quarta-feira, 24 de setembro de 2014

"Grande Pátria Desimportante."


Era uma vez um país chamado Brasil. No dia 23 de Setembro houve em Nova York, mais uma tentativa de acordo mundial em prol da proteção daquela que não pode falar por si: a natureza.

"O Brasil, por sua vez, não aderiu à Declaração de Nova York sobre Florestas por discordar do desmatamento zero e pela ausência de distinção no texto entre o que é legal ou não. De acordo com a lei brasileira, é permitido o manejo sustentável de florestas e derrubada de áreas para a agricultura, fatores que restringem a adesão." (http://amazonia.org.br/2014/09/brasil-n%C3%A3o-adere-a-acordo-mundial-que-prev%C3%AA-redu%C3%A7%C3%A3o-do-desmatamento/)

Eu detesto a forma como é feita a política no Brasil. É tudo um jogo de mentiras e uma grande rede de publicidade, tentando vender o produto mais lucrativo da nação: o governo. Quando passo nos sinais e vejo pessoas pulando com bandeiras, vejo meu estômago revirar. Qual é a diferença entre a torcida fanática do Mengão no Maracanã, com suas flâmulas, gritos e agressividade à torcida adversária... e a época de eleições no Brasil?

Em Roma, os gladiadores eram atirados na arena para serem devorados. No Brasil, candidatos estão se devorando na arena, atacando um ao outro em um grande jogo de ofensas, para no final entendermos que de qualquer forma "são todos quadrados".

Ir para fora do Brasil e ter de retornar é um grande choque. O Brasil está anos atrás à organização social dos países desenvolvidos. E ainda se fala que o país está crescendo. Apesar da recessão atual na economia, foi só ela mesma que cresceu. A sociedade anda para trás.

Se você perguntar para um gringo hoje, qual a imagem dele do Brasil, além dos tradicionais bunda e samba, ele irá acrescentar que é uma mina de ouro para as economias estrangeiras. Enquanto isso, a população, a natureza, a saúde e a educação vão muito mal.

Há muito tempo, ganhei uma árvore de presente. E pensando no simbolismo daquilo, ela representava a vontade de crescer saudável, a possibilidade de alcançar os céus, fornecer sombra e favorecer o solo e as águas para que estes perpetuassem pela gerações futuras.

Aqui em Goiás, estamos fritando de calor. A seca abre crateras no solo, nos lábios e nos pulmões. Em São Paulo, a falta de água faz caber um braço nas valas ressecadas da terra. E ainda há aqueles que não acreditam em aquecimento global, mudança climática e defendem que é preciso continuar desmatando para que os bancos e os ricos engordem seus bolsos. A economia cresce.

Uma das melhores definições que já ouvi de meu país foi a de que ele é "um anão diplomático". Uma nação feita de gente que assiste a tudo em cima do muro e não quer sair da zona de conforto para não criar "divergências", só pode ser definida dessa forma. 

Agora, querida presidenta, alegar que o Brasil não aderiu ao acordo porque não participou da elaboração dele e não pôde fazer alterações? Francamente, um anão diplomático que nunca reivindicou nada não teria voz alguma para interferir coisa alguma. A Amazônia, o Cerrado, a nascente do São Francisco, o meu Araguaia, seguem desprotegidos enquanto desaparecem da história.

Até os EUA aderiram ao acordo. Fato surpreendente, tratando-se do país mais capitalista do mundo.Enquanto isso, o Brasil caminha para trás, em desrespeito escancarado ao seu povo, ao sofrimento dele e à generosa mãe natureza.

Neste país de falsa democracia e liberdade de expressão, impera a submissão dos alienados ao governo. Será que há perspectiva de melhora para este doente terminal? Sempre defendi Gandhi, mas algumas revoluções só conseguem acordar depois que o chão for manchado de vermelho. Vermelho sangue.


terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais" - Tao Te-King: Lao-Tse.


Salvo as falhas de memória, acho que de longe este é o surto mais grave que já me ocorreu. Dependendo do ângulo de visão, a gente perde a cabeça por uma coisinha mínima. Mas não é. A coisinha mínima é na verdade a última gota que faz o vaso que carregamos sobre os ombros, transbordar. "O corpo que entorta, para a lata ficar reta." Entortar o corpo para manter o equilíbrio a qualquer custo, dói. E é por isso que um dos assuntos que mais me intrigaram sempre é: o que divide a sanidade da loucura? O que segura a gente?
Hoje veio a chuva. Tive que caminhar sob a água. Por fora, uma moça que caminha para abrir o carro. Por dentro, uma menina que não pode se aguentar de vontade de tomar chuva, tirar a roupa e correr o mais rápido que puder, ali mesmo naquele campo.
Também gostaria de vender o carro agora e voltar a andar de bicicleta. O que será que segura a mão para que ela não aperte o FODA-SE? E quando é que vou saber se a corda arrebentar?
Por um bom tempo, esqueci dos "insetos interiores". Ignoramos que o homem é um complexo de impossibilidades, morte e merda. Tudo em nome de um voto de confiança na ... humanidade? Bondade? E quando se cai: não acredito que caí nessa de novo!
É tudo tão previsível que assusta. E mesmo assim, depois de tanta experiência, o que faz tentar repetidamente?
Ingratidão. Falta de reconhecimento. Doar o máximo e o sono. Pular as refeições. Corpo que padece em múltiplas visões de uma mesma história. Visitas inesperadas. Gritos de dor. Dúvidas da cor do céu. O bem e o mal. Cegueira em período integral. No auge do cansaço moral e generalizado, a visão panorâmica das verdades é jocosa. No que crer? A questão é: para quê fazer isso tudo?
Não há dança, programa ou sexo capaz de colorir o dessabor que o desmoronamento do meu mundo provocou.
De alguma forma, sempre acreditei na abstinência. Para remissão dos pecados. Ou para saciar essa sede maluca de buscar e ir de encontro a si mesmo. Em um mundo isolado, acaba-se por encontrar a si mesmo, nu e cheio de arranhões e amarguras. Tem que ser assim. E o que sobrar será classificado como fé.
Acho que na realidade a culpa não seja de ninguém, além de nós mesmos. Vendemos nossas vidas diariamente. Nos prendemos voluntariamente  grades convidativas, promissoras, traiçoeiras e fantasmagóricas.
E a alma exausta e castrada implora pela rendição da covardia em nome de um pedido de liberdade que pulsa a cada segundo.

sábado, 13 de setembro de 2014

Sem chaveco.

Se eu soubesse o quanto o ensino médio seria importante na minha vida, juro que teria prestado muito mais atenção. Em mais uma daquelas histórias de anjos de carne e osso, forma-se a imagem que tenho hoje de maus professores da época. Um deles, um dia, estava citando algum autor e de repente, me vi congelada em uma frase: Case-se com alguém que você goste de conversar.
Ironicamente, nós não acreditamos em casamento. E dentre tantas incógnitas, estou certa de que foi você quem a vida escolheu para a minha eternidade. "Calma! Não estou te pedindo em casamento." É que, dando nome às pessoas, te chamaria de sombra de uma interrogação.
Existe uma história de uma menina que tenta fugir da própria sombra. Ela se mexe, ergue os pés, vira pirueta, mas nada faz com que a sombra pare de acompanhar a menina para onde quer que ela vá. Fiz oração, promessa, renúncia; mudei os passos, os continentes e até as pessoas. A sombra atravessa oceanos, sonhos e acasos para me achar. E nos sinais mais singelos, eu sei, como num sussurro: você está ali. E sempre vai estar.
Eu gosto de ser parte desta incógnita. Porque eu te juro que os anos estão passando, a gente se transformando e tudo continua ali, me lembrando de nunca esquecer da magia que pode ser os mistérios da vida.
Há gente que crê em outras vidas. Outras não. Outras acreditam em anjos. Outras em carma. E não importa para onde olhar, tentando compreender esse sentimento. Ele pode ser tudo. Ou pode ser nada. Talvez sejamos almas gêmeas de vidas passadas que são anjos eternos de carne e osso nessa única vida, vivda e aproveitada por nós. À nossa maneira. Confuso, como eu. E de repente, nada disso faz sentido. Somos nada. Recalque mal resolvido. Atração evolutiva. Cama mal acabada. Refúgio ou projeção. Nada ou tudo. Não há quem explique a inseparação.
Há um grande fascínio por trás das coisas que não conseguimos controlar. Se você some na realidade, é visitante assíduo dos meus sonhos. Sabe... quando estamos à beira da piscina gelada nos preparando para pular? É você quem grita: Pule!
Gosto de ser quem eu posso mostrar a você. Você é realmente a única pessoa no mundo que já me viu verdadeiramente. De porre. De drama. De alma. E até triste.Adoro não precisar de escrúpulos, de ter anulado a palavra 'desculpa' do nosso vocabulário e da juventude que a sua voz me traz. É você quem tem nas mãos meu coração totalmente aberto. Gosto também quando você me assombra pelas ruas, pelas músicas e pelas pessoas. 
Amo você saber que é preciso ser bom com os outros, afinal este pode ser o único sentido real da vida. Sei que às vezes é muito difícil. Mas se me pedirem uma fotografia sua, entregarei a de alguém que salvou minha vida várias vezes.
O cheiro da chuva. Os melhores planos. Que eu tenho a certeza íntima que um dia se realizarão. E seremos avisados quando esse dia chegar (AMEM!). Você me ensinou a esperar, sem ficar irritada. Simplesmente, porque a vida é assim. Será que somos feitos de arrepio ou de temperatura? De sexo ou de amor? De superfície ou de alma? O meu "não sei". Voltando agora ao começo do texto.
Fico feliz porque a vida escolheu para a minha eternidade aquele que eu mais gostei de conversar. Há assuntos que nunca se findam.