terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Vamos de Los Hermanos, (Sempre.)

Os Pássaros

Los Hermanos

Eu aflito e só,
Confuso e sem você por aqui.
Assim eu sonhei
Mas isso eu não quis.
Que diferença? o dia se fez
Assim.
Há um conflito um nó
Eu difuso enfim
Os pássaros vêm
Me levar aí
Visitar o céu
E pra ver você levantando o véu
Pra mim.
Mas eles só me vêem
Quando eu já não sei
Se eu estou são,
O que é um sonho ruim,
E o que é um sonho bom.
Que diferença? a vida é igual,
assim e eu não sei
Eu não sei...
Não sei...
Eu não sei..
Se isso é você.
Quem bate aí?
Se é pra eu te ver então deixa eu dormir.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Onde você estava Natal passado?


Eu me lembro muito nitidamente de onde eu estava há 365 dias trás. Me recordo de acordar bem tarde todas as manhãs de um recesso abençoado. O sorriso daquela criança iluminava o quarto e a minha vida. Os barulhos daquela turminha me faziam acreditar que meu coração estava quente e a minha alma em paz. 
"Especialmente para os cancerianos", toda a minha verdade resumia-se a família. Lá eu estava em meu devido lugar, cheia de sonhos, escolhendo as cores que iriam pintar os meus dias. Juntos, acreditávamos realmente que aos pouquinhos poderíamos mudar o mundo ao nosso redor. 
Aquele menino não era meu filho, mas poderia ser. Eu queria pegar toda a dor que encobria seu corpinho de 5 anos e transferir para a minha vida. Demos alimento, roupa, calçado e brinquedos, mas ao longo do ano percebi que um mês foi capaz de germinar sementes virtuosas dentro daquele pequeno coração. Demos de herança a ele o carinho, o abraço, momentos de infância e convivência familiar que ele nunca tinha tido. Nessa falta de fé, eu ainda acredito no coração nobre daquele menino travesso.
E era exatamente aquela imagem que eu desejei para o meu ano novo. Eu estava pronta para construir a minha própria família. E poderia ter sido assim, mas não foi. Dizem que é devido ao primeiro ano de casamento, mas nada disso importa, porque não sobrevivemos.
Eu fui o tipo de garota, e depois moça, que era apaixonada pelo Natal. Tipo que viajava horas para ver uma decoração que havia em algum lugar, que escrevia carta para o Papai Noel, que acordava as 5 da manhã para fazer café da manhã para os meus, que passava madrugadas escrevendo cartões que não deixassem as pessoas esquecerem de quanto eu as amava. Armar a árvore era dia de festa, cozinhar juntos e cantar canções de como era belo estar ali. Na véspera, eu me postava ao lado da árvore e junto a Jesus menino eu rezava sem contar o tempo, acreditando imensamente que ali tudo renasceria.
E hoje, quando o desespero de um fim eminente se aproximava, eu me peguei questionando: onde você estava Natal passado? Eu estava fazendo alguém feliz. Meu coração estava aberto. Eu vivia a inocência de sonhos claros e belos.
E hoje estou aqui, sem me importar com tudo aquilo que fazia de mim eu. Assustada com a velocidade do calendário, mas confiante de que os dias apenas passem depressa, indo em direção a não sei o quê. 
Sei que quando o relógio tocar meia-noite, tudo irá se desfazer bem facilmente. A vida é uma coleção de eternas despedidas. Fico me perguntando onde tudo se quebrou. E enquanto eu pensava em tudo isso, só consegui te olhar nos olhos e dizer que a vida é mesmo muito triste.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Fotografias ao avesso.

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Às vezes tenho a impressão de que não passamos de meras vitrines a circular por esse mundo. A pessoa tatuada é taxada especialmente como essa vitrine ambulante. Acho que na verdade as tatuagens não passam de uma bula: decifra-me. Poucos tem essa habilidade de chegar tão fundo na alma de uma pessoa, tornando-se capaz de ler a camada mais superficial do que é ser humano: a pele. Tatuagens são uma espécie de código que conta a história de uma vida toda, e não é apenas um olhar que vai compreender ou vivenciar qualquer tipo de obra de arte. Ou devoro-te.
São poucas as coisas que me irritam na vida. Dentre elas podemos citar grito, trânsito, futilidade e "você vai se arrepender de ter feito essa tatuagem no futuro."
Alguns dias atrás fui abordada por uma senhora: "Uma moça tão bonita, doce e delicada com essas tatuagens. Não pensa num futuro? E se você passar num concurso?". Bom, se eu passar em um concurso... primeiro, se eu fizer um concurso estarei abrindo mão de tudo aquilo que busquei da vida: paixão, desafio e mudança. Se eu passar num concurso e tiver que abrir mão das minhas tatuagens, aquele lugar não é pra mim, porque estaria abrindo mão de uma história escrita em tinta em minha própria pele. Pode não parecer, mas aquilo sou eu. Não é um hobbie. Eu tive que sangrar, e tenho que sangrar todos os dias porque a vida gosta de provar que a gente está vivo e bem capaz de sentir toda a dor do mundo. Sim, um dia quis ser pássaro e agora tenho eles como a utopia da liberdade. Ela é um lembrete, um post-it diário de: não se esqueça de quem você é. E por último, o laço que uniu nós três é de um amor incondicional e infinito.
E ainda faltam muito mais, só tenho 23 anos de idade. Ainda tem a árvore, o espiral, a pintura rupestre e o que mais a vida me apresentar.
Depois me aparece um padre. Poxa! A missa estava tão legal até Deus ser pintado como o cara superficial que julga as pessoas pelo exterior. Engraçado neh? Tudo não passa de um grande espelho humano. Deveria ser ao contrário... imagem e semelhança...
Há um mês atrás, fui apresentada a uma música maravilhosa: Ink, do Coldplay. E agora quando as pessoas me perguntarem se doeu, vou dizer: 'Got a tattoo and the pain is alright. Porque eles não fazem ideia do quanto não dói ser ferido por fora. Um risco na pele não é nada comparado ao interior que desmorona. Será que a gente faz ideia do quanto podemos suportar?
Boa notícia: não tenho mais medo da morte.

E o Chris Martin canta: "All I know is that I love you so So much that it hurts" e Eu BERRO: Got a tattoo and the pain's alright!!!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

E aí, já tomou sua dose de analgésico hoje?


Quem me conheceu profundamente há alguns meses atrás, sabia que eu era totalmente contra o uso de drogas, lícitas ou ilícitas.Eu achava que as drogas, assim como a psicanálise, eram distorções da verdade, meios pagos de fuga. Tudo em nome de um santo equilíbrio ausente.
Se eu tinha uma cólica, aguentava firme que era para sentir a natureza da dor. Dores de cabeça, de hérnia, de ombro, eram pequenas superações diárias. Formas de dizer que eu ainda podia ver a verdade e que as coisas ainda estavam sob meu controle.
E cá estou eu, alguns meses depois, chocada por ouvir uma música que canta meu mantra desaparecido. Senti muitas saudades de uma época em que eu realmente buscava o equilíbrio. Respirar não era difícil e eu sabia fechar os olhos e honrar a divindade que havia em mim. Meu mantra já ganhou um texto por aqui, há muito, muito tempo atrás.
Hoje me deparei com um comprimido difícil de engolir na mão direita. Percebi que aquelas 750 gramas de analgésico haviam se transformado no meu hábito noturno casual. Depois de um dia de sobrevivência a cabeça pulsa, e meu corpo, que já não aguenta mais nada, não iria suportar mais essa dor. 
Em inglês, analgésico é "painkiller". Traduzindo literalmente, os comprimidos mágicos seriam os "assassinos da dor". Um assassinato que dura de 6 a 8 horas, infelizmente. 
Eu que tanto busquei o equilíbrio e disse não às químicas, agora me rendo aos comprimidos diários. E é nesse momento que sabemos o quão distante estamos de nós mesmos.
Sempre via nos filmes norte-americanos aquelas pessoas que preenchiam seus armários de banheiro com medicamentos. Eu sei que é uma patologia social, mas eu não entendia o porquê.
Por que pessoas que vivem em um país de primeiro mundo, com acesso a uma boa qualidade de vida, se drogariam todas as noites para conseguir dormir? O negócio é que o valor da vida decresce quando o dinheiro aumento.Bem-vindos à era da banalização.
Não há espaço para carinho e a loucura enche o lugar com as sombras de uma caixa de pandora repleta de futilidades e superficialidades. Some o toque, o olhar e as demonstrações de amor real.
Sinceramente, hoje vi uma cena que me provocou ainda mais asco deste mundo cansativo. Não consigo compreender a falta de lealdade escancarada. Que o ser humano era desleal eu já sabia, mas o que mais me coloca em parafusos é ver que os machucados estão sendo deixados no colo de pessoas que tem um bom coração. Pessoas que apenas derramam doçura. E lá estão elas, vendo tudo que acreditavam ser derretido pela falta de lealdade e humanidade daquele que chamou de amigo.
Antigamente, ou era suficiente ou se pregava que era suficiente ser bom e fazer o bem. Hoje em dia essa balança está desregulada, distribuindo feridas gratuitas e espalhando a efemeridade da "desimportância" das relações humanas. A vida tem pago em moeda desproporcional aqueles que fazem amor. 
A amizade deveria ser a forma mais forte de comprometimento. Dá vontade de mandar certas pessoas calarem a boca: pare de cuspir abelhas. Ferrões matam.
E é por isso que os americanos ou eu tomam diariamente sua dose de assassinos de dor. Serão oito horas de fôlego, disfarçando a falta de força para lutar por um equilíbrio real. Haja fé para honrar a divindade que há em você. Cadê ?

domingo, 7 de dezembro de 2014

Serpente.


Sabe aquela cena do desenho animado quando o personagem corre até que  chega em um penhasco? Ele desaba e enquanto eles caiam, meu coração de criança ficava sem ar. Mas, do nada, surgia um tronco de árvore e ali eles se agarravam. Pelo menos por um instante, tudo estava a salvo.
E foi assim que eu resolvi passar meu final de semana. Os finais de semana, especialmente, são desesperadores. O choro dos meus olhos é incessante, sou preenchida por vazio e medo. A vida insiste em existir, por mais que eu diga não. O tempo berra em meus ouvidos e não me deixa dormir. 
Fiz as malas e parti para a estrada, vestida por uma coragem que há muito tempo me faltava. Recentemente, eu havia desenvolvido um pânico da combinação: dirigir e rodovias. Tinha a impressão de que elas me levariam a apenas um destino: o hospital que mantinha a vida da minha irmã por um triz.
Mas desta vez eu fui. Senti falta de ter suas mãos para segurar. Mas Deus me protegeu com aquela cortina de chuva que cortava os sons à minha volta e me dizia: comigo você está segura.
Me lembrei da cena do desenho porque sim, meu mundo desaba. Ando caindo de um penhasco infinito, soterrada por tudo aquilo que eu conhecia sobre amor e verdade. Tenho que encarar meus medos de frente e dessa vez não há ninguém para me segurar ou me proteger.
Dentre os muitos, tive que enfrentar sozinha aranhas, água congelante, mordidinhas de peixes, o silêncio horroroso de um quarto vazio e o mais terrível: minha própria companhia. O que me acompanhará por uma longa jornada...
Mas, no meio disso tudo, havia um pequeno galho no qual eu podia me agarrar. Deus mandou que eu treinasse meus dragões e à noite, quando eu achei que não aguentaria mais, Ele pediu que Rubem Alves me fizesse um cafuné mineiro. Consegui dormir, finalmente. Me agarrei aos galho como alguém, que cai de um penhasco, tem sua única chance de sobrevivência.
Quando eu tinha 12 ou 13 anos, li um texto que falava sobre um homem que passou a vida buscando Deus (ainda vou encontrar esse texto!) Enquanto tudo esfarela, enquanto vejo que as pessoas simplesmente não se importam, eu só pude ir de encontro às duas únicas coisas verdadeiras: comida e natureza. O homem do texto, constatou por fim que Deus estava o tempo todo dentro dele.
Eu encontrei com Deus na água congelante de um rio que aqueceu meu coração. Deus é verdade. E é por isso que ele está na natureza. A gente peca por depositar nossas verdades nos homens. Homens se espatifam como bolhas de sabão. Foi congelando meu corpo que encontrei forças para sobreviver a esse domingo. Passo razoavelmente bem, corpo cansado, respirando com dificuldade.