domingo, 31 de janeiro de 2010

'Bhuta ia, Dewa ia'




Finalmente encontrei no emaranhado de palavras dos livros meus uma frase que sintetiza o que penso sobre as coisas de bem e mal: - Bhuta ia, Dewa ia. (...) O homem é um deus, o homem é um demônio. Sempre acreditei que o ser humano é a casa de Deus. Que seria inútil eu buscá-lo num bando de templos, quando eu ainda não o tivesse encontrado dentro de mim. Deis está no local mais íntimo e inexplorado do que chamo de eu. É como se por baixo de minhas entranhas, tecidos, vazio... existisse uma pedrinha muito bem escondida que tem como caminho uma exigente disciplina, desapego material, amor inciscriminado e ação para o bem estar alheio. Quando aingirmos esse local entramos em total contemplamento, sorrindo e nos aceitando com toda parte do corpo, amando e enxergando a beleza tanto no caos quanto na calmaria. Êxtase. Paz. Colo de mãe. Creio que esse Deus que criou os homens e nos livra do desespero diário de ter que suportar o tempo, mora dentro de cada homem e mulher. E é por ele que aquela mulher enfrentou o homem que iria estuprar a criancinha de 4 anos, ou por ele que o amigo pulou na água para salvar o desconhecido que estava afogando, ou a moça abraçou a amiga com o coração despedaçado de amor rompido... essa infinitude de compaixão, atruístas é bem verdade, contudo espontâneas é o homem deus atuando extremado. Por algumas vezes essa grandeza de um Deus pode cegar o homem. e assim, brincando de deis-que-tudo-controla ... o homem deus tornou-se Hitler achando que o mundo deveria ser mais puro, e a impureza estaria na figura dos judeus... O ser humano ao brincar com a natureza, esqueceu-se de um grande detalhe: a natureza, assim como ele, também é habitada por Deus. Esqueceu-se que o ser humano, contudo, além de er habitado pelo bem, também abriga o mal dentro de si, por isso torna-se finito, mortal, frágil. E a natureza, repleta somente do bem e da beleza da paz e do caos é infinita, imortal. Um terremoto mata milhares de homens. A natureza não só sobrevive a um terremoto, como torna-se ele mesmo. Então como o mesmo homem habitado por deus, que atua com bondade pode estuprar um bebê de oito meses, assassinar o companheiro da mesma espécie por conta de dez reais, arrancar a pele de esquilos vivos e os matar de dor por isso... desviar o dinheiro que seria para alimentar o pobre a fim de comprar um carro importado? Tenho certeza que esse homem não foi mau durante a vida toda, mas houve momentos de bem e de mal. Algumas religiões colocam a culpa em espíritos malignos, que vêm de fora e tomam posse do corpo de um ser humano, levando-o a fazer o mal. Nunca fui de acreditar muito nisso. Se Deus e Diabo são rivais, opostos de igual poder sobre nossas ações, então ambos deveriam pertencer a uma mesma dimensão, sendo atingidos por caminhos em direções opostas. O Cristianismo prega que Deus está dentro de nós, assim como religiões orientais. Mas entra em contradição quando canta "Vem,vem,vem...', inflamando os fiéis a chamarem algo que vem de fora para dentro. Daí, de repente, eles falam que os espíritos que nos tornam maus, estão do lado de fora de nós. E tudo fica muito confuso. O que eu estou chamando então? Essa mania de colocar culpa no outro é nossa maquiar nossa responsabilidade sobre os fatos que podemos controlar. E a herança desse costume é refletido nos nossos relacionamentos. Exustem acontecimentos inexplicáveis na vida, que não dependem de nós. E os sentimentos que isso tido desperta na gente é tão incontrolável quanto esses fatos, mas nossas atitudes... aquilo que fazemos como o que a vida faz de nós é totalmente de nosso controle. O 'capeta' é aquilo tudo que você vê no seu rosto e na sua consciência quando olha no espelho. E deus é tudo aquilo que você olha no espelho também. Antes de expulsar sei lá quem de você, que tal refletir sobre o que fazer para ser uma pessoa melhor? Acredito que todos os homens nascem com a vocação igualmente espaçada tanto para o bem, quanto para o mau. Essa instinitividade selvagem, num mundo sem leis estaria escancarada num espetáculo que eu não gostaria de pagar para ver. A crueldade humana cada dia me prega um susto maior, e a bondade também. Ambas podem ser grandes demais. É por isso que deixei de ser libertária extrema e me tornei a favor de rédeas... não sei até onde poderíamos chegar. tanto no bem, quanto no mal. Como é bom ser chamada de babaca quando, apesar da oportunidade de vingança, escolhe-se plantar uma semente de perdão e paz. Antes de mudar o mundo é preciso domar o mundo gigante de maldade e bondade que há em nós mesmos. Já somos muito complicados e o que há por fora são bilhões de mundos igualmente pesados, bons e maus quanto o seu. É mercadoria demais. Um pouco do caminho para chegar-se na pedrinha de Deus é passado pela educação que recebemos, pela religião que praticamos, pelas leis de onde vivemos, pelo amor de quem nos cuida e, por fim, pela digestão que você faz disso tudo que lhe é transmitido. Por isso minha amiga, não se assuste mais quando eu gritar: Eu sou o capeta!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Lightning bugs.




E se eu realmente me divertisse? E se eu realmente sorrisse? E se eu finalmente gostasse? E se eu me permitise errar por dois dias? Não me julgue. Não me condene. Não me destrua. Não me faça desistir. Fora do meu costume mora o erro. E se eu conseguisse me permitir?Talvez a felicidade esteja, seja no final de um erro, o final de um erro. Nessa estrada quero correr de braços bem abertos na batida dessa canção de primeira vez, acalentada pelo vento. Talvez essa seja a estrada da vida e eu uma gaivota acostumada que voa pelo céu de liberdade. Esse é o meu objetivo. Isso é o que me traz aqui. Sem culpa abro os braços e caio nos seus abraços que já foram meus, que foram levados e a vida me trouxe de volta. Você entende esse ciclo estranho? E essa sensação de bem-estar? E esse conforto de lar? Nós estamos realmente sorrindo. Isso merece um brinde de limão. Já reclamamos da chuva juntos. Mergulhamos nesse tédio em gotas. Agora molhamos nessa mesma chuva, de mãos dadas, em gotas de contentamento.Estar com você é como essa sua virada periódica de cabeça, à procura de uma supresa, de que algo aconteça na inconstãncia dos seus olhos. Veneno anti-monotonia é dádiva, como somente um amigo de infância pode ser. Será que nos conhecemos de vidas passadas?Mas nós não acreditamos em reencarnação. Essa presença de assuntos, essa tagarelice... Pode ser o jeito que a gente armou de descobrir nossas coisas em comum toda vez, como sempre. Esse silêncio não seria paz, seria uma maquiagem evitando escancarar nossas verdades internas. Sabemos nos ler, sabemos de nós. Acho que não assumir isso é manter o encanto. É como os fogos que voam no escuro que se você olhar de perto serão pequeninos vagalumes. A ilusão é mesmo fundamental. Deixando-me usar e ser usada sem escrúpulos, dessa vez pinta a novidade no ar. Aventurar-se é arriscar, estar disposto, questão de foco. Eu quis ser eu, separada. E sendo só eu rompi meu trauma, meu ego,
meu preconceito, minha dúvida. Você quis cair de braços na provocação. Estalar a línga e sentir o gosto do ciúme. Abrir um machucado em si e nela talvez na tentativa de que ela, machucada morra dentro de você. As estradas têm curvas e esquinas, têm os acasos e os sustos que deixam as pêlos arrepiados. O beijo no rosto repleto de significados veio na hora certa. O ponto final que traz de volta à realidade, para casa, para o equilíbrio entre a podridão e a santidade. Só que dessa vez estamos batizados na mesma água gelada de cachoeira. Um olhar dói. Agora estamos os três latejando. Será que a dor não é um aviso de pare? Uma súplica de prestar atenção em eu e você?
Em que você acredita? Quais são os seus valores? O que ainda vale a pena? Do que você está cansado? Nunca fiquei realmente só. É meu desejo mais secreto. É meu desejo mais temido. Será que você vai me deixar ir?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Sobre caras e coroas.




- Sinto ter chegado a minha hora de escrever sobre a tão complicada fidelidade. Não é porque eu tenha certeza absoluta sobre sua definição, mas porque a sombra e o corpo desse valor andam tomando minha intuição, que eu aprendi a não ignorar. Isso deve servir para alguém, sei lá.

Comparo a fidelidade à uma moeda e suas duas faces. Não porque existe o traído e o traidor, isso para mim são conceitos para vítimas, criminosos e beatas com sede de condenação. De um lado dessa moeda está a fidelidade fazendo sentido, do outro lado, quando ela não faz.
Segundo o dicionário Aurélio, fiel é digno de fé, leal, honrado; que não falha; com o qual se pode contar; exato em fazer as coisas; verídico, verdadeiro; e por fim ... fio que indica o equilíbrio de uma balança. Infelizmente costumamos relacionar fidelidade somente a relacionamentos amorosos, restringindo seu significado a não beijar outra boca ou amar outro corpo além do seu parceiro rotulado. Para mim esse pensamento é limitador, o gesso que reforça a suspeita de que ainda somos muito mais primitivos do que pensamos. Me enojo com essa fidelidade altruísta, forçada, que acontece só porque disseram que tem de ser assim. Pensa-se em uma fidelidade de posse, como uma máscara para auto-afirmação, dando exclusividade de usofruto de outro corpo e alma loteados. Vigia-se o celular, os contatos virtuais, os passos, os costumes... como os capatazes vigiavam a escravidão. Sou pássaro, e essa coisa de alguém querer ser dono de mim só porque mandaram ser assim nunca funiconou. Só fui fiel a partir do momento em que soube pelo quê, em que valesse a pena espontaneamente, sem contratos assinados.Já estive dos dois lados dessa moeda. Quando a verdade é recíproca, há ausência de máscaras, e ama-se até a parte podre do sujeito ou objeto que desperta a vontade de ser fiel. É o oposto da fissura óssea ou das ondas destrutivas, quando as duas metades fazem bem uma à outra. Quando não há invasão de privacidade justificando a desconfiança. E como se houvesse aceitação mútua das diferenças, e mais que isso... como se essas mesmas diferenças fossem a soma, a multiplicação do placar do crescimento incomum despertado pelas coisas boas. É o prazer de todas as coisas que você gosta, cumprido com a pontualidade dos seus deveres. Tem a ver com competência cega. É quando a falha desperta o imediato pedido de perdão, e esse pedido é sempre atendido de boa vontade. Quando os pensamentos não precisam ser filtrados por medo de distorções ou sentimentos invasivos. Quando o objeto ou sujeito pelo qual se é fiel é lembrado com respeito, admiração, saudade, sem a dúvida sem resposta de estar fazendo a coisa certa ou não. É quando voa-se em busca de sonhos, mas retorna-se sempre ao mesmo lugar, e esse lugar torna-se seu refúgio. É a concentração e o sacrifício espontâneo. Podemos ser fiel ao regime, à uma religião, a um time, a uma banda, a um lugar, a uma idéia, a um sentimento, a um hábito, à família, aos amigos, a um parceiro ... é quando você está apaixonado e só encontra encaixe e delícia no beijo que sai da boca de seu amado. Retomando o que diz Aurélio... fiel é o fio que mantém equilibrado os doi lados de uma balança. Só metade do funcionamento da coisa é de responsabilidade sua. A fidelidade humanizada exige recompensa, reconhecimento. A gente tem mania de achar que merece algo em troca quando fazemos algo difícil. Quando não há recompensa, ficamos perdidos na impressão de que tudo que fizemos é em vão. Fidelidade não é um contrato. É uma demosntração espontânea de devoção e cuidado. Jamais haverá satisfação altruísta. Porque fidelidade é feita por duas metades, e como diria até a Bíblia... é impossível servir a dois senhores ao mesmo tempo. Cá para nós que ser fiel é idealizador, exigência sobre-humana demais para essa natureza instintiva. Portanto é óbvio que ser fiel é extremamente complicado. É uma luta diária contra a selvagria de si mesmo. Exige determinação, perseverança e certeza demais nessa abstração toda. Exige atropelamentos diários em busca pela ausência de falhas e epela lealdade absoluta, na espécie que mais erra e permite-se errar. Quando um dos lados da corda afroxa. A fidelidade passa a não fazer sentido. Daí em diante, toda infidelidade é justificável, pois a falha acontece de ambas as partes. Se você não tem outro parceiro além do seu não quer dizer que a infidelidade não vá rondar sua calma. Ser fiel implica coisas muito além do mundinho de um relacionamento a dois. Como diria Oswaldo, cuidar de amor exige mestria... respiração, senso, tato, e uma dose larga de compreensão. Da cara até a coroa custa-se uma volta. É um ciclo, como o cio ou a água. Que vai e volta. Passando pela ausência de infidelidade e fidelidade, caindo até na inércia total. O importante é condizer com a divindade que mora em ti em cada parte dessa roda. Antes de ser fiel ao outro, será que você anda sendo fiel consigo mesmo?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Não era criatividade minha.




Ando nas ruas do centro
Estou lembrando tempos
Enquanto lhe vejo caminhar
Aguando a calçada
Um barbeia um velho
Deita a noite e diz poesia (serenata)
Vinho enquanto ouve choro costurar

Passei em casa, seu Zé não estava
Memórias Senhor Brás Cubas Postumavam
Enquanto vi passar Helena pra casa de chá
Devagar, bonde na praça

Ainda borda delicadeza
Torna a gente banca de flores

Libertando sorrisos no ar...
(Carta - Ano de 1980 - Vanessa da Mata)

Nem se atreva a me pedir para conter essa lágrima agora. Seu asfalto já me viu chorar várias vezes. Eram lágrimas frias, de saudade, de incerteza, de um desejo que parecia distante. Eram lágrimas que vinham de longe, trazendo o frio irlandês, fazendo-o brotar através dos meus olhos goianos. Meus olhos só queriam ser goianos mesmo, estar no centro, mas nada disso faria sentido se meu coração não estivesse batendo aqui, junto a mim. Lembra-se das tantas vezes que subi essa ladeira, pedalando forte, sob um sol infernal das 4 da tarde? Ah, como essa parte doía! doía não só por uma das coisas que eu mais odeio nesse mundo que é a sensação das coxas queimando devido as pedaladas para conseguir concluir uma subida de asfalto...mas doía porque nesse exercício desenfreado, exausto havia uma súplica, uma esperança de que você estivesse chegando a qualquer momento... passando pelo trevo de entrada da cidade e me sorrindo com palavras de amor. Depois de constar que ainda não era hoje, mas talvez amanhã... descia essa avenida , grávida de sonhos e promessas de que eu voltaria amanhã, para te esperar. E eu esperaria quanto tempo for. Mas espera machuca pra caramba, não é mesmo? É para isso que serviam as lágrimas e todas aquelas canções berradas nos meus fones de ouvido. Era para suportar, e eu suportei, até mesmo o atraso. E hoje, seis meses depois, estou sentada aqui, nessa mesma avenida, embaixo do mesmo sol escaldante. Queria que você soubesse que o seu céu continua belo, dando espetáculos vespertinos e que é muito bom estar aqui de novo, respirando seu calor abafado. Mas hoje eu choro outra vez, e não me peça para parar, por favor. Deixe-me desabafar, através de lágrimas incontidas a alegria imensa de correr em teu chão novamente. As lágrimas agora são quentes, a saudade só aumenta, e meu desejo também. É que depois de tanto tempo vou subir essa avenida, só que agora... por milagre, benção divina, o motivo da minha agonia e espera estará ao meu lado. Ela atravessa a rua e vem em minha duração. Tenho que ir agora. Senhoras e senhores, um brinde à 'tarde linda que não quer se pôr'.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pertencer.


Cada um tem seu baú, o meu é bem pequeno, com madeira clara, meio desgastada, todo trançado, como se fosse uma cesta que trouxe flores. Sempre gostei de coisas pequenas, parece que elas carregam uma paz singela, o conforto e aconchego de um lar. No fundo desse baú achei um papel de contrato. Rasguei. Cortei os votos, as assinaturas e as testemunhas, afinal um negócio apoia-se naquelas letrinhas do papel. Na verdade o papel era meio encardido, coisa de tempo... raridade para poucos sobreviver a anos que contam as duas vidas geradas por meio dele. Olhei em volta ... tudo ainda estava lá. Decidi queimar o papel. Tudo ficou no lugar. Sabia que eu já soube de histórias que as coisas dissolvem? Isso é quando os fatos e o acordo é só teórico, aquela coisa forçada e calculada que me causa alergia. Essa matemática não sobrevive às coisas da vida. Mas com meu bauzinho foi diferente. Um cara que vive batucando me convenceu que é porque o acordo só foi assinado para encantar o que já era belo, louco e real. Me disse que as assinaturas que importavam eram só as do jardineiros que ficaram responsáveis por aguar aquela florzinha do amor dia após dia. Assinatura alheia não culminaria em construção alguma naquela caixa, talvez só em destruição. Na borda da caixa tinha um mapa, que cabia o mundo inteiro e espalhava cada coisa do baú em todo canto, mas mesmo assim os corações sobreviviam, continuando a bater compassados. Que Deus uniu, ( nasceram os filhos, partiram animais, pariram netos, chegaram outra bicharada...) e o homem... bom, o homem não deveria separar! Caramba Deus... tudo bem que o senhor me fez meio confusa, mas essa parte ouvi muito bem daquela estrela de onde vim!



No final das contas e das fases, eu-hippie, eu-skatista, eu-roqueira, eu-eu... e todos os outros que virão sempre escolhem voltar para esse baú e dentro dele nem um rótulo é necessário. Por que escolher um baú e não um casulo? Essa é fácil! Casulo é aquela coisa fechada, como um coma, uma semi-morte, que te evita a vida como um todo, tristezas e alegrias. O baú não. A tampa abre Deus, e te vomita na vida, dá injeções de ânimo e de repente você já está dando os primeiros passinhos rumo a tudo que pulsa fantasticamente cheio de dor e delícia, fora do baú. E daí que se você encontrar algo bom na curva , sorte sua! Certamente você desejará seguir em frente! Mas e se você achar uma coisa feia? Aí a coisa complica! Um casulo não se reconstrói uma vez rompido, a lagarta vira borboleta e pronto. Mas a tampa do baú fecha ... e abre... e tem aquele espelhinho no canto, sabe? Aquele que eu olho e vejo minha cara de menina, com cabelos curtos e pretos, sorrindo como quem está prestes a aprontar? De tudo que eu vi e vivi nesse tempo tenho saudades... era o esperado para uma canceriana cuspida... e só com meu baú posso voltar, mesmo com 18, 25, 50 anos... nesse tempo lindo, como uma máquina do tempo. Encontrei no fundo do baú um soldadinho de chumbo... foi o único príncipe que encontrei nessa vida. Lá fora não achei nada nem ninguém que parecesse pelo menos com a unha do meu homenzinho. Foi ele quem me ensinou a lutar contra meus dragões, pescar, encontrar paz nos livros, nos filmes e nos cantos dos pássaros. As mãos dele são gigantes, sempre maiores que as minhas me dão um colo de proteção inabalável. Agora o soldadinho envelheceu. Príncipes não deveriam envelhecer, isso não é justo! Como eu, a menina das mãos pequeninas, vou proteger ele, o homem das mãos gigantes? Nunca foi assim, Deus. E agora não sei como fazer. Do seu lado havia uma rainha, com lindos fios dourados e mutante como trocas de roupas. Ela, ao contrário dele, era mais real que ideal. Ou não, depende da sua lente de contato. A rainha toma da fonte da juventude, o tempo passa e ela fica mais jovem. Sabia que ela é linda e adora falar com o Senhor todo dia? Ela te visita sempre, adora cantar e eu soube por aí que ela se importa muito comigo. Agora ela vestiu uma roupa, que confesso que não lhe caiu bem. Preferi a tendência passada... aquele vestido-que-criava-o-bolo-delicioso-com-requeijão! Tá metida com umas falsas-realezas, e eu ando buscando seus olhos... o Senhor, que é conhecedor de todos os corações, me dá notícias deles? Na mesinha de madeira existem oito lugares e a mesa está sempre posta em ceias de Natal e almoços de domigo. Cada um senta-se com seu melhor sorriso, escolhido rigorosamente pelo comitê da memória. Do lado do soldado e da rainha tem aquele vagalume verde, que tece fios e luzes e mora perto das cachoeiras que saíram dos Seus dedos. Seu bum bum ilumina meu caminho inteiro... e tem aquela joaninha cacheada, vermelha e preta de teimosa e de flamengo... que cuida dos doentes... essa daí já é o sorriso mais bonito que eu conheço. Tem a Janis Joplin de voz gostosa, minha companheira de pilates e de sol... e a mini Janis Joplin do Cerrado. Achei também um bicho de bochechas fofas, que não sei se é urso ou cachorro, só sei que é meu maior e melhor sonho realizado, minha alegria de cada manhã. E por fim uma barbie, docinha e azeda, o glamour hollywoodiano e escandaloso que me faz gargalhar e enfeita a caixinha. Tenho tantas fotos coladas aqui. Tantos lugares colecionados... Ainda sobra espaço para o tempo que ainda me resta. E eu amo cada cantinho desse quadrado, até aquele arranhado ali e aquele aculá... Alguma coisa não tem anadado bem por aqui. Ouvi um terremoto ou boatos de uma epidemia contaminando meu relicário. Pra cá voltei rapidamente. Acho isso confuso porque foi por uma carta sua que me pus a caminhar por esse mundo como se ele fosse um segredo. Até que gosto dessa minha missão na vida. A coisa funciona como meu alimento. Doutor estou com náuseas, será que é fome? Como poderei caminhar com fome? Como minha força pode ser também minha fraqueza? Se o baú sumir, para onde vou voltar quando estiver cansada? E esse forro de mesa sujo, é pra quê?


A mão direita do canhoto. A aids do Cazuza. O whisky do alcóolatra. A diabets da infância. A orelha diferente por trás dos cabelos longos. Ando doendo, Deus. Como vício, doença, restrição,impotência e ponto fraco. Será que o Senhor poderia salvar meu baú? Amém!



- Out of luck, out of faith, loosing my memory, saving my face...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A quem me ensinou a desenhar carneirinho...



Em primeiro lugar devo dizer que só seus olhos lacrimejantes foram capazes de calar o Vinícius, e em segundo lugar gostaria de dizer que o texto está escrito em verde porque você odeia verde.
Eu gostaria muito de te dizer que eu vivo porque te amo, mas não posso. Seria uma mentirada só, sujeira das grandes. Porque, amor, eu sempre vivi antes de você aparecer. Minha história não precisou esperar até você para começar a ser escrita. O que eu posso te dizer, sem falsidades, é que eu te amo porque estou viva... e até que vivo melhor depois de ter me apaixonado por você. Seus cachos me troxeram luz e se você partisse hoje... bem, se você partisse hoje eu continuaria a viver mas faltariam as coisas que faço por causa desse amor e essa falta me deixaria um buraco enorme e triste, eu teria de inventar algo que desviasse minha atenção da cicatriz grotesca que seria viver sem você. Quando te olho vejo um clamor constante por provas de amor... isso se chama insegurança. E confesso que às vezes fico chateada por você não acreditar em mim. Mas sabe, que na verdade, meus dias também têm sido camadas de alternância entre "o meu amor é retribuído" e "não, o meu amor não é retribuído"? Pois é meu bem, hoje decidi agradecer ao noso Cara pela insegurança depositada em nós que não nos deixa ficar parados no que é cômodo. Tomara que essa insegurança dure pelo resto da vida cheia de sonhos que quero viver ao seu lado, porque é graças a ela que buscamos a cada segundo algo que nos faça ter um pouquinho de mais certeza sobre esse sentimento complicado. Acho que ela pode até ser um daqueles venenos que o Cazuza procurava, que seriam capazes de curar a monotonia da vida, sabe? Porque não ter certeza é fundamental para reinventar maneiras que não te deixem duvidar do meu amor, e vice-versa. O inseguro nos traz a euforia que só as novidades conseguem despertar. Sua importância na minha vida atingiu a escala que acusa todos os dias ao seu lado como memoráveis, gravados em mim com todos os detalhes das coisas que faço questão de não esquecer, arquivados na categoria das minhas delícias. Ter notado que não vivo por você me mostrou que você é o motivo das coisas mais importantes que a vida em si, como por exemplo as coisas que deixam meus dias coloridos. É por você que ando à meia-noite nessa cidade deserta... não diria sem medo, mas enfrentando esse meu medo do perigo e desencadeando em mim uma reação corajosa de admitir e enfrentar os outros. É por você que todas as canções de amor ( que são nossas) desenham seu sorriso travesso em cada esquina da minha pista de treino. Por culpa sua entro emd esespero quando vejo as coisas da Alice, do Principezinho, da Palhaçada.. e desejo no silêncio enriquecer para te entregar toda essa beleza material que te arrancaria um sorriso grandão. E por sua culpa queria que as coisas fossem um pouco melhores. Fiquei meio 'perturbada' circulando por cada supermercado que entro à procura de cobrinhas azedas, creme de avelã e suco de pêssego... mesmo se não for pra comprar, só pra ouvir cada uma dessas coisas me dizendo que você as ama. Eu te amo um pouco por causa das coisas que você ama. Passei a ver novela das nove, porque a gente sabe que a bossa nova é um nó de um laço que nos une e é bom ouvir nossas semelhanças e depois lembrar do quanto somos diferentes e de como isso me faz crescer e querer te desvendar mais e mais. Eu assista TV também na espera de encontrar aquela personagem que se parece com você, e ver seu corpo tomando o lugar que era dela... lentamente.. alucinadamente... e agora é você que está lá, com seus gestos efusivos, seus movimentos dramáticos, sua risada debochada e sua voz rouca. Outra coisa que me faz te amar mais um pouco é essa voz rouca. Quando sinto alguma dor, lembro de você ter vencido o receio de olhar nos meus olhos e imagino o quanto deve ter doído em você escancarar sua alma e aceitar a minha por completo, então sei que depois da dor vem a beleza e assim a enfermidade fica bela e logo passa. Por você aprendi a conversar no celular e até aguento um pouco a queimação nas minhas orelhas devido às nossas longas conversas. É com você que durmo pregada sem me incomodar com espaço pequeno e suor que me fazia coçar. Ou também com você que acordo às 6 da matina com humor de quem acordou às 10 e a disposição de quem coemte um crime e tem de fugir para não ser pego. Foi por você que decidi sentir prazer ao ser tocada e com quem tive a-melhor-virada-de-ano-do-mundo. É do seu suspiro de afago de menina mimada, que parece um gatinho que sinto falta escrevendo esse texto. Você é minha gargalhada preferida das nossas falhas de português. Poderia comer cachorro-quente na praça todo dia com você sem reclamar, e se a gente enjoasse poderíamos procurar um novo sabor e devorar com todo apetite de primeira vez. Por falar em comer, mais uma coisa que amo um pouco em você é sua bagunça na mesa, sua boca lambuzada de molho, sua frescurite-fiscal-alimentar e sua preguiça de exercitar-se comigo. Amo um pouco também a pinta que você quer tirar.. e os beijos que distribuo no seu rosto, e em sua boca quente e depois no seu corpo inteiro. E acho o máximo a paz que eu sinto quando ficamos quinze dias sem brigar. Bem... as outras coisas que eu amo em pouco em você talvez eu não queria dizer e existem outras que ainda desconheço. Mas não se preocupa que quero descobrir todas e para isso dispus meus infintos dias. E que cada dia seja uma prova de amor.
- Amor sopra minhas costas queimadas que eu quero cuidar do corte no seu pé...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sem esse gosto de sabão na boca.




É claro que eu não deixaria de escrever um texto de ano novo. Novo não, pois não haveria muito o que escrever sobre um ano recém nascido além de desejos e anseios. E acho que não haveria muita dificuldade em encontrar escritos sobre esses desejos universais em todo canto. Então vamos falar do que já foi escrito, do que me torna um indivíduo, daquilo que chamo de minha e de vida. Senhoras e senhores, eis aqui um texto de ano velho.


Quase mandei 2009 ir embora a custa de ponta pés. Não aguentava mais. 2009 foi longo demais para ser chamado de 2009, por isso clamo às letras para chamá-lo de 'doismilenove'. A soma de seus algarismos resultam em 11, e esse número só me lembra dia 11 de setembro, torres gêmeas, destruição. E esse é o símbolo do meu 2009, como um parto, uma guerra, minha vida foi varrida, parindo uma entrada dolorida na idade adulta. Como todos os anos, ele também nasceu bebê, em meio ao caos da minha depressão pós reprovação no vestibular da UNB, seguindo de minhas numerosas dúvidas de escolha profissional... por fim acabei rasgando meu diploma de futura jornalista, sem descartar o caráter provisório da coisa. Pois é muito cedo para ter-se sentença de granito de tamanha responsabilidade. Arranjei um trabalho que chamei de primeiro emprego, e cá pra nós que a semi-escravidão não me fez nada bem. Engordei. Chorei. Surtei. Larguei. Com apoio incondicional da minha mãe e minha irmã. Descobri que sou uma pessoa mais econômica que pensava. Apliquei os valores de honestidade ensinado por vovô e vovó e gostei disso. Tomei nota de que o orgulho é o valor mais idiota e ausente de função que o homem já criou, e a partir de então atropelo o meu sempre que posso. Depois virei a única coisa que profetizava nunca ser na vida: professora. É claro que isso me deixou num conflito imenso sobre minhas verdades e minha impotência perante os fatos, resisti ao máximo, porém a loucura maior foi ter me apaixonado perdidamente pela profissão. Pasmei ao prestar vestibular para letras, vestibular que sonhei no Sul, adaptei para Brasília e acabei fazendo de fato no meu berço goiano. O mais surpreendente é estar aguardando a aprovação em ritmo empolgado, mesmo após tantas adaptações de sonhos e conceitos. Foi um ano sem melhor amigo, que cruzou meu caminho de volta no final num reencontro que serviu como assinatura para deixá-lo ir. Acho que talvez o término das coisas também possa ser um destino, e assim como aceitamos as coisas que ficam é preciso aceitarmos também as coisas que vão com tamanha beleza e fé. Isso lembrou-me de outra coisa: continuo me perguntando se já amei de verdade ou não, mas enquanto me decido vou amando do jeito que posso. De novo. Adoro repetir isso... outra vez. Saber que fui capaz de amar de novo e recosntruir sonhos me deixou com um frescor gigante de liberdade que posso tentar explicar. É algo como... se depois do susto de assistir tudo que você acredita ser demolido porque o amor que era para sempre acabou, estava te fazendo mal ... você visse surgir um grande martelo que quebrasse as correntes que te mantiveram presa ao comodismo de coisas vividas pela metade, e você corresse como quem descobre que tem pernas, corresse muito e mais rápido e chegasse a um lugar que pudesse chamar de seu e admitisse que apesar de diferente do outro, também era belo e cheio de cores e perfumes. Criei coragem para cortar franja. Hoje agradeço pela oportunidade, pela honra de ter feito parte finalmente de alguma coisa na história mundial através do contágio de uma pandemia. Obrigada gripe suína! Obrigada por eu ter sobrevivido para contar depois! Na calmaria consegui emagrecer. Apaixonei-me por meus colegas de trabalho. Conheci lugares que com certeza me levaram pertinho de Deus e seu céu ( um brinde especial à fantástica cachoeira Rei do Prata). Descobri que gosto das minhas unhas bem coloridas. Minhas delícias foram marcantes nos livros que li, nos filmes que vi e nas músicas que ouvi ( não posso me esquecer também das belas apresentações de balé). Vivi amizades que talvez sejam as mais fortes da minha vida. E, como ' a hora do encontro é também despedida', doí com seus respectivos afastamentos com a mesma intensidade dos sorrisos compartilhados. Ainda não sei se são amigos apertados em 'pause' ou 'stop'. Colecionei novas cicatrizes, celebrei datas marcadas e me despedi de várias outras coisas, pessoas e sentimentos. Meus 18 anos mudaram bastante minha vida, é verdade que de forma diferente do que se espera, mas de fato aconteceram mudanças. Um brinde ao ano de entrada dessa coisa adulta, desses mitos desfeitos e reelaboração de crenças. Dói pra cacete mesmo, não vou mentir. Doismilenove foi a crueldade humana escancarada, que desencadeou sustos, lágrimas e decepções em mim. Foi aí que eu parei de acreditar que todos os homens podiam ser bonzinhos algum dia, e resolvi lutar só por mim mesma e deixar de carregar o peso do mundo nos meus ombros ( mais ou menos). Foi triste ver que o preconceito ainda é muito maior do que eu idealiza em meu mundinho, que a escola é a maior propaganda da hipocrisia e da segregação social, que julgar ainda é tendência de todas as estações e que a futilidade ainda impera entre e muito mais próxima de nós. As noitadas, geralmente me deixaram gosto de incompletude, tendo como ápice minha esquisita e totalmente esquecível festa de aniversário. São erros que não desejo repetir. Protagonizei uma cena cinematográfica no aeroporto, e me senti muito bem depois que percebi que aquilo acontecia na minha vida real. Termino esse ano como quem está parada na borda de um poço assistindo um balde afundar, cheio de agonia, indo embora... levando anjos, lembranças e o crescimento pelo sangue derramado. Regredi na aceitação de mim, cheia de esperanças num ano cuja soma de algarismos resulta em três. Três é meu número da sorte. Que o terrível 2009 me faça notar um maravilhoso 2010.


Adeus meu caduco, deixe comigo seu Cazuza e a revolução... porque mesmo odiando a morte essa é sua hora de padecer. Senhoras e senhores, gostaria de propor um brinde porque eu sobrevivi! Ponto final.



P.S.: Não deixem que o conceito de família caia em desuso.