domingo, 24 de julho de 2011

Vem aí Joana D'arc, agora sem mim.



Minha cidade é do tipo tradicionalista, com opções restritas e hábitos sociais concretos. Nesse contexto, viveu por anos um "bar-casa-de-show", ponto de encontro durante muito tempo na noite anapolina. Deixo bem claro que este não é um hino de exaltação à Anápolis, nem gosto de viver aqui e pretendo sair logo. Ontem, depois de muito tempo sem sair anoite, fui com meus amigos nesse local e chegando lá tive uma surpresa: era a noite "saideira", o bar fecha definitivamente suas portas. Meus pés saíram do chão, voltei minha história há alguns anos atrás, fui sepultando minhas memórias, estraçalhando cada pedaço, cheia de dor. Minha adolescência escreveu um romance longo, conturbado e emocionante naquele chão. E eu estava ali e vivi cada momento mágico, e agora só posso contar tudo depois. Lá vivi reencontros inesperados, chorei amores, senti frio de tanta saudade, vi decepções com meus próprios olhos, conheci um príncipe encantado... sempre muito bem acompanhada pelos melhores amigos que alguém poderia ter. Fiquei de ressaca no dia seguinte. Não é apego material, aliás, é apego ao abstrato, àquilo que eu não posso mais tocar, àquilo que hoje é só lembrança, por isso é tão difícil dizer "tchau". Senti-me chorosa como se alguém destruísse meu museu pessoal. Olhei o teto, nem quis mais dançar, quis tragar meus últimos minutos de uma bela história. Quis respirar cada gota de suor que eu e meus amigos derramamos ali, quis absorver cada detalhe nas paredes, nos quadros, nos lustres, na falta de luz... As coisas da vida vão mudando, vão ficando mais tristes. As pessoas mudaram, eu mudei, fiquei distante, de olhos afundados. Lamento muito, pois é mais uma coisa da qual sentirei saudades. Completei 20 anos o último dia 17, fase adulta selada e hora de dizer adeus à juventude. Minha história confundiu-se com a história daquela construção. A noite estava gelada, quis ir embora. Talvez, quis partir para não derramar ali mesmo as lágrimas da despedida. Tocava "Suspicious Mind", do Elvis. Eu adorava aquela música.