segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Não era criatividade minha.




Ando nas ruas do centro
Estou lembrando tempos
Enquanto lhe vejo caminhar
Aguando a calçada
Um barbeia um velho
Deita a noite e diz poesia (serenata)
Vinho enquanto ouve choro costurar

Passei em casa, seu Zé não estava
Memórias Senhor Brás Cubas Postumavam
Enquanto vi passar Helena pra casa de chá
Devagar, bonde na praça

Ainda borda delicadeza
Torna a gente banca de flores

Libertando sorrisos no ar...
(Carta - Ano de 1980 - Vanessa da Mata)

Nem se atreva a me pedir para conter essa lágrima agora. Seu asfalto já me viu chorar várias vezes. Eram lágrimas frias, de saudade, de incerteza, de um desejo que parecia distante. Eram lágrimas que vinham de longe, trazendo o frio irlandês, fazendo-o brotar através dos meus olhos goianos. Meus olhos só queriam ser goianos mesmo, estar no centro, mas nada disso faria sentido se meu coração não estivesse batendo aqui, junto a mim. Lembra-se das tantas vezes que subi essa ladeira, pedalando forte, sob um sol infernal das 4 da tarde? Ah, como essa parte doía! doía não só por uma das coisas que eu mais odeio nesse mundo que é a sensação das coxas queimando devido as pedaladas para conseguir concluir uma subida de asfalto...mas doía porque nesse exercício desenfreado, exausto havia uma súplica, uma esperança de que você estivesse chegando a qualquer momento... passando pelo trevo de entrada da cidade e me sorrindo com palavras de amor. Depois de constar que ainda não era hoje, mas talvez amanhã... descia essa avenida , grávida de sonhos e promessas de que eu voltaria amanhã, para te esperar. E eu esperaria quanto tempo for. Mas espera machuca pra caramba, não é mesmo? É para isso que serviam as lágrimas e todas aquelas canções berradas nos meus fones de ouvido. Era para suportar, e eu suportei, até mesmo o atraso. E hoje, seis meses depois, estou sentada aqui, nessa mesma avenida, embaixo do mesmo sol escaldante. Queria que você soubesse que o seu céu continua belo, dando espetáculos vespertinos e que é muito bom estar aqui de novo, respirando seu calor abafado. Mas hoje eu choro outra vez, e não me peça para parar, por favor. Deixe-me desabafar, através de lágrimas incontidas a alegria imensa de correr em teu chão novamente. As lágrimas agora são quentes, a saudade só aumenta, e meu desejo também. É que depois de tanto tempo vou subir essa avenida, só que agora... por milagre, benção divina, o motivo da minha agonia e espera estará ao meu lado. Ela atravessa a rua e vem em minha duração. Tenho que ir agora. Senhoras e senhores, um brinde à 'tarde linda que não quer se pôr'.