sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010


Ontem a noite minha barriga doeu de tanto dar rizada junto a uma amiga. Ontem a noite meus olhos incharam de tanto chorar com, para e por outra amiga. Ser humano é essa coisa tão desigual... oposta... essa coisa de paz e guerra, fome e gula, riso e dor... essa coisa de Deus e demônio, por vezes bem misturados e outras bem heterogêneos. Um homem de um jeito, completa outro homem de outro jeito. Falo isso por uma perspectiva cósmica que me permite achar graça nesse caos. Pelo olhar de Deus até a dor faz sentido e encaixe. Mas se visto bem de perto o ser humano é fábrica de razões e emoções em busca do equilíbrio e tem o poder de, em cada passo que dá, matar ou morrer um pouco mais ... ou ser lanterna para os que vêm de mãos dadas. A mão dada pode trazer um punhal ou permanecer enlaçada, caminhando do lado... Ser humano não vive sozinho, foi feito para reconhecer um grupo... por mais que o conjunto seja unitário. Para escapar do erro que é conviver, acabamos por precisar uns dos outros infindávelmente. Abandonam companheiros no passado e com o coração mesmo em pedaços, transplantam-se para dentro, fora e cima de outros companheiros... na busca insesante por gigantes maiores para inspirar, admirar, evoluir, sugar e apoiar quando o chão sumir. O chão é dado e tirado por homens e suas situações. O homem é essa coisa que alguém queria muito apagar, um arrependimento... e simultaneamente essa força propulsora que faz alguém levantar no dia seguinte, um abrigo de sonhos. Homem que constrói castelos de sonhos e os destrói com a mesma facilidade. O amor sem o homem seria nada. Nem a doença, nem a saúde, nem a história, nem o ódio, nem a tristeza, nem a alegria. Nada. Homem-cansaço, homem-vergonha, homem-decepção, homem propaganda de Deus. Homem pequeno e cheio e vida... homem grande e vazio e morte. Morte é a coisa mais fácil. Como é fácil morrer! Homem-frágil. Homem-fúria. Homem-forte que move moinhos.. Homem-mortal, obra-perpétua. Homem livre arbítrio escravo do tempo. Homem-preciso, descartável. Homem-insubstituível, esquecido. Homem-matraca, que silencia. Corpo e alma que usa, abusa é usado e usado. Homem-sexo, tesão de pureza. Homem tudo e nada, tudo ou nada, tudo por nada, nada por tudo. Ligado a mim, a você ... leitor-escritor. Platéia, coral, palco, banda. O homem não vive sozinho, mas feliz de quem cultiva a solicitude. É dependência conquistando independência e jamais deixando de depender. O homem quer ser eterno e a eternidade só existe se for comentada, documentada, esparramada como tinta que cai ao chão. É uma graça desgraçada ter que conviver todo dia sendo humana e tendo humanos. O homem é toda dor e a alegria que vive em mim. Homem melhor sono quando sonha junto. Homem poro, gemido. Homem insônia. Loucura tênue na sanidade, por que não enlouquecer? Quem ainda é normal? Metade do meu amor que me faz inteira por sofrer, me obriga a viver e me mata até o dia que eu morrer pra sempre.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre o afeto.


Afeto é a batalha diária a favor do perdão e do perdoar e a insatisfação rotineira de querer dar mais que ontem e muito além do que se tem por natural... como um grito que tomasse conta de todos os espaços disponíveis no mundo e ecoasse pelo resto da eternidade que discute a infinitude ou a mortalidade do universo... que é muito maior que um ser que ama, mas talvez seja menor que um grande amor.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Auto-patrimônio histórico da minha humanidade.





Hoje a moça da faxina chegou cedo. Acordei sob um céu de espirais rosas e com a voz mais doce me falando ao ouvido. Embaixo desse espiral rosa eu amo o caos e a calmaria de todas as facetas da vida. eu estava com saudades da moça da faxina, é sempre bom conversar com ela e além do mais, agora os cachos que ela sempre teve fazem mais sentido para mim. Acordei bem sonolenta e pronta para o sempre fabuloso café-da-manhã de sábado. Pus-me a perguntar com qual frequência faxino minha alma... porque se minha alma for o reflexo que vejo na minha casa... ai, ai, ai. A moça vai ter muito trabalho hoje. À medida que a gente envelhece vamos ficando mais cansados, descrentes, desleixados... e quando percebe-se estamos com a casa e a alma pesadas de entulhos, escombros. Aqui em casa, quando eu olhava ao redor, assistia um bucado de coisas inúteis, poluindo minhas paredes azuis e mesmo assim na hora do desfazer-me delas, a disposição se escondia de mim. Acho que esse acúmulo era minha consciência implorando alguma demonstração externa que não me deixasse esquecer que se eu não faxinasse minha alma, ela seria cada vez mais esse acúmulo de coisas desagradáveis e dispensáveis. Mas o que me chamou atenção foi que a moça interessou-se por meus entulhos. O que era desnecessário a mim, era necessário a ela e foi preciso uma intervenção externa, bem escancarada para que eu me desfizesse do relicário da minha preguiça. E são tantas as vezes que nossas emoções desenrolam-se dessa forma.. por vezes nos sentimos como uma casa velha, abandonada, feia e desinteressante... assim, nos colocamos como entulhos cuja única função é atrapalhar outros caminhos e observar os passantes, estáticos, inertes. Mas daí, sem aviso, passa alguém que nota os entulhos e mais que isso, necessita de todas as emoções e detalhes nossos que julgamos não ter mais utilidade. É para isso que servem os anjos de carne e osso e calças jeans... os gogantes que não nos deixam cair. Reciclar. Reutilizar. Reconstruir.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Turyia é um bom nome para corujas.




Seja bem-vinda de volta, insônia minha. Da última vez sua visita foi demorada, me custou. O sono é uma dadiva, é a expressão do descanso quando se está em paz. Uma das coisas que mais me deixam fascinada é um ser humano com olhos fechados... é incrível como o ato de dormir deixa que até o bandido exale inocência. Cada ser que dorme, experimenta a sensação da concepção... como um feto inocente, raso, aquecido no útero materno. Os olhos fechados, nesse momento, não carregam a morte nas pálpebras... mas sim a graça de poder ausentar-se do mundo dos vivos por alguma horas e acordar num novo dia, que pode ser mesmo novo. Como quem nasce, ou renasce. Dormir é romper o cabo que nos liga à realidade. É lindo observar alguém que repousa e ver a criança deixada na infância vir à tona para brincar de fazer sonhos dentro de um semblante tênue e leve, num mundo onde tudo é posível e verdadeiro. Dormir é mesmo um dom... tão natural e poderoso quanto o respirar. O que seria de mim se não mais respirasse? Um corpo frio que não pulsa e que, por partir, nada altera no sentido da sociedade humana. E o que é de mim quando não durmo? Dizem que a causa da insônia é dificuldade de abandonar a si mesmo. Talvez ( digo talves porque tudo parece ser de sal, prestes a desmoronar no próximo instante), mas talvez seja isso mesmo. Meu "eu" está em apuros, e ele é o náufrago que eu não posso abandonar nesse mar de ilusões. Seria a assinatura final do pacto com a escuridão, e eu odeio morrer. Meu "eu" pede socorro, corre perigo. Como salvá-lo? Me irrita o fato de ter que trabalhar amanhã com o corpo, sendo que a alma não vai nada bem. Nunca consegui desvoncular corpo de alma; tem gente que é bom em maquiar-se, dividir-se, camuflar-se. É fim de carnaval... o calor vai dando lugar à chuva... e é início de Quaresma. A insônia veio com data marcada, propensa à reflexão e mudança. Eu amo dormir... amo meu quarto escurinho, minha fronha do Mickey e meus sonhos de travesseiro. Por ser tão gostoso isso de quarto, acho que os chamaria de recompensa. Alguma coisa tem de mudar por aqui, para que eu seja merecedora do descanso. Enquanto isso, velai corpo meu ... não desista de pulsar meu coração cansado... até que sua alma esteja de pé, colorindo tudo com as aquarelas abundantes que vêm da saudade que eu sinto de mim.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A hipocrisia de cada dia nos dai hoje.




Afinal é carnaval. Todo mundo vira palhaço mesmo, um pouco fantasiado. Esquecemos os rótulos do dia a dia, as virtudes, os valores .... e todo mundo cai na mesma roda de samba. Viva o ato de suportar quem se odeia e até cantar uma marchina juntos, por que não? Nesse carnaval quero agradecer em especial aos sorrisos maquiados e àqueles que falam uma coisa e fazem outra. E tenho uma dúvida: por que usar fantasia para quem quer nos despir depois que a folia passar e manter-se sem fantasia para quem, depois da folia, antes ou mesmo agora se nos encontrasse nu... estenderia um mundo de manto e protegeria nosso frio, nossa vergonha, e os confetes muito bem recortados? Que isso minha gente! carnaval a gente pode esquecer. Esqueça tudo, como se o passado simplesmente nunca tivesse existido. Qual sua fantasia? Qual baile você escolheu dançar? Será que vestindo essa fantasia você finge ser quem não é por quatro dias, ou é exatamente vestindo uma fantasia que tua covardia encontra coragem para se mostrar? Aproveitem essa oportunidade anual de beber até cair, lançar palavras a esmo renunciando o poder que elas exercem sobre as emoções humanas... Só cuidado com os disfarces, eles podem querer durar até depois da quarta-feira de cinzas. O disfarce pode enojar o estômago e nem todo lugar é propício ao vômito. Tem gente que é carnavalesco nato, sabe? Aquele moleque da escola que continua a fazer piada mesmo após tudo ter perdido o sentido, morto nas bocas caladas? Tem gente que faz de todo dia um verdadeiro carnaval. Um brinde à vida descartável!

Fé.


"Não estou interessada na indústria dos seguros. Estou cansada de ser cética, a prudência espiritual me irrita e fico entediada e exaurida com o debate empírico. Não quero mais ouvir isso. Estou pouco me lixando para prvas, demonstrações e seguranças. Tudo que eu quero é Deus. Quero Deus dentro de mim. Quero Deus brincando na minha corrente sanguínea da mesma forma que a luz diverte as sombras." (Liz Gilbert, em Comer Rezar Amar)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

To search..


- Estava olhando minhas fotos antigas. É engraçado a forma que tomamos em cada fotografia, não sei se com todos é assim, mas em cada retrato me torno uma pessoa... que se procurarmos em outra fotografia de mim, não encontraríamos pessoa igual à da outra imagem. Acho que conversar pouco vem do fato do meu corpo escancarar tudo que eu sinto por si só. Observei que em minha última fotografia, as pessoas estavam coloridas em pleno show de rock e eu saí cinza, destoei de tudo... e não foi pra fazer justiça à ocasião e aos choros das guitarras. Mesmo encantando o externo, desencatei-me de mim, despedaçando como quem quer derreter. Se eu derretesse agora, seria em fluido transparente. Acho que na verdade faz muito tempo que meus olhos não sorriem junto com minha boca.