sexta-feira, 8 de novembro de 2013

'É triste a saudade longe de você...'

Perder faz parte da vida. Temos que perder a proteção do seio materno e o medo de dar o primeiro passo. Depois, temos de perder os dentes para outros nascerem. Perdemos amigos porque mudamos de escola. Perdemos coisas o tempo todo: o lápis, o óculos, as chaves. A maioria das perdas servem para melhorias, aquele caminho era necessário por causa disso. O outono é necessário por causa da primavera. Mas eu fui a primeira das bisnetas. E perdi muita coisa. É curioso como perdemos muita coisa também por deixarmos de ver. Nos decepcionamos e deixamos aos poucos de acreditar no outro. Vemos um show de horrores, e paramos de acreditar nas belezas do mundo. Mas parece que só damos conta do ciclo da vida e da nossa impotência, quando aqueles que nos deram início, as raízes começam a partir. Partir para uma dimensão que eu não posso frequentar. Ainda. Demorei a começar a ir em velórios, parece que minha mãe sabia que quando um começasse, sequenciaria uma reação em cadeia. O primeiro a partir foi o vô Geraldo. Dele eu não pude me despedir, porque era pequena demais para estar em hospital. Com ele, tive de dizer adeus às brincadeiras de lego e à coragem que ele demonstrou enfrentando todos quando minha mãe solteira ficou grávida de mim. Ele e a dona Norma foram os únicos. Foi dele também que meu avô herdou o me chamar de "fia". Quando a bisa Maria se foi, eu tinha pouco contato com ela, mas mesmo assim, com ela morreram ave-marias de seis da tarde, o barracão grande da fazenda, os deliciosos cachorros-quentes. Depois, foi a bisa Norma. Ela foi de fato meu grande choque, minha saudade cicatriz. Tive de dar tchau à minha parte Italiana, a uma das melhores pessoas que já existiram na Terra, da paixão por futebol e comida, dos Natais-matinês. Com ela, pilar central, caiu toda a minha família, que está espalhada por aí, em algum lugar. Há dois anos, meu segundo grande choque: um biso saudável que partiu do nada. Padeceram a alegria nata, o dom de contar piadas, o fanatismo pelo São Paulo e pela Rubra e as balinhas sortidas que fizeram meus dias. Sobrou a dona Morena. Personalidade forte, a última das minhas bisavós. Sem seu bem, perdeu o gosto pela vida. E eu a entendo. Em mortes de repente sempre me lembro do texto que o Pedro Bial publicou no dia da morte do Bussunda: morrer é ridículo. Acordar com a morte gritando é silencioso. Dona América foi-se. Ela avisou que estava indo. Sentada do lado de seu túmulo custei a acreditar. Ontem tive de me despedir da última parte antepassada. Adeus fogueiras de São João, batismos e pés de figos, melhor pão de queijo do mundo, mãos que me davam banho, teimosia natural. Engraçado que durante muito tempo vários pensadores questionaram de que eram feitos os homens. Pobre homem, preso à matéria, quis definir-se por água, fogo, terra e água, depois, por sistemas, órgãos, células e átomos. Eu não. Eu sou feita de lego, barracão de fazenda, ave-maria, chá que cura, cachorro-quente, Itália, Natal, futebol, piada, balinha, fanatismo, banho, pé de figo, fogueira e pão de queijo. Com eles morreram grandes pedaços de mim. É difícil viver quando se sabe que a morte realmente existe e pode te surpreender a qualquer hora. O padre disse que a morte não é o fim. Espero em Deus que não. Caso contrário, morrer seria mais ridículo do que viver. Me sinto caindo de costas. Primeira bisneta sem todos os seus 'bisos'. Canceriana sem raiz. Como herança, espero que tudo que me compõe fique e que a bondade, a graça, a teimosia, a bravura, a simplicidade, a coragem e o amor incondicional se encravem em meu DNA para que eu posso passar aos meus filhos aquilo que grandes pessoas me ensinaram e eles não tiveram a chance de conhecer. Espero um dia ser bisa de alguém.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Incompleto.

Uma das coisas que mais me encantam e me assustam é a dualidade da vida. Se um dia é verde, o outro é creme ou sangue. É a imprevisibilidade da vida que me faz perder o sono. Quando o telefone da sua casa toca às 5 da manhã de uma segunda-feira, você reage: põe o coração pela boca. Coisas boas quase nunca acontecem na segunda-feira. Hoje não poderia ter sido diferente. A semana inicia-se com sabor de medo, medo de perder, perder uma pessoa que brilha. Perder alguém de vista é um até logo, dói, mas ainda há o acaso. Mas perder alguém para outra vida, só Deus sabe quando acontecerá o encontro novamente. Nesse dia, vagamos em alerta. À espera do próximo desastre, do resultado do exame. Nesse dia somos colocados frente à frente com nossos fracassos e a impotência nos diminui. O que será que o grande Maestro está fazendo agora? Não é dia de desacreditar, ainda mais em pessoas. Mas é complicado, quando a pessoa a perder a credibilidade é você mesmo e para você mesmo. Dá vontade de ficar quieta, mas não dá. Por causa disso e aquilo, do calor e do céu amarelo. E quando as perdas dependem de nós, ou quando nós poderíamos evitar a perda, um frio retrospecto toma as pernas que bambeiam. Será que poderíamos ter feito mais? O quanto poderíamos ter evitado esta situação? Quem seria capaz de perder tanta gente em uma noite só. Tempo lento, lábio caído, coração angustiado. O fracasso deixa e gente atônito. Com o quê encheremos a alma? A alma que é tanto vazia e que não sabe parar. Como iremos contar o tempo que não pára? A assombrosa estupidez humana! Inesperada. Dia estranho.

sábado, 31 de agosto de 2013


Minha vó acredita na cura pelo amor. É curioso como tal método antiquado contraria as expectativas. Se a cura dependesse de mim, eu optaria pelo caminho mais racional, palpável. O choque da força dura sempre foi a escolha da maioria das partes. Mas ela permaneceu firme, forte, em sua baixa estatura que guarda um coração gigante. E nesses cinco dias ela triunfou. Foi maravilhoso assistir seus olhos brilhantes e suas palavras doces avaliarem o resultado. Minha avó me faz lembrar aquele líder que um dia eu quis tanto tomar como exemplo, o Gandhi. Apesar de todo sofrimento e sacrifício, que se faz necessário, e ela sabe, jamais abandonou suas crenças. E enquanto o mundo todo grita violência, pessoas de paz silenciam. Ao espiar-se talvez cheguemos à conclusão falsa de que nada fazem, quando na verdade é o amor o grande condutor à liberdade. Pode ser que a cura não seja eterna, mas porque você se tornaria humano, senão pela paz de alguns segundos de ternura plena? A violência de uma dor duradoura talvez seja nada comparada à breve paz dos momentos em que o amor toma a direção da nossa cura. No meio de tanto barulho, eu fecho meus olhos e tento escutar quais são os corações que batem junto ao meu. Esse silêncio cala meu medo. Eu ainda não sei o que farei com aquela parte que tiraram uma das coisas que eu mais gostava de fazer na vida. Não posso correr, mas posso nadar. Infelizmente ainda é cedo. E ainda precisarei e muito desses corações - confesso que alguns me surpreenderam- e de seus ombros para que me façam enxergar melhor.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Eu mereço mais que um beliscão na verdade! Eu não fui, eu não vou, e eu não fiquei. Esta tem sido quase que a totalidade da minha rotina. Eu não sei explicar o porquê o tempo me escapa. Não é o tempo e nem a vida que me controla. Logo eu que era tão romântica, que me deixava agir pelo impulso de qualquer paixão. Logo eu que compunha canções à liberdade, estou aqui, marionete do capitalismo. E isso não me agrada nada. Porque o tempo que me tem faltado me impede de estar com meus amigos ou de amar. Me impede de correr, de dormir cedo e na maioria das vezes, não sou eu mesma. Engraçado que semana passada falávamos sobre abraçar o mundo com as pernas. E é exatamente isso que eu faço com cada dia da minha vida, mas além de abraçar o mundo com as pernas, eu meto os pés pelas mãos. Assumi responsabilidades demais, e quase sempre me vejo apenas como a mesma menina. O mundo vai acontecendo, e eu vou me assustando porque em apenas um momento eu faço parte desse mundo, da grande massa. Minha grande frustração é ter que admitir que eu não sou mais senhora do meu destino. Tem tanta coisa fora do lugar, eu estou tão perdida! Queria deitar no colo de Deus e descansar. Eu nunca fui de cumprir muitas promessas, mas agora eu não consigo cumprir uma sequer. E me vejo ficando sozinha, numa bolha gélida, automática e desumana. Qual será minha missão? Acontece que eu não estou dando conta. Hoje meu corpo todo dói como flores, pulsos, tudo cortado. E eu continuo viva. Não entendo porquê. Por que isso tudo se justifica? Hoje mesmo não me aguentei e chorei. Chorei pelo cansaço físico, pela morte diária, pela ingratidão terrestre. Choro pelas ironias que o destino nos prega. Por ter de viver 'da caridade de que me detesta'. Ou de depender do que eu detesto para ficar um pouco menos sozinha. Hoje são projeções de vozes e imagens que me seguram pelo triz de não enlouquecer. Agora me explica. Me explica tudo que eu não entendo. E mata a minha curiosidade de saber porquê um dia frio com cheiro de café e perfume, pode acabar assim, cheio de sangue? Vem falar que isso tudo é normal. Essa estranheza dá vontade de gritar, mas não sei se minha impotência, miudeza ou alma fantasma me permitiria tal alívio.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

terça-feira, 25 de junho de 2013

Target 2



Essa é a primeira vez que vou escrever sobra a viagem da África aqui. Sabe, antes de ir, eu esperava uma reação de comoção gerada pela pobreza do lugar. Acho que na verdade todos tem essa ideia. Acho que todos esperam que a pobreza te comova de alguma forma, te torne uma pessoa melhor de alguma forma, que você aprenda a valorizar o que faz parte da sua vida cotidiana. Falo de bem material. E assim eu fui. Ou melhor e assim eu sonhei que seria minha viagem. Só que até eu chegar lá o caminho foi tão doloroso que quando de fato cheguei, não senti o impacto. Tudo que poderia ser impactante, no final das contas tornou-se curiosidades que se toma conhecimento em uma viagem. Para partir foi necessário romper amarras que nem eu sabia ter. Para partir foi necessário que minha face fosse estapeada, milhões de vezes, para finalmente enxergar que não só o mundo era ingrato, mas também aqueles que estavam muito perto de mim. Tive de ser machucada e decepcionada. Tive que perder noites sem dormir. Tive que sobreviver à mortes diárias. Nos olhos dos meus eu via uma tristeza que parecia que eles estavam me vendo pela última vez. Tive de partir sem a benção. Eu achava que meu escudo era todo amor que havia à minha volta. E eu tive de ir sem escudo. Eu não sabia, mas Deus iria usar muitos anjos desconhecidos para me ajudar e em várias situações ele me carregaria pessoalmente em seu colo. Por isso, enquanto eu estava sozinha no avião em meio a uma tempestade ou a uma turbulência horrorosa, na verdade estava eu e Ele. Quando meus pés congelaram em Paris e eu achava que não podia mais andar, era eu e Ele. Ou até mesmo quando eu tinha de engolir algo que meu estômago se recusava a engolir, éramos Ele e eu. E principalmente quando eu tive sede, saudade ou insônia, ele me colocava de frente para mim mesma. O mais desafiador foi ter de deixar de lado minha dores para servir aos outros. Os outros também tinham dores profundas. Aprendi também que energia negativa pode ser poderosa, eu só não entendo porque tinha de vir de onde eu considerava minha segunda casa. E quando meu corpo ameaçava desabar... Eu cumpri a missão. Sobrevivi ao tempo. Deus não permitiu que eu ficasse doente. Voltei para casa e muitas pessoas me perguntam porque eu não falo sobre a África. Daí eu comento o básico, porque é isso o que eles querem: um guia turístico. Essa foi na verdade uma experiência infernal entre eu, minhas mais contraditórias emoções e Deus. E é nesses dias que percebo o quanto me modifiquei. Eles estavam festejando e eu não estava lá. Eu aprendi a amar não só o amor, mas também o ódio. A África me mudou profundamente. É impossível passar imune por um continente desta proporção. Meus olhos encontram-se bem abertos. E o que me mantém viva é saber que quando existe eu e um sorriso sincero, é na verdade eu e Deus.



terça-feira, 21 de maio de 2013

Sinais de fogo queimam os dedos.


Quando eu ficava assim tão acordada era mais jovem e tinha aula para matar. Hoje tudo que tenho são minhas olheiras. Quantas almas a gente tem para perder? Quantas vidas a gente tem para perder se esse tempo cruel não volta e esgota-se a cada dia? Eu conheço essa sensação de mistério. Sensação amarga. De que me adianta todos esses segredos, saber de tudo se eles são apenas segredos que se acumulam e fazem que tudo se cresça e transborde? Eu não sei o que fazer com os detalhes que essa minha memória inoportuna me traz vez e sempre. De que me adianta tanto segredo se a barreira é intransponível. Agora vejo seu lado, entendo que a muralha para você já foi grande, hoje para mim ela é gigantescamente intransponível. Sei como é difícil não entender as coisas e perder o sono tentando atingir o impossível. Tudo que eu queria era que Ele arrancasse meu coração. Vai entender porque paralelas jamais se cruzarão! Fui mais feliz quando parei de investigar e senti. Só que tem dia que não dá, eu sei. Os mistérios podem te surpreender ou te sufocar. Se tudo passa, quando isso vai passar? A tortura tem sido duríssima. De que me adiantam fotocópias? Quando esses lutos e despedidas irão de vez para que finalmente descanse em paz? Fantasmas de mim mesmo vem me assombrar porque acho que afinal o desejo da vida é rir de tudo isso. Por que tantas mudanças? Por que esquecer é tão complicado? o dia de hoje lateja e rompe-se em saudade! tenho a impressão que todo tempo é tempo perdido e escorre entre os dedos cada segundo mais. Vivendo um museu de grandes novidades. A saudade nos coloca em outra dimensão. Será que você cabe aqui? Hoje não. essa dimensão não se sabe onde, mas é impossível manter os pés no chão. Não há mais chão, todas suas crenças se foram. Nem teto, você quebrou seu teto de vidro. E não há abraços fortes. Há distâncias de tudo. Qual é nosso próprio tempo? Inexistência me dá esse medo do escuro. Riremos em cima, embaixo, ao centro, para dentro. Corta, costura, sutura. O que Você quer de mim?

domingo, 21 de abril de 2013

À espera de um milagre.



Enquanto embarco no ônibus para a minha cidade favorita, penso: onde se escondem essas pessoas interessantes na minha cidade? Porque elas se escondem se deveriam estar nas ruas que é para tornar minha cidade um pouco melhor? Mas não, elas fogem como eu. Fogem de uma cidade que não faz questão de que você se sinta em casa e nem de acolher os filhos teus. Temo que minha cidade favorita esteja infestando-se de feiura também e isso seria uma dor gigante. Onde está o refúgio? Para onde os passarinhos voltam? Onde foi parar minha fé? Nesse escuro gelado sussurrado pelo vento sobre rodas, minha cabeça gira de felicidade por partir. No ônibus assisti a um rapaz que muito me lembrava o que eu era algum tempo atrás ou o que eu acreditava ser o exemplo de ser humano. Ele carregou a mala pesada da senhora pequena e cedeu lugar para uma outra velhinha. Ele vestia roupas de hippie. Olhei pra ele e fiquei triste pois só consegui pensar em ilusão e me perguntei o que ainda mantinha a fé daquele garoto tão viva. Fico me perguntando como me tornei isso e se algum dia essa caminhada para o me tornar mais um irá cessar-se.

Quase que eu eu.



As pessoas falam, falam e falam demais. O mais difícil é perceber quando falam com o coração. Tem chovido muito e assim como as águas, eu caio. Sei que chover é necessário e sempre amei tomar banho de chuva. Assim como as águas, caem perigosamente minhas verdades e minha fé. Sei que 'Deus está na chuva' e por isso ela traz vida. Mas enquanto cai, a chuva destrói, para depois restaurar com esperança. Apesar de amar os banhos de chuva, ainda não é hora, pois por enquanto... Caio.

Minha fé deu um nó (cego?)


É triste como tenho presenciado cenas de ódio e fúria tão frequentemente. Se você me pedir exemplos de cenas deploráveis, posso citar infinitas. O que é mais triste é que eu não assisto jornais. Não é a TV que vem me enviando tais energias. As más vibrações estão ao meu redor, me tocando, e ainda posso limpar a saliva gélida no meu rosto. Com tantas cenas de horror, quase não me lembro aonde o amor foi parar e nem posso citar exemplos. E isso me assusta e me impede de sair de casa. E é por isso que é tão difícil ficar de pé.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Hoje me senti vomitada pelo mundo. Tudo aconteceu de repente.De repente não porque foi do nada, visto que teve uma causa muito em definida e delineada. Foi de repente porque no meio do corredor eu pensei que hoje eu até que estava indo bem, já que eu estava até sorrindo mais e já tinha ganhado quatro abraços seguidos. A vida trágica e cômica me faz rir de tanta dor.E daí vem o de repente, quando você acha que está conseguindo respirar no meio da areia movediça e te estapeia diretamente na cara. Dias assim me dão vergonha de pertencer à raça humana. Na série que eu assisto o personagem principal adora falar que uma mudança de caminho mudou a vida dele toda. E é verdade.  Às vezes o destino faz coisas que só vou entender mais tarde, e essa é uma delas. Hoje quero gritar porque a vida da gente se transforma em um furacão da noite pro dia. Nesses dias a culpa é toda minha e eu me envergonho de ser eu. Não bastasse isso, sempre tem um idiota que vem de algum lugar para esbarrar em você e fazer um grande estrago quando você está no máximo da sua fragilidade. E o que acontece? D-E-S-A-B-A. E hoje não tem quem segure porque as somas dos pesares pesam muito mais que eu nos meus próprios ombros. A crueldade humana me faz querer pertencer à outra raça. Lamento muito. Acho que talvez Deus queira me mostrar que a melhor forma de me relacionar com as pessoas seja essa forma breve, que dura 21 dias, inocentes o bastante para impedir que haja qualquer risco de um envolvimento maior o que, sem importar o tipo de relação estabelecida, encerra-se em flagelação, machucado, perca da fé. Seja por culpa minha e do meu poder auto-destrutivo, ou por outros, na uma gélida incapacidade de lidar com um outro ser humano utilizando-se pelo menos da educação. Lembro também da Espera de um Milagre, e a dor de John Coffee quando finalmente falou sobre o que acontecia na verdade todos os dias no mundo, as pessoas se matam com o próprio amor. Hoje eu consigo entender o cansaço que aquele personagem se referia, mal posso aguentar meu corpo. Alma? Está de brincadeira. Não consigo entender a lógica do que as pessoas fazem com esse mundo e uns com os outros. Se eu não viajar para algum lugar mental longe daqui não sei se poderei ficar em pé amanhã. Outro dia, eu e minha mãe falávamos de Coríntios 13, minha passagem da Bíblia preferida. passeando por essa cidade e sentindo nas veias tudo que as lembranças podem me contar através dos lugares que andei queria voltar num tempo em que eu acreditava e tinha uma fé gigante na certeza de um amor inabalável. Amor pelas pessoas. Achei que tinha me recuperado em orlando, mas a minha fé era trilhões de vezes menor que um grão de mostarda. A dor dilacera meu coração neste quarto escuro, que gira e me leva a cair. No lugar do coração, trago um buraco, cultivado a cada dia por milhares de insetos interiores. Hoje eu me pergunto, que amor é esse? Pertence a raça humana ou somente um Deus poderia senti-lo e praticá-lo? As pessoas me dão uma grande cansaço e o ideal seria dormir por dias e dias. Mas já que eu não posso e tenho que continuar não sei porque, vou girar neste quarto vazio, com meu coração vazio, apertando meus machucados, vomitando tudo aquilo que me mata e abraçando tudo que eu não entendo.

domingo, 7 de abril de 2013

Declaração de Independência.

- Esse é para te ajudar.

De hoje em diante, declaro que você nunca mais terá que tomar coca-cola zero. Faz mal para os rins. Nem comer no McDonald's quando já não aguentar mais. Ou sujar seu jeans na terra molhada do morro da Capuava, porque lá me dava paz. Você não terá que acordar domingo as dez da manhã pra preparar o café para alguém que está morrendo de fome, ou dormir de janela fechada, quando na verdade o que você gosta é de olhar o céu. Menos chocolate, e mais sorvete. Menos séries de humor e mais criminalísticas. Menos desconfianças e promessas e mais realizações. 

Amém.

sábado, 6 de abril de 2013

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam quando ele se perdeu.

Sabe andar de avião encoberto em neblina? Não dá pra ver nada, cara. Não enxergo um palmo á minha frente. Como eu previa o final de semana chegou, rasgando tudo o que há por dentro, fora e ao redor. Em uma cidade que eu não gosto não há mais nada que me prenda e por isso essas lágrimas e os socos no volante. o pé vai bem, roxo. Mas dor física nem se compara à dilaceração que está tudo por dentro. Nesse muito tempo que tenho tido para pensar me lembro sempre de uma amiga. Primeiro olho para o meu quarto que está um regaço. Penso, vou te arrumar logo. E o ânimo? Não vem mesmo. Daí eu me lembro dessa amiga. um dia ela me disse que o quarto da gente é o retrato da nossa alma. Putz! Acho que estou perdida. Lamento pela minha mãe, sabe. Mãe sempre preocupa com essas coisas. calma, ainda tenho 21 anos. essa amiga dizia também que a gente só dá conta de arrumar quarto e o armário depois de organizar as coisas por dentro. O problema é que eu não sei por onde começar e não estou querendo. esse cansaço casado com a falta de sono deixa um lilás escuro nos nossos olhos, que não conseguem sorrir, apenas úmidos. Eu estou nesse avião, porque é péssimo a sensação de estar em um, eu espalho a fumaça, mergulho na neblina, é fumaça para lá e para cá e nada. Fico me perguntando se Deus ainda tem planos para minha vida. tento ver alguma coisa de um futuro, mas que futuro? E se Ele não tiver? Eu rezo para que tudo cicatrize da melhor forma possível, mas por enquanto tudo o que vejo é nada. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Por que Talita Confusão? II


Estou diante de um abismo. Na África era diferente porque por mais que estivéssemos a oceanos de distância, você estava ali comigo o tempo todo, dentro do meu coração. Agora tenho que te mandar embora de dentro e fora de mim. E não é nada fácil porque enquanto as coisas ainda fazem barulho a gente consegue fingir um pouco e ignorar a dor. Mas na madrugada tudo fica em silêncio, e daí o barulho da geladeira soa como um grito que chama essa dor dilacerante de te ter em tudo, em cada pedacinho. Eu sempre soube que depois de anos de uma vida vivida e sonhada juntos, me esqueceria de como é viver por mim mesma. Agora tenho que aprender a viver sozinha. Não posso mais te trazer em meu coração porque você não quer estar mais lá, e eu compreendo. Nesse abismo, eu olho pra baixo e vejo infinitos recortes de uma vida de 21 anos. E um deles especificamente me chama a atenção. Volto agora aos meus 16 anos e vejo que o ciclo se repete, como em várias coisas da vida. Sempre tive essa capacidade gigante de estragar as coisas, causar certa dor ou carregar tamanha dor em mim. Me lembro que aos 16 anos eu era conhecida como Talita Confusão! e isto não me incomodava, porque adolescente é um bicho que ninguém entende. Estava satisfeita de ter uma marca minha. Mas hoje me pergunto em que parte da minha vida isso tudo começou e porque? Será que existem culpados? Tenho essa capacidade de espalhar confusão na vida das pessoas. E não é que esteja ou seja confusa com os meus sentimentos. É que sou dona de uma personalidade ambígua nessa sociedade que já não é nada fácil. Espalho caos em tudo que toco e já não sei mais se tenho tanta certeza que carrego certa luz. Por enquanto meu mundo anda amarelo polaroid e estranhíssimo. Por um abismo, passamos sozinhos. E eu te desejo sorte e torço para não recordar coisas boas ou ruins. Na verdade a memória é um veneno. Gostaria que não houvesse recordações. Talita Confusão!, voltou. Ou melhor, já que essências nunca se esvaem, assim essa menina nunca se foi. 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Let's go to a place where we can be alone and get some rest. ( Mark 6:31)

Se Paris fosse de algodão doce, ele seria... experimente tentar fazer marrom claro usando tinta guache. Pegue cinza, depois vermelho e mergulhe o pincel em um copo cheio de água. É a cor de Paris. Como é bom sentir frio! Paris é uma geladeira que te contamina com vida! Absurdamente, a cidade da luz é gigantescamente monumental. Quase tive de me beliscar para sentir na realidade onde eu poderia estar. E ainda tem as gostosuras. Por entre prédios gigantes, barraquinhas fofíssimas e confeitarias de boneca, escondem-se maravilhas doces. Chocolate. Morangos suculentos. Tudo isto é regado a  quentíssimas e aconchegantes confeitarias de cappuccinos e cafés, porque são nos contrastes mais gritantes que as melhores coisas da vida se revelam. Ao pisar em terra firma, meus pulmões inflaram-se, inundando-se de seus perfumes. As belezas de seus rostos encantaram meus olhos. Não importa o tamanho do sonho, o sonho, ou o tempo. Sonho que se realiza sempre tem o sabor único de um waffle de nutela, o toque da brisa e o desejo desfilar. Na terra da liberdade, na época dos miseráveis, Amélie desfilei em uma pintura surrealista.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013




Seja Feliz

Marisa Monte

Seja feliz
Com seu país
Seja feliz
Sem raiz
Seja feliz
Com seu irmão
Seja feliz
Sem razão
Tão longa a estrada
Tão longa a sina
Tão curta a vida
Tão largo o céu
Tão largo o mar
Tão curta a vida
Curta a vida
Seja legal
Com seu amor
Seja legal
Sem pudor
Seja gentil
Com sua figura
Seja gentil
Sem frescura
Tão longa a estrada
Tão longa a sina
Tão curta a vida
Tão largo o céu
Tão largo o mar
Tão curta a vida
Curta a vida