terça-feira, 25 de junho de 2013

Target 2



Essa é a primeira vez que vou escrever sobra a viagem da África aqui. Sabe, antes de ir, eu esperava uma reação de comoção gerada pela pobreza do lugar. Acho que na verdade todos tem essa ideia. Acho que todos esperam que a pobreza te comova de alguma forma, te torne uma pessoa melhor de alguma forma, que você aprenda a valorizar o que faz parte da sua vida cotidiana. Falo de bem material. E assim eu fui. Ou melhor e assim eu sonhei que seria minha viagem. Só que até eu chegar lá o caminho foi tão doloroso que quando de fato cheguei, não senti o impacto. Tudo que poderia ser impactante, no final das contas tornou-se curiosidades que se toma conhecimento em uma viagem. Para partir foi necessário romper amarras que nem eu sabia ter. Para partir foi necessário que minha face fosse estapeada, milhões de vezes, para finalmente enxergar que não só o mundo era ingrato, mas também aqueles que estavam muito perto de mim. Tive de ser machucada e decepcionada. Tive que perder noites sem dormir. Tive que sobreviver à mortes diárias. Nos olhos dos meus eu via uma tristeza que parecia que eles estavam me vendo pela última vez. Tive de partir sem a benção. Eu achava que meu escudo era todo amor que havia à minha volta. E eu tive de ir sem escudo. Eu não sabia, mas Deus iria usar muitos anjos desconhecidos para me ajudar e em várias situações ele me carregaria pessoalmente em seu colo. Por isso, enquanto eu estava sozinha no avião em meio a uma tempestade ou a uma turbulência horrorosa, na verdade estava eu e Ele. Quando meus pés congelaram em Paris e eu achava que não podia mais andar, era eu e Ele. Ou até mesmo quando eu tinha de engolir algo que meu estômago se recusava a engolir, éramos Ele e eu. E principalmente quando eu tive sede, saudade ou insônia, ele me colocava de frente para mim mesma. O mais desafiador foi ter de deixar de lado minha dores para servir aos outros. Os outros também tinham dores profundas. Aprendi também que energia negativa pode ser poderosa, eu só não entendo porque tinha de vir de onde eu considerava minha segunda casa. E quando meu corpo ameaçava desabar... Eu cumpri a missão. Sobrevivi ao tempo. Deus não permitiu que eu ficasse doente. Voltei para casa e muitas pessoas me perguntam porque eu não falo sobre a África. Daí eu comento o básico, porque é isso o que eles querem: um guia turístico. Essa foi na verdade uma experiência infernal entre eu, minhas mais contraditórias emoções e Deus. E é nesses dias que percebo o quanto me modifiquei. Eles estavam festejando e eu não estava lá. Eu aprendi a amar não só o amor, mas também o ódio. A África me mudou profundamente. É impossível passar imune por um continente desta proporção. Meus olhos encontram-se bem abertos. E o que me mantém viva é saber que quando existe eu e um sorriso sincero, é na verdade eu e Deus.