terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
Manoel de Barros

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

De quando a gente descobre o que não quer ser.

Os corpos vagavam naquele lugar. Logo percebi que eram apenas corpos, todos vítimas, de uma dor dilacedora assim como eu. Me identifiquei, me juntei. Aonde é que a alma se esconde nessas horas? No fundo, bem no fundo... Quase ninguém pode chegar e a gente não quer nem ver. A alma abandona o corpo e só ela que sofre, o corpo nada mais é que um simples objeto, a casca mais espessa que nos faz permanecer como zumbis. Passei a ser só copro, flutuando pesadamente. Mal podia conter minhas pernas. O corpo se controla sozinho, rumo à auto-flagelação. Acordei sobre meu próprio vômito. Daí a alma ficou triste, sangrou, hemorragicamente falando. E o corpo já não respondia. Não dormia, não comia, não sentia frio. A água tava gelada e a pele nem aí. A alma também ficou revolta, gelada, nem aí, afundada na sua própria dor já não se importava com nenhuma coisa além de si. O corpo agora era sujo, um lixo. A existência me doía, a imagem no espelho ficou difusa, a ressaca dura além do dia seguinte. Às vezes é preciso - na verdade não é preciso porcaria nenhuma, pois a dor jamais cicatriza e o tempo não volta, a vida ainda segue e te arrasta com ela - trilhar o caminho dos erros para se inventar o próprio pecado.  Traí então todas as minhas orações de todos os dias de manhã, destruí minha vida, e as de outras pessoas. Faltava tanta alma. Achava que aqueles corpos de cenário eram uma exceção num mundo que ainda era bom. Na verdade percebi que já haviam centenas de músicas que cantavam aquela paisagem, que traziam a tendência da auto-destruição. A marcha caminha para a extrema superficialidade, para a ausência de alma e de bondade. Todos éramos regras nesse mundo corroído pela dor de uma existência vazia, material. Eu que sempre acreditei que o mal e o bem habitam igualmente em cada um de nós, era só escolher, bebia agora de um arrependimento dantesco. O mundo carece urgentemente de pessoas de alma grande, que ainda acreditem em milagres e em amor. Ao contrário disso essa existência vazia e confusa não teria justificativas. Seríamos como zumbis a caminhar desordenadamente por uma natureza destruída por nós. É certo que eu nunca soube o que fazer da vida, mas isso eu não quero ser. "Vou subir o morro, enquanto ainda tenho pernas."

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Eet, it, shit.


It's like forgetting the words to your favorite song.
You can't believe it; you were always singing along.
It was so easy and the words so sweet.
You can't remember; you try to feel the beat.

ou spend half of your life trying to fall behind.
You're using your headphones to drown out your mind.
It was so easy and the words so sweet.
You can't remember; you try to move your feet.



EET.

=(

domingo, 2 de outubro de 2011

Uau!

Lágrima:
sf 1. saudade na forma líquida; 2. mistura de água do mar com alma moída; 3. secreção aquosa expelida através dos canais lacrimais quando se espreme o coração; 4. felicidade que escorre pela face; 5. estrela cadente que despenca do céu dos olhos de quem ama; 6. motivo da existência de lenços brancos; 7. resultado da fusão de sentimentos contraditórios quando submetidos a altas temperaturas; 8. nome comumente dado ao fim de um romance; 9. momento que antecede o adeus; 10. pedaço de ontem; 11. antônimo de desprezo; 12. matéria-prima das jujubas; 13. grande inspiração dos poetas; 14. fado de Amélia Rodrigues; 15. na Europa, folha que cai da árvore quando chega o outono; 16. na infância, associada ao berro, alarme de fome; 17. na velhice, fome de colo; 18. névoa úmida que cobre o mundo quando chove dentro da gente. (Ex.: “Não, isso não é lágrima, não. É que a felicidade virou mar dentro de mim e a maré acabou de subir”.)

André Gonçalves

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


As melhores coisas da vida são invisíveis. É por isso que nós fechamos nossos olhos quando nos beijamos, dormimos e sonhamos.

Cazuza

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Minhas bodas de algodão.



Tempo é ternura. Perder tempo é a maior demonstração de afeto. A maior gentileza.(...) O tempo sempre foi algoz dos relacionamentos. Convencionou-se explicar que a paixão é biológica, dura apenas dois anos e o resto da convivência é comodismo. Não é verdade, amor não é intensidade que se extravia na duração.Somente descobriremos a intensidade se permitirmos durar. Se existe disponibilidade para errar e repetir. Quem repete o erro logo se apaixonará pelo defeito mais do que pelo acerto e buscará acertar o erro mais do que confirmar o acerto. Pois errar duas vezes é talento, acertar uma vez é sorte. Acima da obsessão de controlar a rotina e os próximos passos, improvisar para permanecer ao lado da esposa. Interromper o que precisamos para despertar novas necessidades.Intensidade é paciência, é capricho, é não abandonar algo porque não funcionou. É começar a cuidar justamente porque não funcionou. Casais há mais de três décadas juntos perderam tempo. Criaram mais chances do que os demais. Superaram preconceitos. Perdoaram medos. Dobraram o orgulho ao longo das brigas. Dormiram antes de tomar uma decisão.Cederam o que tinham de mais precioso: a chance de outras vidas. Dar uma vida a alguém será sempre maior do que qualquer vida imaginada.


Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 15 de setembro de 2011


- Deixa chover, deixa.

A água lágrima divina vai purificar.
Semente que cair na terra já pode brotar.



... Lembro a flor esqueço o espinho...

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Osciloscópio.


Que eu busque sempre a simplicidade.

Confundi facilidade com simplicidade. Facilidade tem a ver com o caminho, amplo e sem obstáculos. Simplicidade tem a ver com a alma que se conduz por qualquer caminho. Na labuta ou no descanso, o simples sabe se portar sem perder sua essência. Facilidade é promessa, futuro vazio, estátua de sal. Simplicidade salta, rasteja se for preciso, mas não desmancha. O perigo sempre foi embaralhar uma com a outra. E já é tão difícil, neh? Tenho a leve impressão que ser simples nunca foi fácil, assim como amar e permanecer apesar de todas as coisas que tentam te fazer parar. Algo me diz que ser fácil, nunca foi ser feliz. Ser fácil, é fácil e só. É como cair no vácuo.

Como eu descobri que eu te amo? Vinha do seu cheiro queimando minhas fornalhas. Passou por meu coração e entrou nos teus ouvidos. O carinho fuxicou e o escuro espalhou magia. Eu te amei na sua presença e não precisa mais nada que a eternidade de dois corpos deitados, juntos, transpirando o calor que a vida do outro emana. Mas veio também a sua ausência. Enquanto estive sozinha, slides de milhares de fotografias que tirei bem de perto, polaroide. Projeções escuras de um lugar sem você e sem os seus. Veio da dor de derreter do que se provou milagre, do que nós fizemos milagre. Com você, aprendi a não desistir. Eu quero permanecer e te guiar para casa. Vou ser tua casa, você já mora em mim. Amor é sempre, sublime, subliminar.

- O caminho mais fácil, nem sempre é o melhor que o da dor.

Olá, Setembro!


Que você seja bem-vindo e supere as dificuldades de seu antepassado, Agosto.
Gosto de você porque você tem feriado, geralmente chove e as flores... Ah!
As flores colorem esse cerradão da gente.
Passei Agosto rastejando, o corpo todo coberto de pó e os pulmões secos.
Agora quero ficar verde, correr na chuva e dar muitos frutos.
Senhor, hoje eu tenho uma prece: que o azedo desse mundo não destrua o que sobrou de doce em mim.
E que as promessas de vida se cumpram.
Amém.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cheiromorfismo


Sentimento é que nem planta xerófita. Eis que nasce, do nada, num deserto. Acha o chão que combina e pronto. E se a gente não rega, ele permanece. E se a gente ignora, ele cresce. E se a gente tenta sufocar, ele cresce e quem sufoca somos nós . Cresce cada dia mais, no esconderijo. Dá flores, frutos e espinhos e nos deleitamos em cada um deles. Seus ramos vão rompendo barreiras, quebrando as barreiras, demolindo as barreiras. Nada de não. Nada os interrompe, nem caatinga, nem rotina, nem sertão. Até que não possamos mais ignorá-los, afinal, existem cactos de quase vinte metros de altura. E isso porque eles nascem no descaso total da natureza, na tentativa de homicídio constante. Estão lá, bem no fundo de nosso estômago, na eminência de nos fazer perder o controle de vez. Cactos deveriam se chamar teimosia, mas de tão teimosos que são, teimam em se chamar amor.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Vida fácil, fácil, fácil."


Acho que tenho retribuído a vida com muita raiva, nem vou me aprofundar se não me afogo em pessimismos. Enfim ela me deu em troca: uns dias de molho, devo continuar a trabalhar porém nas horas de folga, alço voo. Meu corpo tá arrebentado esses dias, nem agulhas chegam à minha dor. O que era de dentro foi pra fora e como dói, carah. Enfim, tenho tido tempo pra pensar. Hoje vim pra agradecer a oportunidade daquela rotina gostosa que a gente vive quando é criança, e principalmente os rituais, que faziam crer e esperar que todo dia fosse Natal. Valeu pela oportunidade,vida.

Outra coisa, qualquer dia desses você podia me devolver o Cazuza. Ou me emprestar ele.

Tô tentando fazer o que eu posso com o que você fez de mim, mas tá difícil.

sábado, 13 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Seta.

Segredos de liquidificador. Minha cabeça liquidifica, mistura. Quem sou eu? O estômago embrulha. Castrar deve ser o rumo da redenção. Pós-vida, porque nessa vida não há. Sem jeito, a gente morre todo dia aqui. O que a vida quer de mim? Outra parte pior também é enterrar os medos. Vamos nos segurar, porque o horóscopo previu impulsão. Não se pode ter impulsos quando se é um adulto. Mais um comum, me tornei. Isso. Não aquilo, não imaginava um monte de coisa na minha vida e aconteceu. Trem sem freios, mas no trilho. Que é pra ser. A vida é triste meu amigo, e a gente se sufoca a cada dia. No fim, a pele nem é lisa mais. Só as asperezas das cicatrizes. Uma merda só, danada. Será que sua vida, leitor é tão ruim? Será que é só comigo. Deve ser carma. E nas minhas mãos a destruição, a capacidade de bagunçar tudo. E carregar uma culpa enorme. Aquela gente livre, ficou na lembrança. Agora dei meus pulsos, por isso me atei. O jeito é ficar quieta. Não se pode machucar assim os outros. A prece que fica, é que meu passado seja feliz, muito feliz. Quem sabe assim, poderei ressurgir. Quem sabe a vida, depois dessa, sei lá aonde, seja bonita. Os cheiros corroem minhas confusões. Me afasto de meu Cazuza, cada vez mais. Espero que ele esteja num lugar bom, na eternidade e que me conheça quando eu chegar lá. Nesse mistério, eu não vali a pena. Nem valho.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um mês sem feriados.

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus,
fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:qualquer problema , real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão
completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se avida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o
seu dentista. emoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,
juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me
importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco: .


Caio Fernando Abreu

"- que todo grande amor, só é bem grande se for triste..."

Suspicious Minds
Elvis Presley

We're caught in a trap
I can't walk out
Because I love you too much baby

Why can't you see
What you're doing to me
When you don't believe a word I say?

We can't go on together
With suspicious minds
And we can't build our dreams
On suspicious minds

So, if an old friend I know
Drops by to say hello
Would I still see suspicion in your eyes?

Here we go again
Asking where I've been
You can't see these tears are real
I'm crying

We can't go on together
With suspicious minds
And we can't build our dreams
On suspicious minds

Oh let our love survive
Or dry the tears from your eyes
Let's not let a good thing die

When honey, you know
I've never lied to you
Mmm yeah, yeah

domingo, 24 de julho de 2011

Vem aí Joana D'arc, agora sem mim.



Minha cidade é do tipo tradicionalista, com opções restritas e hábitos sociais concretos. Nesse contexto, viveu por anos um "bar-casa-de-show", ponto de encontro durante muito tempo na noite anapolina. Deixo bem claro que este não é um hino de exaltação à Anápolis, nem gosto de viver aqui e pretendo sair logo. Ontem, depois de muito tempo sem sair anoite, fui com meus amigos nesse local e chegando lá tive uma surpresa: era a noite "saideira", o bar fecha definitivamente suas portas. Meus pés saíram do chão, voltei minha história há alguns anos atrás, fui sepultando minhas memórias, estraçalhando cada pedaço, cheia de dor. Minha adolescência escreveu um romance longo, conturbado e emocionante naquele chão. E eu estava ali e vivi cada momento mágico, e agora só posso contar tudo depois. Lá vivi reencontros inesperados, chorei amores, senti frio de tanta saudade, vi decepções com meus próprios olhos, conheci um príncipe encantado... sempre muito bem acompanhada pelos melhores amigos que alguém poderia ter. Fiquei de ressaca no dia seguinte. Não é apego material, aliás, é apego ao abstrato, àquilo que eu não posso mais tocar, àquilo que hoje é só lembrança, por isso é tão difícil dizer "tchau". Senti-me chorosa como se alguém destruísse meu museu pessoal. Olhei o teto, nem quis mais dançar, quis tragar meus últimos minutos de uma bela história. Quis respirar cada gota de suor que eu e meus amigos derramamos ali, quis absorver cada detalhe nas paredes, nos quadros, nos lustres, na falta de luz... As coisas da vida vão mudando, vão ficando mais tristes. As pessoas mudaram, eu mudei, fiquei distante, de olhos afundados. Lamento muito, pois é mais uma coisa da qual sentirei saudades. Completei 20 anos o último dia 17, fase adulta selada e hora de dizer adeus à juventude. Minha história confundiu-se com a história daquela construção. A noite estava gelada, quis ir embora. Talvez, quis partir para não derramar ali mesmo as lágrimas da despedida. Tocava "Suspicious Mind", do Elvis. Eu adorava aquela música.