho que a visão é o reflexo de dentro. Então, fazer 19 anos é isso. Enxergar as cores e a vida, e as cores da vida mais esverdeadas. É realmente quando as coisas, insuportavelmente desbotam-se ladeira a baixo. E é claro que tudo fica bem mais estranho que antes. Eu, por exemplo, morria de medo de virar de ponta cabeça. Agora, é a única coisa que me alivia e me faz sentir um pouco melhor. O máximo que pode acontecer é eu não poder, daqui alguns anos, enxergar as coisas em tons amarronzados. E nem se usa mais bolo de aniversário.

sábado, 3 de julho de 2010

Liquefação.


E de repente as lágrimas costuram os cílios e tricotam uma cortina à prova de desumanidades. Quando chovem os olhos, as luzes da cidade esticam-se aqui e aculá e tranformam-se em estrelas. Estar extra-terrestre deve ser assim, as estrelas passam a iluminar o silêncio blindado de dentro. Se a gente habita o espaço fora de todos os mundos, o vácuo passa a ser nosso lugar. Lá é mais complicado topar com uns e outros. As lágrimas têm o poder telepático de transportar para onde precisa-se buscar a paz. O mundo das estrelas sem voz faz brotar todo descanço para a estranheza desse mundo. Eu não me importaria de passar umas férias por lá.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

No meu coração você sempre vai estar.



Não tenha medo
pare de chorar,
me dê a mão,
venha cá
Vou proteger-te de todo mal, não há razão pra chorar
No seu olhar,
eu posso ver,
a força pra lutar
e pra vencer
O amor nos une, para sempre,

não há razão pra chorar

Pois no meu coração,
você vai sempre estar
O meu amor, contigo vai seguir
No meu coração, aonde quer que eu vá
Você vai sempre estar, aqui

Por que não podem ver o nosso amor?
Por que o medo por que a dor?
Se as diferenças não nos separam
Ninguém vai nos separar.

E no meu coração, você vai sempre estar
O meu amor, contigo

vai seguir

Não deixe ninguém,
tentar lhe mostrar
Que o nosso amor não vai durar
Eles vão ver, eu sei...
Pois quando o destino,
vem nos chamar
(vem nos chamar)
Até separados é preciso lutar
Eles vão ver, eu sei...
Nós vamos provar que...

No meu coração,
eu sei você vai
sempre estar
Eu juro que o meu amor, contigo vai seguir
No meu coração
(dentro do meu coração),
aonde quer que eu vá
Você vai sempre estar, aqui... Aqui... Para sempre...
Meu amor, vai contigo, sempre contigo...

Basta fechar os olhos
É só fechar os olhos
Quando fechar olhos
Vou estar... Aqui...!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Dejavú.


A bailarina dança como se fosse despencar
Levanta-se sobre pontas nômades entre sorrisos pláticos e orgânicos...
São tantos corpos que estão no palco, e são platéia...


Dançam por quê?

Se acompanhar a música, é questão de querer?


Quando plástico vira pano de fundo, pilar de apoio, des-bo-ta-men-to

Quando orgânico, almático, espiritual, cutuca a platéia à distância...


Que coragem a da bailarina!

De se jogar sem cascas à frente de olhos famintos... olhos humanos... imperdoáveis.
Sorrisos irônicos... sádicos... sorrisos humanos.

E quando a bailarina tropeça, a orquestra continua
Deve erguer-se novamente, rápida...
Sapateando num sorriso machucado, o espetáculo continua, a-tro-pe-la-do

Bailarinas também falham
E o instrumento mais antigo e perfeito
tem de se reafinar na alma.

Que trabalheira, amada bailarina!
Tranformar-se na música de outro
Tranformar a música de outro em si

Que audácia bailarina!
De poder colher aplausos ou vaias...
dançando o corpo, que para tantos é vergonha...


E não desistir... até outras temporadas....

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Encantamento.


O mundo girava em torno das velas. E as sombras, não eram escuridão, eram frutos da luz que brincava de alma. Almas que se projetavam e se encontravam além de um corpo dentro de mim. E então minha alma se sentiu completa, à noite, eu fui sua primeira vez. Beijaram-se na sede de um amor que vai além. O amor exigiu passagem na história, e tantas vezes teve de rasgar estreitamentos. Cansado, contudo com uma força inquestionável, achou descanço na paciência abrigada pela tua pequenez. Aqueles olhos brilhavam alaranjados, iluminados, pela paz que inundou o mundo em torno de Amélie naquela noite. E a contradição veio apresentar a paz que vem do fogo, escondendo-se atrás de uma dança colada entre dois corações quentes e fortes sobre saltos. E então a mágica não teve de ser inventada. Amélie, que fazia discos em panquecas, foi presenteada pela surpresa de um disco negro raro. Descalça, viu que não era a plataforma das sandálias que a levavam ao céu, era na verdade a magia que aconteceu sem pedir licença. Simplesmente aconteceu, com sua liberdade de ser. Foi beleza. E o que era brotinho, virou incondicional.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O equilíbrio de Buda.

... observo o preceito de abster-me de destruir os seres vivos.



... observo o preceito de abster-me de tomar o que não me for dado.


... observo o preceito de abster-me da palavra falsa.



... observo o preceito de abster-me dos vícios que perturbam a mente.





Paz e flores.

sábado, 5 de junho de 2010

La pasta, que plasta, não passa.


Ontem à noite no jantar travei uma briga com o namorado da minha mãe - mesmo que essa guerra aconteça dentro de mim. Eu estava embriagada de vinho, e parece que algumas pessoas têm o dom de nos atacar quando estamos mais vulneráveis. E de repente ele me pergunta:
- Não existe nenhuma religião em especial que você segue?
- Não.
- Por que não?
- Tive muita decepção quando fazia parte, e assim seguiu-se com as que eu conheci depois.
- Mas isso tem em todo lugar. Você tem é que fazer sua parte e pronto.

... eu explodindo, e com tpm.
- Não, comigo não é assim. Fazer minha parte nesse caso é o mesmo que fazer-se de cego diante de tanta hipocrisia que eu vi diante dos meus olhos. É não lutar pelo que eu acredito ser justiça e verdade. É ser mais um acomodado, que só sabe olhar para o próprio umbigo. Eu não concordo. Eu não vou fazer parte. Eu tenho que ser responsável pelo que eu vivo. Deus vai comigo por toda parte. Ele não é um lugar. falo com ele mais de três vezes por dia.

- Também não precisa tanto. Podem ser só duas vezes.

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! Primeiro quero dizer que das decepções que eu passei só eu sei, só eu sei do que me fez sair da convivência de um lugar que eu tanto amava. Segundo: entendo que alguém tão ligado a coisas materiais só consiga encontrar Deus num templo ou numa religião cheia de regras, afinal, está tudo no mesmo campo mesmo de ver e ter parar crer. Terceiro, não concordo com esse tipo de comportamento e não espero nenhum tipo de compaixão de alguém com essa índole. E por último, eu falo com Deus quantas vezes eu quiser, porque não o faço por obrigação.
Decepção? Não. Já é sabido. Conclusão? Talvez viver junto a uma oposição possa causar uma onda destrutiva. E daí? O não.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Minhas mulheres (eu também).




Sou da tribo dos pés descalços e sujos, que encardem as sandálias claras no formato exato dos dedinhos quase iguais, mas que são únicos e mesmo assim se completam como peças perfeitas. Sou da tribo do sal de frutas que cura a barriga grande depois de uma noitada de massas embriagada de vinho docinho, amor dançante e músicas que cantadas em coro dão a certeza de que nos pertencemos. Sou da tribo do sol nos seios de fora e das tpms estrondosas que dividem a casa em três partes, e depois de quatro dias reafirma seu chão como se fosse o primeiro dia de amor de nossas vidas.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Alaranjidade Zaratustreando.





















"Este é meu bem que amo, só assim me agrada me agrada inteiramente, só assim é que quero o bem! Não o quero como mandamento divino, nem como uma lei e uma necessidade do homem. Que não me apareça como guia de caminhos para regiões supraterrestres e paraísos! O que eu amo é uma virtude terrena, pouca prudência há nela e também não possui muito da razão universal. Esse pássaro , porém, construiu seu ninho em mim. Por isso o amo e o aperto em meu peito. Agora incuba em mim seus ovos de ouro."

(Friedrich Wilhelm Nietzsche)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quase extra Via-Láctea, numa perspectiva quase cósmica.


O Nietzsche pediu pro meu corpo perguntar a quantas anda minha alma. Ela me respondeu com voz cansada, meio rouca, meio baixa, mas no tanto deslize e machucado a sua voz tinha um rastro de esperança de que algum dia as coisas ainda vão ser muito melhores, uma esperança que ainda resta, como a última coisa que morre quase intacta, escondida e de tão funda, como a profundidade de toda essa dor quase indestrutível. Minha alma quer descanço, quer colo, quer aconchego, quer voltar pracasa de dentro, porque ser nômade desacompanhado pelo coração é agonia demais para quem quer contornar o mundo com os pés. Tem de se estar inteiro, pra se dar por inteiro. Minha alma quer que meu corpo vomite, e meu corpo, numa prova de amor incondicional diz não, um não que só quem ama é capaz de dizer quando o sim causaria tanto mal a quem se ama. Minha alma quer matar tanta saudade, ir a tanta cidade, abraçar tanta árvore. Minha alma quer dormir com o corpo, fechar os olhos e quando raiar um novo dia, olhar os mundos com os olhos cheios de amor. Minha alma quer acreditar que às vezes um ponto final é a melhor maneira de terminar um texto. Ela quer um esparadrapo gigante para restaurar o corpo que lhe serve de templo, de marcador de tempo e de transporte nas distâncias. Ela quer um rolo compressor grotesco, que esmague todas as invejas e más línguas que lhe cansam. Quer absorver os filmes, os livros, as peças que fazem par com a solidão. Quer voltar a encontrar ajuda e sentido em todos os clichés e filtros-solares e empirismos. Quer ficar meio zein, um tanto desligada, um tanto desimportantada, despreocupada, sem mais satisfações. Quer tirar da chuva ou da insolação o peso de ser "porém" e "se" e transformá-los em cenário pelo seu passeio pelo mundo. Quer andar pelo mundo como quem passeia e até acha nas pessoas algo de interessante. Quer aprender a dormir tarde, acordar cedo ou nem dormir, porque afinal já amamos o insônia nessa mesma madrugada. Minh'alma quer os ombros menos contraídos, como se não fosse preciso esforço para que o corpo mantivesse os pesos de pé. Quer um pescoço com menos dor, uns olhos menos inchados e músculos menos febris. Quer tirar férias dessa coisa de ter que nadar um milhão de quilômetros diariamente contra a força das correntezas de um mundo grande e pesado que só sabe torcer contra. Quer parar de correr uma maratona por segundo na ânsia de provar a quem nunca lhe teve fé, sobre seu caráter, tentando provar arras-tan-do quem se é afinal. Quer acreditar que se as pessoas tiverem de ficar juntas não há nada que vai impedir, e que o amor é bem mais forte que a espera, mas essa fé só é possível se o término um dia terminar afinal e virar um recomeço de duas partes. Quer a paz que só os "meus" proporcionam, por me saberam como sou, por saberem meu amor, sem desconfiança, como frutos das sementes que plantei. E se possível quer que a pessoa que gastou comigo alguns tantos meses tanha duvidado no começo do meu amor, mas que no fim tenha certeza absoluta de sua grandeza. E que meu amor possa amar-me só com um meu poderia me amar, na certeza de que eu fui verdade e de que juntas fizemos uma bela verdade que eu sentir saudade e que os dias ficarão muito muito longos e que os outros, que são só os outros, estavam errados o tempo todo. Quer não morrer quando tocar a cama, a beirinha ao lado do corpo que adormece, e perceber que a cama, depois de tanto tempo, está esfriando...

domingo, 23 de maio de 2010

"Por que os ossos doem quando a gente dorme?"






Não bastava amar a solicitude, uma hora haveria de se sentir sozinha mesmo acompanhada, e com isso sofrer. Sofrer muito. É no mínimo estranho, para não dizer o quanto estou triste. Sinto calafrios, cólicas no estômago, os olhos não param de chorar e meus ouvidos ouvem como quem tem a cabeça dentro de um aquário. Longe, longe... Fico buscando de quem é a culpa, pra ver se fica mais fácil encontrar a saída. Tenho acordada apavorada com a separação. As boas lembranças superam as forças dos argumentos que nos fizeram sair. e agora elas fazem cócegas nos meus sonhos de travesseiro, e passam como fotografias de moinho a todo instante que fecho os olhos. Elas são as piores. A dor de um dia de sol que nos fez sorrir, m que nos sabemos de cór, supera a ferida de tudo que já choramos. Se dar conta de que o tempo passou, e que já faz tempo demais para fazermos alguma coisa, tipo, me mata aos pouquinhos. Os dias têm sido para velar e sepultar tudo que já foi definitivamente perdido. Agora entendo a dor de quem perdeu a casa numa catástrofe. Quem perde a casa, perde a casa de dentro, e perde a casa de fora, e perde as casas que construiu dentro dos outros. Hoje eu não encho mais a casa de alegria. E talvez a culpa seja minha, porque me sinto uma entrusa dentro do meu lar. Não caibo no meu quarto. Me arrasto. Eu achei que eu tinha aceitado bem. Mas é que a mente da gente bloqueia certas coisas para depois soltar um avalanche e detonar corpo e alma. Divórcio deveria ser classificado como catástrofe e todos os sonhos que ele destrói, tratado como crime digno de pena de morte. pensa bem? Divórcio está condenado à pena de morte e deixará de existir depois de uma injeção ou de uma cadeira elétrica. No meu caso, foram assassinados dezesseis anos de vida, e agora tenho de sepultá-los, superá-los e ainda ser feliz plenamente em... três anos? Não sou de ferro não, meu Deus. Nada daquilo existe mais. Nada daquilo se repetirá. Os católicos acreditam na trindade como uma unidade indestrutível, inseparável. No começo foi fácil ser três forças que se encostam para não se desequilibrar. Afinal, deixamos a dor para sorrir de novo, três vezes e três bocas mais. Mas o problema é depois que a raiva passa. Sobra o amor. E cada um a seu tempo vai descobrindo que depois que um cristal de quebra sobram os cacos. e do caco que restamos vamos virando pó. Um pó cinza, de matéria orgânica incendiada e destruída. Sem fé, sem vida. E esse é meu tempo de perceber. Não tenho mais raiva, tenho é muito amor. E a dor de um amor impossível, sangra. Vou multiplicando então, essa dor por 4, afinal eu também entrei na dança. talvez a saída seja mesmo sair, quando não se sabe o que fazer. E talvez essas lágrimas sejam o preço ou o único alívio para uma maturidade precoce que demonstrei... e a fragilidade, nessa maior idade, seja ridícula ao conjunto de seus olhos.

sábado, 22 de maio de 2010

Monólogo com quem dialoga.




"- Ele...veio? Elequioquê? -Ele... Elec... Electri... -Electricidade!"
- Oi moço! Tá sentindo?
- Sentindo o quê? Um abraço?
- Não! Além do abraço, bem ali no oco de dentro... viu?

- Hã? Onde menina? Que coco? Tá oco?

- Hã? Não!!! Coco não! Nem o Coco gato, nem o outro. Vazio. Oco. Eco no poço.Que de tão vazio nem cabe acompanhá-lo de outra palavra, a não ser: Vazio.

- Eco? Eco! Que vômito!

- Fede néh? Mas antes cheirava. Era doce. Sabe pirulito, algodão doce, essas coisas? Mas tem que ser colorido pra ser mais cheiroso.

- Sei. Pelo que eu vejo agora é de duvidar. Cuidado! se não você cai! Agora cheira é lágrima com vômito. Só o cheiro que eu sinto, dái acredito. O tal do vazio? Vejo não. Não tô aí dentro! Aliás, quem é você mesmo?

- É cheiro de amor. Parece o nome daquela banda neh? Sei quem eu sou não, oras!
-
Sabe sim. Espia mais de perto. Bem aqui, óh!

- Quero olhar não moço! Tá de tarde. Tá salgado. E eu gosto de .... AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!

- Viu?
- Vi?
- Quem é essa?
- Eu.
- E quem é "eu"?
- Não sei!

- Mas você já foi você antes?

- Já! Tenho até história, e passado! Mas passado chama passado porque passou. Eu passei. daí o hoje é presente. E Me ganhei de presente no presente. Mas, ôxi. É diferente demais do passado. Ainda nem abri a caixa. E agora mesmo ele já vai virando o que passou. E eu ainda nem abri a caixa. Preciso de uma casa e de um roteiro pra isso.

- Cê vai cair filha! Roteiro? Você sabe onde quer chegar?
- Mas que porra! ( desculpe-me os modos) Mas eu já tô caindo, não vê? Já pulei faz tempo! E isso aqui não acaba. Ainda bem, porque a gente esbarra numas coisas, rala ali e acolá, mas a vista é tão bonita que dá gosto. A gente voa?
- Você quer voltar a ser o ser de antes?
- Eu disse isso?Éh, tenho mesmo de tratar a memória. Nunca quis tanto não querer isso. Quero não. Quero esse presente aí mesmo. Quem sabe tem futuro junto dele?

- Então o que você quer afinal?
- E eu sei? Tô sem fé. Como examinar isso tudo se não acredito em nada?

- Nem nos olhos?
- Muito menos. São os que mais se enganam. Já me chamaram ponto de luz, áurea forte, coelho...
- Coelho... Te lembra essa história de vocês e do que ela te mostrou!
- Neh. Moço?
- pois não?

- tem como você trocar meu "eu", por outro eu? Tava querendo um com o coração novinho, que não tema pisar em montanhas russas, e que não tema a segurança dos cintos de segurança das montanhas russas e que nas viradas ponta-cabeça e nas descidas não deixe o chocolate cair... sabe?

- Ih mas tem não! Nesno você achando que não abriu a caixa, ela já lhe pertence. Você pode transformar seu eu (mágico) num eu que você queira se tornar. Agora aguente pois só há você aí dentro! Não esqueça de reconhecer os outros sozinhos que lhe trazem a paz e as flores necessárias para lhe ajudar a não vomitar quando seu eu estiver te enjoando. Quando você estiver cansado de ser você, pense bem... Até que você parece um coelho!
- Éh, e a imagem dos olhos vermelhos é sempre a última coisa que fica.


Reticências.

domingo, 16 de maio de 2010

Desse jeito eu gosto de contar.


Dez meses é muito tempo neh? E todo tempo grande faz as coisas ficarem grandes também. E hoje eu te amo dez meses mais que antes.

domingo, 9 de maio de 2010

Às fotografias que não estão mais no meu mural.


Pessoas são como estrelas. Existem as galáxias que se encontram. Quando as galáxias se encontram, as estrelas se encaixam, como se se fundissem... mas na verdade cada uma continua a ser como sempre fora antes: uma estrela que apesar do encontro com outra estrela, no fim só ela que sobra, só ela continua consigo mesma. Mas isso é para quem olha de fora, porque para as estrelas que vivem a completude, pensam sempre que a fusão realmente aconteceu. As estrelas acreditam na eternidade, e dentro do grande laço onde estão juntas, nada parece nunca passar. O final que é uma ilusão, e não o presente. Mas o que será que determina esse quando, esse onde, esse qual de se encontrar, de se mostrar no outro, de se sentir à vontade na presença de alguém diferente? Tem gente que diz que é destino. Não sei. Acho que a fase de cada estrela esculpe um tipo de peça, e aí a estrela vai viajando, além e além até encontrar uma peça esculpida que se coloque muito bem na sua forma. E daí o encaixe, como imã ou algo assim. Essa atração, esse pertencer. Não deixa de ser um destino. Um fruto da aleatoriedade. E as estrelas que se tocam não enxergam nada além. É como se o universo fosse uma bolha protegida, e dái as estrelas se amam como se não houvesse perigo e nem medo. Mas o encontro não foi coisa de destino? Pois é. Assim também ocorre o desencaixar. Eu não sei porque. É tudo tão mistério. Mas parece que a gente é moldado de novo, e dessa vez nossa peça não encaixa na estrelinha de antes. Nem por isso a gente deixa de ser estrela, mas é que a gente vai ficando maior ou menor demais pra caber na galáxia de outro alguém. O que passa a desencaixar são os caminhos que mudamos. É que mudamos para caminhos diferentes. Cada vez que uma estrela apaga, deixa um buraquinho no céu. Daí talvez a gente encontre a estrelinha dona do buraco por aí e tente encaixá-la de novo no seu devido lugar, mas a borda do céu não abriga perfeitamente mais a peça. Roçá-la no desencaixe, permanecer na tentativa, ranca tinta do céu. Céu é meu coração. Um coração descascado, sabe como é. Essa coisa de machucado e cicatriz. Uma vez eu vi uma estrela morrendo. Ela foi mudando de cor, foi magnífico. Era uma estrela multicolorida, que se não fosse pelo apagão repentino após o espetáculo eu jamais iria chamar aquilo de morte. Porque a beleza era gigante! Dessas de deixar a gente boquiaberta. Tenho certeza que nem toda estrela que morre, que parte deixa uma despedida bonita. Lamentei depois de vê-la morrer, por não mais poder vê-la tão bela. Mas sabe que eu não fiquei decepcionada? Porque essa foi uma estrela que chegou com beleza e morreu com beleza, sutileza, cheia de amor. E amor por mais que vá para outra galáxia sempre deixa o gostoso na boca. Eu também já fui estrela. Agora escrevo isso aqui para outras estrelas, que colocaram anéis nos meus dedos e éramos tão amigas que parecíamos irmãs. Insitir no brilho que se foi, só pela saudade tem sido um erro, porque aí eu deixo de ver toda maravilha de brilho das estrelas que tentam se encaixar em mim agora. A dor de uma estrela chamada amizade deixa na gente o pavor do toque, de ser tocada novamente, do abraço espontâneo. Mas as estrelas elas são assim, dão tchau e quando não morrem belas e roxa e rosa e amarela e azul...Desabotoam-se. E vão ficando longe, longe, longe....

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ao preconceito, a música.


When you try your best but you don't succeed

When you get what you want but not what you need...


If we crawl'

Till we can walk again

Then we'll run

Until we're strong enough to jump
Then we'll fly...


Fuck you very, very much

Cause your words don't translate...


Se matar adiantasse. Se o assassinato fosse o remédio para a falta de valores, virtudes e caráter humano... Se todos os problemas da lastimável condição de nossa sociedade fossem questão de tiro, pena de morte e ponto final... Quem sabe Hitler não estivesse tão errado assim, não é mesmo? Agora não me venha com essa hipocrisia de um rosto assustado nas aulas de história ou nos filmes, depois de saber dessa coisa toda de judeus e holocausto e guerra... Falsas penas não refazem a história, o que você faz da sua vida é que constrói uma história diferente. Já começou a desenhar seu bidoginho tirano? Engraçado é a falsa-cristandade e ética que te esconde. Já viu que sua primeira alternativa de salvação à humanidade é tirar a vida de quem tantas vezes chegou muito mais perto que você do que chama-se amor, caráter e verdade? Se você soubesse da dor que suas palavras, seus olhares, seus gestos e suas leis causam em mim, em minha família, nos meus amigos... Se você soubesse que você roubou toda minha alegria com seu ar pesado... e agora, quem é mesmo o criminoso? Há tanta mancha nessa sua túnica de moralidade intacta... vim aqui falar que você tirou minha vida, e assim arrancou a graça da vida dos meus queridos também. Isso é assassinato. E que crime mesmo cometi? Fico imaginando quantas penas de morte seriam justas para punir todos os sonhos que você despedaçou ou todas as vezes que você me deixou apavorado de tanto medo ou por todas as vezes que você me roubou o direito de ver a luz do sol num belo passeio por essa pátria que também é minha, sabia? As lágrimas? Elas secam com o tempo, você acabou endurecendo minha fé. Meu olhar é de uma tristeza tão profunda... Vim também agradecer a Deus pelos risos que dou quando você não está presente, que são muito mais livres, muito mais de coração do que os risos que você solta quando faz de mim uma piada. Vai virando... vai virando esse canhão, esse cano de révolver que o teu alvo está errado. Mira primeiro ali, na criatura que você vê no espelho.


P.S.: Esse texto é dedicado á África. Na verdade aos homossexuais que sofrem com o preconceito e a possibilidade de serem caçados, isolados e mortos a cada nascer do sol devido às leis de seus países. Esse é um apelo aos direitos humanos, um desejo imenso de vida... e que lutemos todos pelos respeito ao outro porque a África, meus irmãos, também é Brasil.
Paz e flores.


sexta-feira, 23 de abril de 2010

Foto roubada.


- Você não faz modificações, você faz sacrifícios.

Fica claro que minha roleta russa está girando, mais uma vez... e por que não? às vezes é bom compartilhar confusão, passar isso para frente, repartir o tijolo nos ombros... Em plena escassez de ombros de gigantes. Existem coisas que passam despercebidas por nós grande parte do tempo, nunca paramos realmente para prestar atenção em tudo. Aí num momento desavisado você tropeça nessas invisibilidades, e como se nunca tivessem cruzado os caminhos, se olham pela primeira vez. É bifurcação à promeora vista, a partir daí pode ser perturbação ou serendipity. Foi assim com a palavra cativar, com o afeto, com os espirais, e outras tantas. E hoje é assim com "modificações e sacrifícios". Depois de oscilar entre o sentimento de "a-merda-que-nunca-faz-nada" e "a-que-tudo-faz-e-nenhuma-merda-é-reconhecida" decidi estudar meu caso. Silêncio é bom quando sinaliza a calma, não quando é o único contra-argumento que a ignorância deixa de alternativa.
Sabe que eu acho que o sentido da vida, pelo menos o da minha vida, é tentar fazer as coisas mais difíceis ( sendo difíceis pela bondade que creditam, e irem então contra a natureza humana) a fim de buscar no final das contas ser excessão, luz que propaga o bem.

Sobre sacrifício:
O dicionário me conta que é "privação; renúncia a favor de outrem; desprezar uma coisa para dar mais destaque a outra; dedicar-se com ardor(paixão). A bíblia conta que o sacrifício mais agradável a Deus é a reconcialiação com o outro, o perdão. O Evangelho de Kardec afirma que há grande mérito quando o sacrifício abjetiva o bem do próximo, mas que as privações não devem martirizar o corpo, enfraquecê-lo sem necessidade, podendo ser um verdadeiro suicídio.

À medida que a gente cresce, a fé vai encolhendo. Manter-se de pé é cada vez mais complicado. Não falo apenas ficar em pé, mas estando de pé e não vivendo em vão. Persistir com o peso do mundo nas costas insistindo em te fazer desistir. Construímos nossas crenças em devoção, admiração e esperança na raça humana, afinal grande parte de nossas emoções e momentos acontecem graças aos nossos companheiros de jornada. O cenário para desenvoltura do enredo individual escrito no coletico é a magnífica natureza. O homem é a base da fé, a paisagem ao redor é o que os homens com fé em homens contemplam. Só que chega certo ponto que você perde a casca protetora da infância e vomitado no mundo, tem suas crenças despedaçados pelos próprios objetos crentes: os homens. No fim você percebe que é tudo uma ilusão, mas no caminho até o fim machuca-se bastante. E agora, o que fazer? Tranferir a fé para o que antes era chamado de cenário? Crescer não é fácil, e a minha prece-de-cada-dia suplica ao Cara que não me deixa padecer carregando um coração duro, apático e arredio.

Aos meus dezenove anos estou doendo todos os músculos e pensar que ainda existem muitos anos para calçar a humanidade às vezes me desperta um certo desespero... é que são gestos, palavras, olhares me cortando em pedacinhos cada vez menores. Mas ainda assim eu não quero desistirdo amor, do nosso amor, do que eu acho essencial, da minha família... eu não posso desistir. Nadar contra essa maré de desilusões fica mesmo cada dia mais desgastante, mas é na dificuldade de perdoar que eu encontro forças para não viver uma vida em vão. Meu maior sacrifício é perdoar o que eu vejo no espelho, o que eu vejo no retrovisor do carro, ou o que eu vejo nas minhas fotografias ou o que eu vejo na televisão... É que é minha última esperança, entende? A última labareda de fé que tira o desespero de cena, nem que a fé precise ser depositada no cenário de vez em quando... Fácil nunca foi, mas é agradável a Deus.
É aqui que entram as modificações. modificar-se é "transformar a forma ou o modo de ser; alterar; acrescentar novo valor, idéia, noção, especificação..." é aqui que você erra. Modificar-se é o que eu escrevo a partir de todo sacrifício que faço. Não há como fazer sacrifício sem modificar-se. Pois o sacrifício é uma escolha, que faz abrir mão de outra escolha... modificação é o desfecho do sacrifício. O caminho alternativo ao sacrifício é a paciência. E eu? Meu bem eu tenho gastrite nervosa e crônica, sou inquieta, não suporto o ócio... O sacrifício é meu único meio de não desistir de mim e lutar pelos meus ideais.
Não me condene! Se eu amputo e no fim fico sempre cansada, e os meus são obrigados a me suportar.... Mas é para o descanço que existem as mais lindas cachoeiras sabe?
É que eu acho que o amor vale a pena e a economia de alma nunca foi um desenvolvimento sustentável. Em cada pouso quero qie você descanse comigo, aliás deitar-me em teu peito já me faz muito descançar.
Acho que você queria falar na verdade é sobre amor-próprio. Esse eu não ignoro, mas passo indiferente. Esse é meu erro de martirizar meu corpo sem necessidade. Acho que preciso de férias maiores.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Louca.


A sede cresce deserticamente com a agonia do tempo que passa. Eu era um cativeiro, e seus dentes, e poros, e lábios, e saliva eram toda liberdade que eu sentia falta na prisão. É como se te beber tivesse toda enzima exata que minha língua tem urgência de sentir. O primeiro gosto que eu quero sentir quando a luz tocar meus olhos, ou o último adeus que quero tocar na escuridão. E agora estar livremente presa...Amar é sempre uma contradição, essa confusão, essa inconstância totalmente apaixonada. São mais de dias a fio a beijar-te e afogar-me na sua boca, e morrendo afogada continuo a sentir sede e mais sede, uma sede de dois corpos desidratados, a sede do molhado que me afoga. Afogo-me nunca pelo excesso, afinal o encaixe cada vez mais perfeito de nossos lábios é ingrato demais para me satisfazer. Afogo-me na saudade. E assim querer mais e mais, e olhar para o relógio e para os lados, e até mesmo para você ao meu lado e mesmo assim sentir saudade de beijar-te efusivamente, ou calmamente. Mas é você entende? E de repente há de se chegar o dia em que beijei deliciosamente os mesmos lábios felizmente para sempre.

-"E sempre, e tanto..."

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O riso que traz a dorzinha empacotada.




Hoje estou com vontade de falar com um caracol, nada contra as outras criaturas... mas é que o caracol é coloido dessas cores que carregam a beleza pigmentada, que vem de longe... preciso dessas cores, nemque seja para me dar a impressão de que ainda existe gente feliz em outro lugar. Esse negócio de carregar a casa nas costas é bem legal. Eu até seria um caracol se um caracol pidesse levar alguém consigo, nas suas jronadas. Já viu como a feiura é perigosa? Se isso te prende, corre o risco de cegar. Por isso cantar a beleza tem de ser em forte tom, de voz aberta e peito quente. É um milagre conseguir uma lanterninha que rasgue um pouco dessa escuridão. A casa de um caracol... hi-la-ri-an-te-men-te é um espiral. Só mesmo um caracol para encontrar abrigo num formato de furacão. Mas eu não sou caracol. E os espirais continuam aparecendo e eu não consigo achar nem a ponta do fim ou do começo dessa espiral maior chamado vida. Eita coisa difícil que é viver depois de grande! Seu expiral existencial é feito de quê? Pirulito cheio de voltas e cores e doçuras? Lençol macio, de uma cama geladinha de chuva? Mistura de tudo? O meu tem sabor de coquetel batido três vezes nas desilusões mais diversas. Nada vai se tornando o que a gente pensou que fosse. Pode ser "um museu de grandes novidades", mas ainda assim é estranho porque se repete algo que é triste, ou tudo que você acreditava que fosse e não é. É volta que não caba mais. Hoje encontrei-me com tudo que já chamei de "eu" e tudo que já chamei de "meu". Acho uma tristeza imensa as coisas passarem. O que mais me dói são os amigos que a gente diz tchau, de forma gratuita ou pagando um preço muito alto... o que dói são os sorrisos fotgrafados na memória, as feridas que alguns nos causaram, e a virgindade e a beleza roubada pela falsidade. Passeei meus dedos por palavras escritas e dedicadas à pessoas que já não existem nos meus moinhos, nas minhas confusões. Rasga o peito saber que de nada adinataria se o tempo voltasse, se eles voltassem ou se eu voltasse atrás. A confiança e o respeito quebram-se em pedaços impossíveis. Existem portas que se fecham com tamanha força que te impedem de levar certas coisas a sério. A porta que bate forte racha o portal e fica uma dificuldade danada de tantar abrir novamente a porta emperrada para novos mundos, novas pessoas. Às vezes sinto sede de amigos, de dar boas risadas... mas sabe a estrutura rachada? Sempre pensa que abrindo-se, os ventos fortes podem entrar depois da brisa e a porta bater e rasgar de novo o portal enfraquecido em mil linhas desordenadas. E talvez o portal um dia não suporte. Com certeza muitos não acreditam mais em mim. E o cansaço? É por isso que você pára de lutar tanto. Ser já é complicado demais. Insistir em ser, ter, crer o tempo todo é como disputar uma maratona por toda a vida. Cansa pra caramba! Por falar em cansaço, tento acietar Irmã Morte passando por aqui novamente, deixando uma promessa de descanço em troca das asas feridas do meu passarinho. Há de estar bem melhor agora, cheio de vida, voando alto. Pássaros t~em de voar alto, ficar em gaiola é uma tristeza. É como só existir. A morte é um sil~encio quente e impertinente. É caracol, arrastar-se não é fácil. Você se sente responsável pelas cores que lhe foram dadas? Cor é dom, para se espalhar. Eu vejo que tem mais gente cansada por aí. O mundo tá pesado. Mas o que eu não entendo é porque, se estamos todos sangrando, não dar as mãos para tentar estancar tudo que nos dói e nos torna desumanos? Essa armadura de ser humano é frágil-forte demais. Só mesmo um milagre para nos fazer abandoná-la, correndo o risco de morrer no campo de batalha, arriscando-se por um contato a mais com o outro além de mim. É foda levantar a cabeça sabendo que todos somos feitos da mesma matéria, da mesma desilusão e da mesma sacanagem. - Espelho, espelho meu.... dá para parar de mostrar esse mesmo rosto todo dia, antes que eu me vomite?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Us.






Hoje abri os olhos, e despois daquela morte meu corpo ainda doía. Mas havia alguma coisa diferente, o céu estava claro demais. Foi algo como se um cego, surpreendido por um milagre, enxergasse o mundo pela primeira vez. Imagino que deva ser assustador, de tão belo, de tão novo, pois foi assim que me senti. Me vi na pele do mesmo feto de sempre que sou, mas é tão bonito como as coisas acontecem pela primeira vez, ainda mais quando o milagre que lhe acalenta é o mesmo que você tanto desejou, oferecendo toda moléstia, toda alegria, todo caos e toda inércia. Depois da luz, tão clara e branca que ardia os olhos... depois da luz suguei seu cheiro. Não era um cheiro novo, porque você era tudo que eu tinha perdido e tudo que eu queria de volta, mas era como se fosse, novinho de primeiro dia. Era seu. Era o cheiro que toda noite me fazia dormir para te encontrar em sonho, era o cheiro que venceu distância, torcidas, nós mesmos. Vi lábios entreabertos, grossos, largos, expirando um ar quente repleto de vida... que me hipnotizava como um convite a um beijo lento e molhado... escrevendo contos em dentes que me fazem suplicar mordidas suaves, cheias de dor e carinho. Fui me perdendo numa sede desértica em tua saliva, tua língua, tua anatomia. Eu estava em êxtase. E eu que já era a garota dos shorts curtos, das cores escandalosas, das blusas camas das psicodelias mergulhei mais uma vez na sua imensidão entorpecente e me senti mais alucinada do que sempre. Me encontrei dentro de ti, e não havia contorsão, haviam dois corações, o meu e o seu, respirando iguais, pulsando freneticamente em perfeita sintonia. A sintonia tão perfeita que só dias almas tão opostas conseguem proporcionar. No canto, perto da boca, veio o charme em forma de pinta. Irresistível. Grudei em você. Um corpo que me mostra o relevo do mundo, silhuetas que imitam a mãe natureza, e dando um laço te consagra como filha. Ou será que é a Terra que lhe imita, e faz-se gigante por ser parte de sua alma e você mãe de tudo? Só pode ser um pouco mãe, pelo brilho nos olhos quando sonha e pelo colo encaixado que abriga minha cabeça, minha insegurança e meus suspiros. De olhos arregalados vi dois olhos puxadinhos que sempre me encantam por serem imensos e pela acrobacia de saber ser menina travessa e mulher, dessas que exalam perfume de dona. Sobrancelhas arqueadas e longas, olhos puxados e brilhantes, pinta, bochecha de cumplicidade, nariz arrebitadinho, testa de respeito, queixo de paixão e lábios, da "moça de sorriso aberto". E eu? Feliz. Inacreditávelmente feliz, depois de tudo. Mas Páscoa é ressurreição. Deitada nos edredons intermináveis, afogada nos beijos infinitos, colada na dança, devorada nas besteiras. Tudo delicioso. Eu não quero nunca te dizer tchau. Porque a melhor coisa do mundo é me cegar de novo e de novo e de novo atrás de seus cachos tampando minha visão. Caracóis do meu melhor amor, do meu melhor amigo.

domingo, 21 de março de 2010

" - Como todo namoro, é mais díficil quando acaba."




Tava conversando com o Caio, achei um tipo de oração de fim de namoro.
" Ah: fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada, e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicidios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em sua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas suas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele (...). Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com as pontas dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas suas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob seus olhos profundamente desencantados, sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro. Sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, assim quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que esta porta conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certza misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Só não saberás nunca que nesse exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Como um trapezista que só repara na ausência da rede após o salto lançado(...)"

Mais um de Caio Fernando Abreu.