segunda-feira, 19 de julho de 2010

Carta ao Cazuza III


Amigo Cazuza,
Nos meus tempos existe uma música que você iria amar deslizá-la em sua língua presa. Canta um verso que "eu sou uma galeria de corações partidos." Eu espero sinceramente que daí do alto, de fora ou onde quer que você esteja alguma coisa faça sentido. Com quantos corações na sua galeria, você partiu? Quantos corações mais eu terei de partir até o fim dessa dolorosa existência? E por mais quantas vezes eu terei de ser forte, ou fraca demais a ponto de me recompor, me desmoronar e fazer outros corações dentro de mim mesma? Eu só liguei mesmo para falar que estava com saudade, não precisava dizer mais nada, só que estava com saudade. Acho que foi isso mesmo que levaram meus dedos ao teclado, mas sabe da força das palavras? é claro que sabe, você fez o caos com elas. A grande força das palavras me fez engolir toda grande saudade que não cabia em mim. Deve ser entendimento de fraqueza, sufoco de orgulho que nos leva a negar verdades vomitadas, explícitas. Dizer não a quem sabe muito bem a quantas andam a alma que vaga. E eu só queria dizer que estava com saudade. Nãos. Mas às vezes não importa o quanto você ou os caminhos mudem ou quantos séculos se passem. Alguns venenos não mudam, são nocivos, corrosivos, necessários. Algumas flores plantadas sempre serão colhidas com amarguras. Parecem juras, que adivinhem só, se realizam, perpetuam-se. Ser o doce pecado de alguém vai ser sempre a dor de ser doce e pecado de alguém. Parece que a eternidade nos ouviu naquele quarto. A voz do outro lado vem e vem de novo com a crueldade mansa do texto (já esperado,decorado) e você que ouve o mesmo desenrolar de letras, sangra-se quantas vezes mais o ritual repetir-se. São venenos nocivos e perpétuos, com poder concedido pelo universo e mistério indecifrável. Por exemplo... qual é o significado dessas coisas que apesar do quanto você ou as coisas mudem ou quantos séculos passem ainda lhe matam em mansas porções? Amor não sei se dura daqui até a eternidade. mas dor, é o cativar eternizado,. Insônia. Angústia. saudade. Eu sabia que tinha algo errado. e se você disser que não, eu vou dizer que te vejo equilibrando-se no talvez, cá e lá, sim e não. E se você disser que não, outra vez, eu vou achar graça porque no fundo a gente sabe que se sabe muito bem.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

00:00 às 06:00.


Você percebeu o quanto somos maiores? As árvores crescem para sobreviver ao ritmo da vida. O tempo gasto no cultivo de um brotinho nunca é perder. Se você contar sua vida, vai perceber que pouquíssimos permanecem. E olha, as decepções podem lhe arrancar despedidas dolorosas eternamente. Mas elas são poquíssimas comparadas áquelas despedidas que às vezes nem nos damos conta do adeus. As pessoas vêm e vão, e a vida dita o ritmo. E puxa! Às vezes a gente nem percebe. Você não sente que você poderia ter feito mais? Eu sempre acho que se mais amor fosse dado, mais força contra a história meus queridos teriam para permanecer. Talvez tivessem ficado cinco, como os dedos da minha mão. Permanecer. Pode ser que olhar pela lente de doze meses, seis meses seguintes pareçam fáceis. Mas é que eu não me acostumo em não lhe ver por muitas horas, meus olhos escorrem sempre, você sabe, num mimo só. Por isso fica combinado que eu cuido daqui e você cuida daí. E se o futuro chegar antes da gente, inventamos outro futuro. Mas outro futuro nosso. Como o jardim suspenso. O desafio é estarmos juntos sem seus olhos nos meus por um tempo maior, como é agora. Mas eu te peço para não desistir, pode contar com minha prece. Vou cuidar para a saudade não ser tão maior que um-metro-e-sessenta-e-sete-centímetros a ponto de me fazer esquecer. Ey, não se esqueça de mim. De hoje. Sabe o que é mais engraçado? Agora eu não tenho medo. Eu tenho coragem para te carregar nas costas quando a madrugada acabar e não desistir nunca de lhe arrancar o sorriso pelo qual me apaixonei. Amar também pdoe ser isso, ter seu corpo tatuado na minha espera. Eu vou estar aqui com um motivo entre os dentes que não lhe faça desistir dos meus beijos. pra velar seu sono, seu cansaço. Pernas são estradas.

domingo, 11 de julho de 2010

"Encontro e perda ao mesmo tempo, eu não vou parar..."


Daqui a sete dias eu completo 19 anos. É estranho neh? Do nada você pensa que... Porra, já têm 19 anos vezes 365 dias, e você não fez grande coisa nesse tempo todo. Meus amigos se sentem muito diferentes com 19. E é claro que é, a gente percebe que cresceu mesmo. É a tênue linha entre adolescência e idade adulta. Tênue e desagradável. Doem mais os corações partidos e as pessoas que já se foram. Como disse Ana, são contas de banco, e correspondências chegando com seu nome... e o Ruan, passou o aniversário trabalhando, e a Jéssica passou o dia internada num hospital. Acho irônico, era pra ser nosso dia. E acaba sendo mais um dia racional. Uma vez assisti a uma reportagem que falava sobre as mudanças que ocorrem nos nossos olhos em relação à interpretação das cores com o passar dos anos. As crianças enxergam as cores num tom mais azulado, é claro que fica tudo mais vivo, como um céu de verão e praia. Na idade adulta, enxergamos as coisas em tons esverdeados, se não percebeu é quando as coisas começam a desbotar. E na velhice... Deus, na velhice as coisas ficam amarronzadas.... Acho que a visão é o reflexo de dentro. Então, fazer 19 anos é isso. Enxergar as cores e a vida, e as cores da vida mais esverdeadas. É realmente quando as coisas, insuportavelmente desbotam-se ladeira a baixo. E é claro que tudo fica bem mais estranho que antes. Eu, por exemplo, morria de medo de virar de ponta cabeça. Agora, é a única coisa que me alivia e me faz sentir um pouco melhor. O máximo que pode acontecer é eu não poder, daqui alguns anos, enxergar as coisas em tons amarronzados. E nem se usa mais bolo de aniversário.

sábado, 3 de julho de 2010

Liquefação.


E de repente as lágrimas costuram os cílios e tricotam uma cortina à prova de desumanidades. Quando chovem os olhos, as luzes da cidade esticam-se aqui e aculá e tranformam-se em estrelas. Estar extra-terrestre deve ser assim, as estrelas passam a iluminar o silêncio blindado de dentro. Se a gente habita o espaço fora de todos os mundos, o vácuo passa a ser nosso lugar. Lá é mais complicado topar com uns e outros. As lágrimas têm o poder telepático de transportar para onde precisa-se buscar a paz. O mundo das estrelas sem voz faz brotar todo descanço para a estranheza desse mundo. Eu não me importaria de passar umas férias por lá.