segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Longo e reflexivo.



"Enquanto eu imaginar que 'Deus' é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus.Eu, que jamais me habituei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo da minha vida maior não se fará. enquanto eu inventar Deus ele não existe."(Clarisse Lispector)


Advertência: Se você procura aqui argumentos que comprovem ou não a existência de Deus, vá ler outro blog. Sou agnóstica.Ah! E quem não sabe o que é agnóstico, vai ler um dicionário.

A vida é um mistério, e a ciência vive em busca da chave do que está escondido por trás do inexplicável. O homem perante a beleza das flores, a perfeição da gestação ou na contrução de uma célula diferente, apoia-se na figura singular de Deus.Esse Deus é atribuído como criador do amor ou da falta dele, do destino, da saúde, das cores, dos cheiros e dos gostos.Deus que mantém a batida do núcleo terrestre sem cessar. Deus que cria os homens e o maestro perfeiço de tudo que não se entende ou que se admira.O Deus sem face.

Daí surge o homem, de forma totalmente contestável e incerta, numa hora desconhecida de parto da história. Esse homem cai como uma pluma no mundo nu do Deus sem face e vai modificando-o.Seus passos, antes leves como uma pluma, vão pesando como bomba. O homem passa a colocar 'sua cara', numa espécie de decoração, no mundo nu do Deus sem face. Arranca as árvores e põe concreto, desvia os fluxos do rio e coloca onde lhe convém, mata animas e retira as cabeça raras para enfeitar suas salas. e nesse fluxo de mimos,vaidades ou avanços científicos, o homem aprende a brincar e Deus. Só que não existe um só homem no planeta, eles são bilhões. São bilhões de mentes distintas, cada uma com seu pensamento de mundo. e o homem passa a ser 'o lobo do homem'. O mundo passa a ser a orgia dos deuses em busca do reino absoluto e seus súditos.

Surge então as 'ideologias', que é um conjuntos de pequenos deuses com semelhança de mundo pensado.A primeira a subir no trono é a 'ideologia' Igreja, a deusa com cara de Clero. A deusa de testa franzida e autoritária, da que amedronta e pune.Deusa monogâmica e sem sexo.Deusa da fogueira. Deusa que arma um céu de perfeição e entretenimento para manter seus súditos engessados e horrorizados com o ranger de dentes do inferno de fogo.Fogo da fogueira da própria deusa. A deusa, por não ser deusa coisíssima nenhuma dá brechas hipócritas e escandalizantes, e um súdito qualquer ouve seus erros. Maquiamos então um novo rosto para deus, o deus reformado: um deus sorriso, de luxo e riqueza. Deus fica burguês.Num outro canto deus já veste outra mascara: o deus profeta, que não come carne de porco. Deus poligâmico e masculino.Deus barbudo que esconde seu rosto de mulher. E deus vai pagando constantes cirurgias plásticas... vira orixá alegra, bigode de Hitler, bonecos de voodoo, bebe o sangue de carneiros, dessepa clitóris de prazer, ora namora heterossexuais, ora aceita homossexuais, circunsida judeus... Deus vai sendo gueera de deuses; deus ariano que extermina deus judeu; deus cristão que mata deus mouro; deus católico irlandês que devora deus protestante irlandês; deus palestino que explode deus semita; deus branco que 'civiliza' deus negro; deus ocidental que defama deus oriental; e tudo isso numa reciprocidade incrível entre todos eles. Na orgia dos deus de olhos puxados ou claro ou escuros, o deus sem face vai sendo platéia ignorada. o único traço comum a todos os deuses dos homens são os olhos: olhos cegos. Deuses cegos que não enxergam o poder do Deus sem rosto. Ninguém vê o óbvio.

A natureza caótica procura lembrar os deuses homens que para brincar de Deus tem que respeitar a maior regra de um Deus: a vida. E a natureza chorosa resolve brincar de vida com os humanos e manda suas catástrofes, em que percebemos que a vida realmente é um brinquedo frágil que pode ser arrancado por qualquer vento mais forte que a gente não pode controlar. Deus não está nas sinagogas escandalozas e nem no ouro que decora as taças de vinho.O grande erro humano foi querer vestir e mascarar o Deus sem rosto. Se Deus veste nossas fantasias de carnaval, prefiro que Ele não exista. Deus está em tudo que não tem um rosto humano. Deus está lavando com água e sabão o blush que lhe passaram na bochecha, ele só quer ser um Deus não inventado e que não precisa agradar a opinião dos outros como os seres humanos. Profeticamente ou não , mais cedo ou mais tarde sua invisibilidade será notada e veremos o rosto furioso de um Deus sem bigode, sem piercing, sem face.

" Eu acredito no Deus que criou os homens, e não no Deus que os homens criaram."


















quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Quando estoura a bolha da sola do pé...


Cena: estudante de cabelos medianos,ruivos e com mexas roxas,de altura mediana, olhos e pele claros colocando data numa folha de caderno sentada numa carteira da escola.
"Hummm... hoje é dia ... 7 de novembro de 2008 ... 28 dias... PARA O NATAL! Mas já?Meu Deus!"
(Lágrimas)
Lembro-me bem do começo deste ano. Ouvi dizer, segundo o horóscopo chinês, que este seria o ano do rato, portanto passaria ligeiro, efêmero e fulgás... um perigo em correria constante que só nos damos conta de sua existência quando enfim passa por nós. Daí pensei: "Balela! o tempo não acelera... seu ritmo é o mesmo todos os anos, não tem lógica."
E me vi cheia de sonhos, planos, vontades e novidades. Namoro novo, amigos novos. Aquele ar palpitante e quente me dava a impressão de que desta vez estaria madura e sábia o suficiente para viver intensamente os dias que me foram dados.
Balela?Faz-me rir o modo pelo qual somos constantemente traídos por nossos próprios pensamentos.Não sei se o horóscopo chinês teve algo a ver com isso, confesso que não ando muito mística ultimamente. Sei que é normal fazer planos e frustar-se diante de nossa pequenez perante a vida, isso é óbvio. Mas esse ano foi anormal para mim.Foi um ano de viver na corda bamba, economicamente ou pessoalmente falando.Foi o ano da indecisão... (da carreira, do amor, da amizade, do que fazer) ... que decidiu o próximo futuro do mundo: na crise, nas eleições municipais, nos direitos humanos. Barac nos EUA, suspensão do casamento gay na Califórnia, o caso Eloá e Isabella Nardoni, a Guerra entre Rússia e Geórgia... O ser humano louci e frio buscando desesperadamente a salvação para o mundo furioso e quente, muito quente. Ao meu ver a solução para o aquecimento global é a seguinte: sugar a frieza e a desvalorização da vida dentro de cada coração humano, estocar num recipiente gigantesco e lançar sobre a atmosfera pelante. Pronto! Corremos até o risco de voltar à Era Glacial!
Tantos aniversários... a Constituição de 88, o histórico ano de 68, a imigração japonesa, o Machado de Assis,etc... Tanta vela soprada para comemorar tanta falta de vida!
Satatus: Meu peito queima por dentro com a dor (gigantesca dor) de todos os tombos que participei ou presenciei em 2008; dói cada veia por tudo que deixei de fazer, de amar, de sorrir; arde em mim o rosto de quem deixei para trás, de quem deixei com fome, de quem deixei com sede e frio.Me apunhala cada virtude minha que contradiz, por mim mesma e me tornei tão igual; cada lugar que deixei de estar; cada 'bom dia' que não desejei. AH! Perdi tanto! E apenas arrepender-se seria fácil demais. Sinto-me então anestesiada que me torna impotente diante do tempo que desperdicei, e com "saudade de tudo que eu ainda não vi".
Agora já é novembro e o ano do rato passou quase voando por mim, entrou num buraco na parede da minha própria casa, sem que eu, já caída no chão, pudesse apanhá-lo.
O ano de 2007 foi perfeito e completo demais, 2008 tinha mesmo de ser tão dolorido: é a lei do maldito equilíbrio vital e muito prazer só se cura com muita dor. Não entendo qual o pecado em estar tão feliz. Só sei que a vida trabalha para mesclar uma pitada de dor e uma pitada de alegria em cada curva que temos pelo caminho. Deve ser só para isso mesmo: sangrar,sangrar e sangrar e vermos, humildemente o quanto somos insignificantes diante das forças ocultas. Vai ver a vida é sado-mazoquista, visto que dói em mim e reflete nela, porque se eu deixo de existir a vida também some.
Mas ainda é novembro e tudo isso já me dói...e me grita,e me chora..e me chama....