segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cheiromorfismo


Sentimento é que nem planta xerófita. Eis que nasce, do nada, num deserto. Acha o chão que combina e pronto. E se a gente não rega, ele permanece. E se a gente ignora, ele cresce. E se a gente tenta sufocar, ele cresce e quem sufoca somos nós . Cresce cada dia mais, no esconderijo. Dá flores, frutos e espinhos e nos deleitamos em cada um deles. Seus ramos vão rompendo barreiras, quebrando as barreiras, demolindo as barreiras. Nada de não. Nada os interrompe, nem caatinga, nem rotina, nem sertão. Até que não possamos mais ignorá-los, afinal, existem cactos de quase vinte metros de altura. E isso porque eles nascem no descaso total da natureza, na tentativa de homicídio constante. Estão lá, bem no fundo de nosso estômago, na eminência de nos fazer perder o controle de vez. Cactos deveriam se chamar teimosia, mas de tão teimosos que são, teimam em se chamar amor.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

"Vida fácil, fácil, fácil."


Acho que tenho retribuído a vida com muita raiva, nem vou me aprofundar se não me afogo em pessimismos. Enfim ela me deu em troca: uns dias de molho, devo continuar a trabalhar porém nas horas de folga, alço voo. Meu corpo tá arrebentado esses dias, nem agulhas chegam à minha dor. O que era de dentro foi pra fora e como dói, carah. Enfim, tenho tido tempo pra pensar. Hoje vim pra agradecer a oportunidade daquela rotina gostosa que a gente vive quando é criança, e principalmente os rituais, que faziam crer e esperar que todo dia fosse Natal. Valeu pela oportunidade,vida.

Outra coisa, qualquer dia desses você podia me devolver o Cazuza. Ou me emprestar ele.

Tô tentando fazer o que eu posso com o que você fez de mim, mas tá difícil.

sábado, 13 de agosto de 2011

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Seta.

Segredos de liquidificador. Minha cabeça liquidifica, mistura. Quem sou eu? O estômago embrulha. Castrar deve ser o rumo da redenção. Pós-vida, porque nessa vida não há. Sem jeito, a gente morre todo dia aqui. O que a vida quer de mim? Outra parte pior também é enterrar os medos. Vamos nos segurar, porque o horóscopo previu impulsão. Não se pode ter impulsos quando se é um adulto. Mais um comum, me tornei. Isso. Não aquilo, não imaginava um monte de coisa na minha vida e aconteceu. Trem sem freios, mas no trilho. Que é pra ser. A vida é triste meu amigo, e a gente se sufoca a cada dia. No fim, a pele nem é lisa mais. Só as asperezas das cicatrizes. Uma merda só, danada. Será que sua vida, leitor é tão ruim? Será que é só comigo. Deve ser carma. E nas minhas mãos a destruição, a capacidade de bagunçar tudo. E carregar uma culpa enorme. Aquela gente livre, ficou na lembrança. Agora dei meus pulsos, por isso me atei. O jeito é ficar quieta. Não se pode machucar assim os outros. A prece que fica, é que meu passado seja feliz, muito feliz. Quem sabe assim, poderei ressurgir. Quem sabe a vida, depois dessa, sei lá aonde, seja bonita. Os cheiros corroem minhas confusões. Me afasto de meu Cazuza, cada vez mais. Espero que ele esteja num lugar bom, na eternidade e que me conheça quando eu chegar lá. Nesse mistério, eu não vali a pena. Nem valho.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um mês sem feriados.

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante:ir, sobretudo, em frente.
Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir,dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus,
fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições.Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem:qualquer problema , real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará. Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica. Mas pobres ou ricos, há conselhos- ou precauções-úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade...Esquecê-lo tão
completamente quanto possível(santo ZAP!):FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.
Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se avida não deu, ou ele partiu- sem o menor pudor, invente um.Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o
seu dentista. emoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros,
juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques-tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire , a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas- coisas assim são eficientíssimas, pouco me
importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.
Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente nãose deter de mais no tema. Mudar de assunto,digitar rápido o ponto final, sinto muito perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco: .


Caio Fernando Abreu

"- que todo grande amor, só é bem grande se for triste..."

Suspicious Minds
Elvis Presley

We're caught in a trap
I can't walk out
Because I love you too much baby

Why can't you see
What you're doing to me
When you don't believe a word I say?

We can't go on together
With suspicious minds
And we can't build our dreams
On suspicious minds

So, if an old friend I know
Drops by to say hello
Would I still see suspicion in your eyes?

Here we go again
Asking where I've been
You can't see these tears are real
I'm crying

We can't go on together
With suspicious minds
And we can't build our dreams
On suspicious minds

Oh let our love survive
Or dry the tears from your eyes
Let's not let a good thing die

When honey, you know
I've never lied to you
Mmm yeah, yeah