terça-feira, 26 de maio de 2020

sábado, 20 de outubro de 2018

"O imprevisível dos lugares (incríveis) Perdidos sem mim..."

"Escrever é tão difícil que os autores, tendo passado o inferno na Terra, escaparão de qualquer punição depois." (Jessamyn West)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

"As guerras são todas tristes, e não tem nada demais."



"Em breve será 11h00. Horário em que a primeira bala foi disparada pelo exército britânico na Primeira Guerra Mundial. Convidamos a todos a se juntarem a nós durante dois minutos de silêncio em respeito à memória daqueles que deram suas vidas por este país."

Imóveis, as pessoas estacionaram-se em todo e qualquer lugar. Absoluto silêncio. E cá estou eu, novamente, no país que protesta por causa de lagostas. Durante estes dois minutos, fiquei pensando na guerra. Acredito que todos os motivos que levam à explosão de uma guerra são estúpidos e poderiam ser facilmente resolvidos com a conversa e o ceder. Depois, pensei que se meu país entrasse em guerra e eu fosse convocada à lutar, só o faria se fosse obrigada.

Mas o que faz um país parar, literalmente, por dois minutos, em memória daqueles que deram sua vida em nome da pátria? Essa pátria que vemos pular nos broches, nas pessoas caladas, na salva de palmas, é um ato diário de amor à identidade que os orgulha. Tenho certeza que várias dessas pessoas que lutaram na I Guerra Mundial não foram por mera obrigação, mas se voluntariaram. Ao partir, certamente sentiram saudade dos que ficaram em casa e também tiveram medo de morrer. Entretanto, creio que a motivação maior, que os fez ir em frente e marchar, foi a ferida aberta causada por aqueles que ameaçavam sua identidade, o ser britânico. A identidade é aquilo que somos. Tudo o mais é passageiro. Mas essa essência, quando ameaçada, nos faz sangrar. 

Hoje, se o Brasil entrasse em uma guerra, eu não iria nem por obrigação. Me sinto sem pátria, estrangeira nas terras canarinhas. Claro, pelos motivos que todos já sabem: corrupção, violência, saúde e educação precárias. É triste pensar que sempre foi assim. Só está mais à mostra agora. Gostaria muito que fosse melhor no futuro. Quem sabe?

Contudo, o que mais desperta em mim o sentimento de não pertencer é ser obrigada a carregar um prédio nas costas diariamente, fingindo ser o que não se é, numa prisão perpétua em si mesmo. Porque o Brasil que condena a liberdade, o negro, o direito humano, a mulher, o velho, o trabalhador, o homo afetivo, a liberdade religiosa, Michelangelo, Rafael, Nietzsche e Cazuza, não me representa. 

Sinceramente fico pensando à respeito do que Deus está achando de nós. É essa hipocrisia que me enoja. Todos os dias surgem mais vídeos, postagens e comentários extremistas que segregam todos nós que somos um só povo. Vozes clamam o retorno de um autoritarismo que torturou e dilacerou famílias inteiras. E eu sou obrigada a me calar, senão....

Então o asco cresce por dentro, tomando conta de tudo, escorrendo pelos olhos, causando hemorragia interna.... tudo que se quer ao acordar é ter algo na mão que dispare uma bala e te proporcione a benção de não existir mais. Não há coisa tão grave que ter de usar uma máscara o tempo todo na penúria de sobreviver mais 24 horas. Ter medo de apanhar, de perder o emprego, de machucarem seu amor. Viver desconfiando de Deus, dos homens e de cada batida de um coração. Porque este Deus pintado por eles está longe de prometer qualquer possibilidade de um futuro de leveza, paz e amor.

Tenho que voltar à minha não pátria daqui uns dias. E o que eu sinto é uma enorme preguiça. Pelo menos, mudando de perspectiva, consegui remover a máscara, respirar fundo e ver o bom rosto de Deus para compreender que eu, seguidora de Gandhi, lutaria uma guerra pelos esquecidos por esta nação.

Pesquisas projetam que 2018 será pior em relação à intolerância com o crescimento de um candidato extremista. Sendo eles a maioria, eles tornam-se esta pátria, que não sou eu. Eu amo o Brasil. Deus foi imensamente generoso com sua riquezas e belezas. Mas desta vez, eu estarei vestindo uma outra farda. Vai ter luta. E quando eu morrer, quero poder dizer que não fui um deles.

Bombocado.

Deve ser por sua cor, ou doçura, ou porque você é mesmo um bocado de bondade na nossa família. Seu colete aquece minha alma. Deus tem uma forma peculiar de operar milagres. Não sei se foi ela ou Ele quem te pediu. Mas você, assim, perto de mim, é a manifestação concreta do cuidado da vida, comigo. E tantas vezes, achei que eu tivesse sido esquecida. Você sabe da saudade infinita que sinto. Quando o choro é alto, você vem imediatamente, com a testa franzida e as orelhas em pé: o que houve? Quando as lágrimas rolam em silêncio, você sabe se sentar, e calado guarda meu pranto e busca comigo no céu uma estrela que responda a pergunta: nos veremos de novo algum dia? É mágico a capacidade que duas espécies tem de falar o mesmo idioma sem precisar soltar uma palavra. Seu ronronar rouco me diz que tenho procurado amigos nos lugares errados, porque Deus já me deu os melhores bem aqui, no abrigo de nosso lar. Quando estamos nós três, abraçados sinto que tenho toda a paz, amor e força do mundo para enfrentar um novo ano. Olhos gêmeos dos meus, o tilintar de suas unhas no chão são a mensagem de Deus me dizendo que eu não fui esquecida e estou em Seus braços. Bombocado, a recíproca é verdadeira. Eu enterraria todos os foguetes do mundo por você.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

"Temos todo o tempo do mundo...."



Ontem eu estava caminhando pela calçada, depois de uma briga colossal com meu amor e passei por um casal de jovens, deviam ter em torno de 17 ou 18 anos. Eles conversavam arduamente, sobre tudo, sentados no chão de uma esquina qualquer. 
É engraçado demais o amor jovem, o tempo simplesmente não existe e as conversas podem durar séculos. O que me chama atenção é a capacidade que o jovem tem de se expressar, promover suas ideias, como se o diálogo fosse um reflexo no espelho, revelando uma belíssima identidade, única. Você pula de um penhasco, toma banho de chuva, tem um milhão de amigos, pede carona para estranho. Deve ter um santo protetor dos jovens, porque na maioria das vezes, tudo termina em festa. Dizem que a adolescência é uma montanha-russa porque ora se é uma coisa, ora se é outra, em um grande conflito de identidade. Mentira. Para mim é um fluxo contínuo de tudo que somos nós, saindo pelos poros, explodindo em energia e paralisando o relógio. Expressão máxima individual de um ser que ama e odeia intensamente. É usar aquela roupa porque é seu estilo, ou andar com aquela turma porque é sua tribo, ou ouvir aquele gênero musical porque é o seu som. Depois de adulto, tudo fica muito igual e muito menos autêntico. Crise de identidade é ser adulto, porque andamos por aí uniformizados de caretice. Povo marcado, povo feliz. Enquanto eu passava por eles, tentei me lembrar da última vez que tinha feito aquilo. Sentar na calçada, depois de um dia qualquer com toda a rotina de sempre, e gastar meu tempo ali, horas e horas com a paciência e a mágica de argumentar minha posição no mundo. Faz tempo. Queridos jovens, quando somos adultos, a rotina é um polvo que te sufoca e cada dia é uma gota caída de um conta-gotas cruel, chamado tempo. O tempo deixa de ser suficiente, e a paciência ou a capacidade de conversar, é curta. Esta briga, por exemplo, na juventude teria durado 5 minutos e acabaria em uma grande reconciliação. Mas como somos adultos, pegou metade da minha noite, que já é tão escassa. Sinto falta de ser jovem, por isso, aproveite se você ainda tem essa chance. Voltei do supermercado e meu amor estava dormindo. Um beijo no rosto, um sorriso sem graça, e um pedido de desculpas. Acorda! Vamos tentar aproveitar o que resta, porque dessa vida, ninguém sabe.


P.S.: As vantagens de ser adulto envolvem aprender a respeitar o funk como uma manifestação popular e reconhecer que o tempo passa muito rápido e por isso é necessário aprender a perdoar na mesma velocidade. 

terça-feira, 19 de setembro de 2017

sexta-feira, 21 de julho de 2017

A Via Láctea estava tão bonita...



Era dia 24 de fevereiro de 2014, domingo, por volta de uma da tarde, e o céu estava nublado. Lembro que a casa estava em festa, como se soubesse que a sua chegada traria luz àquele ano infernal. Você representou o inesperado, desde o primeiro momento que tocou este mundo. Sem nenhuma precedência de linhagem de cor, você veio negra, pele lisa, fina e brilhante, e pelos de veludo. Vimos-te rasgar a placenta de sua mãe, sozinha, de olhos fechados e surpreendentemente caminhar. Ficamos embasbacados, porque você já havia sido anunciada em sonho. E conforme a música e a alegria de te ver se tornar real, nós éramos Flamengo, e finalmente tínhamos uma “nêga” chamada Teresa. Você parecia uma pintura impressionista, de tanta vivacidade de beleza. Diferente dos outros filhotes, você não ficou com sua mãe canina. Você me escolheu. Quando eu te peguei, você passou as patinhas perfeitas nos meus braços e não me soltou mais. Acho que Deus te mandou canina porque eu tinha que te ter nessa vida, e talvez não possa. Enquanto os outros brigaram, você manteve a calma de não se envolver em confusão, porque você sabia que era ali que você deveria ficar. A partir de então, olhar para você era só alegria. Acho que você tinha um despertador incansável que tiquetaqueava no seu peito sem parar. Nunca vi criatura com mais vontade de viver. Você era completamente feliz e ativa por existir neste mundo. Acho que na verdade você sabia que o tique-taque era um cronômetro, marcando 3 anos, 3 meses e 18 dias. Um, dois, três e já. Ter você na minha  história foi como assistir à passagem de um cometa. Foi intenso demais, você era minha metade, eu contava os segundos para sorrir com você, e foi muito rápido. As demasiadas convulsões, injeções, medicamentos, nunca te deixaram desanimar. Você continuava a caçar, a correr, a brincar e a me fazer carinho. Tenho que dizer que você era a criatura mais doce também. Por isso, no dia de sua morte, quando te vi estática, fiquei tremendamente assustada. Eu sabia que era o fim. Que você tinha atingido seu limite. Vi sua alegria de viver se transformar em luta para continuar vivendo. E não poderia ser diferente do seu ritmo. Tudo demorou menos de 24 horas. Rápido e dinâmico, como tudo que você fazia. E seu último olhar me dizia: mãe, eu não quero ir. O que me arrebenta é que eu não pude fazer nada. E também que o nosso cubículo é tão grande que não me cabe mais. Não cabe meu sono, não cabe minha paz. Tem outras coisas que não entendo também. O porquê do sonho, o porquê de tão rápido, a dor imensa de perder tanto em tão pouco tempo, do falso milagre que me fez acreditar que Deus tinha me ouvido dessa vez, a efemeridade da vida. Se já estava complicado, agora meu coração é um vazio espacial. Tudo tanto faz. E eu morro de saudade todos os dias, dos seus olhos que sorriam, das suas patinhas abraçando meus braços, de você comer meu sapato ou o papel higiênico, do seu cheiro de suquinho de uva e das suas lambidas enxugando minhas lágrimas. E eu que sempre quis ver um cometa, agora posso dizer que peguei carona na cauda do mais bonito que já existiu. 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O preço.

Trilha sonora: Cigarros e Capitais - Esteban


Cresci ouvindo minha avó materna dizer uma coisa que só entendi o significado hoje, num clique: "Meu pai era muito bom, só tinha um defeito (Era Alcoólatra). Se não fosse isso seria perfeito. E Deus não faz ninguém perfeito." Por falar em pai, hoje é aniversário do meu, mas hoje o texto não é sobre isso. Vamos falar das confluências que a vida me trouxe para entender o que minha avó dizia e traduzir em uma frase do Cazuza.

Essa música da trilha sonora... muito interessante. 

Criança, a gente aprende que o cara virá em forma de príncipe, crescemos esperando e imaginando este grande momento. Na adolescência, o príncipe cai do cavalo e, talvez, o príncipe nem seja príncipe de fato, seja outra coisa. A figura fantasma do príncipe assombra tanto aquelas jovens que você chega à vida adulta exigindo o mínimo possível de uma vida a dois e pensa que já viu de tudo. Tudo que queremos é "paz e alguém pra ajudar a lutar a guerra". Mas aí... esse tal de amor te engana de novo. Na realidade, ele faz a gente mudar. "Eu quis casar, fazer os filhos, ter problemas." Alguns mudam a cor do cabelo, deixam de jogar bola, passam a preferir ficar em casa. Mas o amor adulto grita, estapeia a face, arde de ciúmes e só existe por meio de algumas condições: "Só, se...".Na verdade ninguém entende ninguém. Todos estão à espera do momento em que o outro ceda, conceda até atingir aquela projeção. Isso eu já sabia. Quem não? 

Mas o que eu entendi hoje, que é o que minha avó queria dizer, é que esta condição de transmutação completa ou perfeição plena é impossível de ser alcançada. Porque sempre haverá algum cisco, um teto de vidro, um calo, que você não conseguirá mudar. Parece que a condição do amor sempre esteve apoiada à este pequeno detalhe. Quando você não mudar isso, as paredes cedem, a casa racha, a vida desmorona. Não sei se é esse pequeno detalhe que segura nossa identidade verdadeira, a essência individual, ou se não mudamos porque é sacanagem mudar tudo mesmo. Tem de sobrar algo de si. Mas pensa numa coisa poderosa e que incomoda pra cacete o outro... "Até tentei mudar, parar logo de fumar, mas cigarros são poemas, pra quem nunca sabe o que falar." Mudo tudo, menos isso. Por que será que isso não? Esse pequeno desvio sempre será o estopim de qualquer separação. Ou irá compor os epitáfios nas bocas populares quando você se for.

Qual é o seu? O do meu biso era o alcoolismo, do cara da música o cigarro, e o meu é uma amizade que eu não posso ter. Nem era para ser assim, mas eu precisava ter esse ponto de estopim. Pago eternamente ao universo, um erro que cometi no passado. 

Acho que aquela carta estava errada. A única verdade é que o amor é sofredor, mas ele se irrita, suspeita mal, falha sempre, não crê, não espera, não suporta. O amor faz a guerra, mas não luta. Talvez o de sangue... Talvez. "Eu tenho quase 30 anos e só queria ter paz." E o que você quer?

Éh.... Cazuza, vó,  "o amor na prática é sempre ao contrário". Como se´r ao amor na velhice?

P.S.: Noites atrás tive um sonho. Acho que estava no céu. E nós 4 comíamos e sorríamos juntos, em torno da mesma mesa, em paz, compartilhando a juventude que ainda resta em nós e a amizade plena que Deus nos deu. Lá não havia "Se", ou qualquer detalhe que causaria uma fatalidade. Podíamos ser nós mesmos e os erros estavam verdadeiramente perdoados. "... tinha gosto de amor, sem o medo da dissolução do amor". Quando eu morrer, quero viver em um lugar assim.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Carta à Fiona.

 
 
Eu sei que ainda falta um mês, mas essa memória tem roubado meu sono. Não sei o porquê. Mas acho que é melhor colocar para fora.
 
Eu me lembro daquela noite. Acho a chance de ter um ano para recomeçar, genial. Mas aquela que abriu as cortinas para este ano era diferente. Dentro de mim havia medo. Pelo país, pelo mundo, pelas pessoas, por você. Existem momentos que é inevitável admitir estar no colo de Deus. E no escuro daquelas velas, Ele me tocou. Me lembro do coração gélido, porque ele estava ali para me passar um recado e o recado não me agradava.
 
Deus começou a me preparar para sua partida há dois anos. E o que eu podia fazer com isso, senão chorar?
 
Apesar do aviso, a única coisa que eu pedi para este ano novo, foi que Ele ainda não te levasse. Eu ainda não estava preparada. Minha alma custava a se recuperar dos cacos de 2014. Tudo que eu mais queria era só mais um ano com você. Mas Deus insistia na resposta.
 
E eu continuei a pedir. Coloquei todo meu coração e imensidão de amor naquela oração. Quando era 2 minutos passados no novo ano, abri os olhos. Minha maior esperança em 2016 foi a de que desta vez Ele me ouviria.
 
Aí chegou dia 25 de fevereiro. E a morte é assim mesmo: ela deixa recados, mas nunca com data e hora marcada. E foi no meio de um churrasco, cheio de felicidade, que você começou a nos deixar. Deus te tirava de nós aos poucos. Um dia, seus olhos estavam vazios. No outro, você estava de volta. Um segundo, sua alma dava lugar à convulsões. No outro, você fazia festa pela nossa chegada. Confuso e obscuro. Como tudo na minha vida.
 
Não sabia ao certo o que era aquilo. Seria uma grande piada que a morte estava fazendo com nossa cara? Afinal, ela sabe do meu temor. Não sei. Mas não bastava me sangrar diariamente com seu sofrimento, ela quis mais. Sabendo que podia mais, quase tirou minha avó. Tudo ao mesmo tempo.
 
Já pensou? Acordar todos os dias era uma morte cotidiana.
 
Depois de um mês, todo terrível, você nos deixou. Ironicamente era feriado de Páscoa. A morte bateu à nossa porta no dia da Ressurreição.
 
Admiro muito as pessoas equilibradas e serenas, que não pensam na morte ou na efemeridade do tempo, e principalmente, que tem a sabedoria de não questionar. Eu não sou assim, nunca fui. Sangrando então, virei um bicho.
 
Questionava incansavelmente tudo. Ainda questiono e não encontrei respostas. Uma pessoa me disse que essa perca de peso é dor de amor. Tenho que concordar que as lágrimas são inesgotáveis e as noites são longa demais. Algumas vezes gritei, para ver se era capaz de exorcizar alguma coisa. Tudo em vão. Os meses passam e sinto uma saudade imensa cada vez que meu coração bate.
 
Tenho recebido seus sinais. Mas o que são sinais, afinal de contas? Ou eles são mais uma piada de mau gosto da vida ou só servem para nos fazer sofrer mais, nos afogando nas memórias.
 
Eu poderia dizer que hoje eu entendo e agradeço os recados. Mas seria mentira. O que eu faço com issoo?
 
Esse ano de fogo, abriu o resto da minha vida, que serei obrigada a viver e sem você.
 
Além disso, sempre existe aqueles idiotas e tolos, que nunca dizem algo que presta, sabe? Tem os que não entendem, criticam, e ao invés de edificar, destroem alguém ainda mais. Muitos dizem que animais não vão para o céu. Fico me perguntando, quem é que vai então?
 
Você sabe que eu sempre amei o Natal, mas não páro de pensar como será este ano sem te dar um pedaço de peru, acordar sem você na cama no dia seguinte e te abraçar quando você estiver com medo do foguete.
 
Poucos sabem da nossa história, acho que na verdade ninguém entende. Mas gostaria de agradecer pelos 10 anos maravilhosos que você me fez ser uma pessoa melhor.
 
Sabe, agora, não sou uma pessoa tão boa assim e o mundo não tem tanta graça assim.
 
Vou fazer uma tatuagem sua. Minha esperança é de que, pelo menos enquanto aquela maquininha estiver ligada, o físico doa mais que a alma.
 
Este ano, de ano novo, vou pedir para que você esteja no céu, e que esteja bem. Vou pedir para te ver de novo algum dia.
 
Feliz Natal, meu eterno milagre.

sábado, 7 de março de 2015

"... Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas..."


"É o sentido do tato. Numa cidade normal, você anda, esbarra nas pessoas; as pessoas trombam com você. Em Los Angeles ninguém te toca. Estamos sempre atrás do metal e do vidro. Acho que sentimos tanta falta desse toque, que batemos uns nos outros só para sentir alguma coisa." (Crash - No Limite)

Era terça feira. Eu estava sentada naquela mesa vazia, e vi a linha desfiar da bolsa. Havia pedaços mais finos, e outros mais grossos. Alternância de cores. Havia um silêncio pesado pairando naquele calor úmido de uma terça-feira a tarde. Me lembrei da vida, ou ela se fez lembrar.

Se analisarmos desde o nascimento até o dia de hoje, o que faz o sujeito são os traumas que lhe ocorrem, como e se foram superados. É triste o poder que a memória das dores tem. Talvez não seja assim com todos, talvez a culpa seja do meu signo saudoso.

Mas veja bem: há uma criança que cresceu amada. Aos 7, sofre um abuso. Será que ela supera? Ela passa então a viver a vida com o intuito de superar aquele trauma. É o abuso que muda e controla a vida dela, e não todo o amor dedicado e absorvido antes do trauma. É muito injusto.

E lá vem a morte. Representação máxima dessa imprevisibilidade injusta a qual estamos expostos diariamente. Morre-se quando bebê, criança, jovem, adulto ou idoso. Morre-se de dia, de tarde e de noite. De carro, bicicleta, trem, a pé, dormindo, andando, cantando... No mercado, na escola, no parque de diversões. 

Até pouco tempo, eu tinha medo da morte. Não tenho mais. Não há probabilidade que possa doer tanto quanto a vida. 

A vida nos prega peças rotineiras: você achou que o pior já havia passado? Te enganei! É quando te vejo sorrir, ao vermos aquele musical juntas. Aí, a morte senta ao meu lado no sofá. Sem piedade, coloca a mão nos meus ombros e me faz lembrar. Ela é amiga íntima e confidente da vida: sabe de tudo! 

Recordo as Barbies, o Zezé de Camargo e o Luciano, sua fragilidade de bebê... O Araguaia, as viagens, a cumplicidade. Me lembro de todos os filmes que vimos juntas...

Vocês já tiveram a grande oportunidade de desmaiar? Um segundo antes do corpo desfalecer, os membros adormecem, as vistas escurecem e o coração diminui, apertando toda a capacidade de reação que um ser humano teria. Estou entregue e nada posso fazer. De repente, a escuridão dos olhos se esvai e volto ao sofá.

E eu não posso chorar. Eu, que não confio muito em nada feito pelo homem (não vou em montanhas russas nem pensar!), sou obrigada a me dispor nas mãos de uma medicina feita por homens, limitados e que precisam descobrir uma saída.

E eu não posso chorar, porque vejo você dizendo todos os dias que está cansada e que quer desistir, mas eu não posso deixar. Se você desistir, que sentido há em continuar lutando?

E eu não posso chorar. Desligo o telefone e olho em volta. Nada, ninguém. Silêncio pesado, sobrecarregando meus ombros. Lembro de uma época que em 10 minutos haveria alguém aqui para dividir os ombros comigo.

Mas as pessoas aprenderam a amar através da tela. Se você compartilha sua dor com os três mais chegados, logo eles dizem: "vou rezar por vocês." Por favor, não me interprete mal, não é que eu não aprecie orações. Deus é o Cara da minha vida. Não é isso.

É que, o que isso contribuirá para a redução do peso nos meus ombros? Sabe... às vezes, a dor é tão grande que é preciso se calar num abraço para se voltar a respirar. Mas nos acostumamos com as telas de vidro, tudo se resolve com uma troca virtual. Infelizmente, a realidade é bem diferente. A dor é gigante, acho que você não faz ideia. Mas carinho não se cobra, e o estilo de vida não vai mudar. Tudo tende a ficar cada vez mais tecnológico. Cada vez mais conectados, cada vez mais sozinhos, cada vez mais superficiais e menos compassivos. 

Me lembro agora de um dos meus textos favoritos de um dos meus autores favoritos. "Como ensinar a compaixão", Rubem Alves? Como fazer que o coração do outro fique junto ao teu? Novamente, não há perspectiva de melhora, os valores são outros... E o que posso fazer, se não posso chorar?

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Um país que protesta por causa de lagostas.



Sabe quando você tem um pesadelo terrível a noite toda e acorda assustado? A sensação de quem ficou um mês em outro país, especialmente neste mês de janeiro, e agora retornou para o Brasil é inversa a isso. Tem-se a impressão de que a realidade desmorona-se rumo a um grande pesadelo.
Fiquei fora do país por três semanas e quando retornei tive o maior susto da minha vida. Um país triste, apático, sugando seu povo a cada segundo. Mas o mais assustador é a reação: muita fala, nada de atitude.
Antes de prosseguir, vou fazer um retrato do que meus olhos viram antes de retornar.

Era uma vez Londres. Era uma vez milhões de pessoas se apressando, a pé, pelas ruas, rumo aos seus trabalhos diários. Os que estavam com pressa, andavam pela esquerda, os que estavam com tempo ou eram turistas, ficavam à direita, para que os outros passassem. E no meio de milhões de pessoas todo mundo se respeitou, a paz reinou, e as pessoas andavam a pé, sem medo da violência. Nos cafés, nas esquinas ou em qualquer lugar que fosse, o que se encontrava era a prestatividade, estar ali para ajudar o outro no que quer que fosse, perguntar se o desconhecido estava feliz e saudável, praticar religiosamente a obsoleta gentileza. É isso que acontece em um lugar onde o governo investe em educação desde o berço. Aliás, por falar em educação, o coração londrino é um emaranhado de diversas identidades, por isso é impossível definir a cara daquele lugar. O que impressiona é que todos os diferentes vivem em paz. Nem preciso mencionar a estrutura dos transportes, o baixo valor dos alimentos, os impostos reduzidos, e os serviços públicos de qualidade. Você deve ter uma imagem mental disso porque dá pra ter uma noção por trás de todo o sensacionalismo da mídia nacional. Mas o que mais me chamou a atenção foi um fato isolado que aconteceu sem aviso prévio. Era uma quinta-feira, anoitecendo, e em um dos pontos mais badalados da cidade, três garotas pegam três cartazes, um vídeo e um megafone. Em um pequeno palanque, mostram as cenas horríveis de lagostas sendo assassinadas friamente antes de virarem a sugestão do chef. Elas protestaram para que a morte das lagostas deixasse de ser dolorida. Elas começaram sozinhas, e uma multidão foi se formando ao redor. Depois de algum tempo, a cidade ficou paralisada em nome de lagostas. As pessoas lutaram juntas até que o governo tomasse uma posição e decretasse que a partir dali o sofrimento dos bichos estaria suspenso e elas morreriam sem dor. E se eu pudesse definir Londres, esta seria definitivamente a imagem que mais me encantou.

Eu fico imaginando um país que se indigna por causa da morte de lagostas e faz disso uma pequena revolução até que haja resultado. É por isso que há uma semana arrepio de ódio ao acordar em um Brasil que nada faz. Sempre foi absurdo viver aqui, nosso povo sempre sofreu demais, em pequenas doses.

Quando o bafo quente de Brasília bateu no meu rosto, foi isso que vi: a gasolina aumentou 40 centavos,meu café da manhã na padaria aumentou 1 real, o ladrão Renan Calheiros foi eleito presidente do Senado novamente, a Graça Foster "renunciou" e para assumir seu cargo estão sendo cotados pessoas ainda mais corruptas, como o presidente do BNDES (que diga-se de passagem, há especulações de que o rombo neste órgão seja ainda maior que o da Petrobras)...O governo cortou qualquer participação oposicionista na mesa diretora (isso chama-se ditadura).... A conta de energia aumentou de 30 a 40%, o transporte público continua uma merda, só que agora mais cara... Corta-se o FIES e o PROUNi e dá um soco em meu rosto, porque meus amigos foram mandados pra rua, minha instituição está com um rombo orçamentário porque o governo decidiu cortar verbas... Preciso citar saúde e educação? Acho que não, porque estes dois são os pilares. Se o chão e o teto desabaram, imagine os pilares?

E enquanto isso o povo fica sentado, reclama, mas permanece no sofá. Eu gostaria muito de viver em um país onde as pessoas protestassem por causa de lagosta, porque isso seria um sinal de que tudo o mais vai muito bem, obrigada.

Voltar para o Brasil é sempre uma preguiça. Mas diferente do: "BRASIL, AME-O OU DEIXE-O" (apesar do mesmo contexto de ditadura, só que agora disfarçada, polida e cheia de eufemismos), o emblema que grita agora é "BRASIL, AME-O E TRANSFORME-O". Dá muito medo se sentir sozinho quando seu país clama que seu povo o socorra.

Espero sinceramente que eu não esteja só e que a gente não aceite isso. Desejo muito que você vá para fora do país e que a realidade te choque. Mas desejo ainda mais que você volte, e chore comigo, e arrepie de ódio, e lute para que as coisas melhorem.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Très triste.


Certo dia eu tinha dez anos, e em mais uma de minhas manhã comuns, eu estava assistindo desenho. De repente, a programação foi interrompida por aquele toque aterrorizante que dizia: o mundo está de plantão. Eu não entendia muito bem o que era aquilo, mas lembro que duas torres gêmeas e belas despencavam, escandalizando meus olhos de menina. Foi um avião que as derrubou, por querer de alguém que acreditava que aquilo deveria ser destruído.
E hoje estava eu, em uma mesma manhã quente e comum de minha semana, quando me conectei às notícias e lá estava ela: 12 pessoas foram mortas porque alguém achou que aquilo deveria ser destruído. O terror ficou comum, já são milhares de casos pelo mundo, e na maioria das vezes já nem nos incomodam mais. E não vamos muito longe, tem aquele garoto da periferia que perdeu a vida por causa de 11 reais. Alguém achou que ele deveria ser destruído.
O mais engraçado é que sempre colocamos estes crimes contra a humanidade numa distância galática de nossa realidade: mas não foi comigo. Se fosse, doeria diferente. 
Não percebemos que todos os dias, sutis atentados terroristas despencam na nossa janela.
Mais tarde, deste mesmo dia, eu estava na Igreja e, mais uma vez, estava tudo indo muito bem, até que o líder soltou esta palavra: 
"- Este era padre, chegou a ir para o seminário. Ele era seminarista, mas Deus o salvou." E agora ele se tornou pastor desta igreja.
Eca. Me dá nojo e asco esta hipocrisia. A denominação terrorista, no século XXI, quer dizer: aquele que vai contra os costumes do ocidente, está quase se transformando em sinônimo de anticristo. Mas, na verdade, o terrorista é aquele que causa o terror.
Me diz qual é a diferença do pensamento dos dois caras que atacaram a revista de humor na França hoje e o líder desta igreja que teve a infelicidade de dar aquele discurso? Nenhuma. Veja você, terroristas orientais e ocidentais se beijando.
Eu causo terror quando berro com o outro, agrido gratuitamente os que me rodeiam, deixo de ser generoso, e destruo com palavras ou atos os sonhos de um ser que vive. Sou terrorista quando sou gay e discrimino o hétero, ou quando sou hétero e odeio gays. Quando sou budista e odeio cristão, quando sou islâmico e odeio cristão, quando sou cristão e odeio todo o resto.Vida interrompida. E morremos diariamente, diversas vezes, e nem nos damos conta. Sim, John Coffee, eles se matam todos os dias e usam o amor para isso.
Tudo é um grande reflexo da grande onda de intolerância que toma conta do mundo. Seres quadrados vagam por aí, diminuindo suas mentes a cada dia, perdidos em sua ansiedade desvairada e escondendo-se atrás de telas e vidros. Evitam o toque, a compaixão, sentir com o outro. Eu me recuso em acreditar em qualquer ideologia de teto de vidro, disfarçada em máscaras da falsa perfeição e superioridade. Para mim não há terror maior do que discriminar o outro porque é diferente daquilo que eu sou. Porra, se todos soubessem o valor de uma identidade e a aprendizagem da diversidade... Confesso que meu maior delírio, utopia é de que todos se respeitem e derramem afeto por serem apenas o que são.
E assim continua a viver a humanidade, mergulhada em suas ilusões, pregando um amor que não pratica e querendo impor verdades absolutas.
Eu sinto muito pelos meus amigos franceses e por todos aqueles que são assassinados todos os dias por pessoas que se veem grandes, mas são muito pequenas. 
Mais uma vez estou triste. Mas dessa vez desejo ao mundo, o amor. Aliás, desejo mais é que a gente saiba se amar nesse mundo doente.

Música de hoje:

A Violência Travestida Faz Seu Trottoir

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Vamos de Los Hermanos, (Sempre.)

Os Pássaros

Los Hermanos

Eu aflito e só,
Confuso e sem você por aqui.
Assim eu sonhei
Mas isso eu não quis.
Que diferença? o dia se fez
Assim.
Há um conflito um nó
Eu difuso enfim
Os pássaros vêm
Me levar aí
Visitar o céu
E pra ver você levantando o véu
Pra mim.
Mas eles só me vêem
Quando eu já não sei
Se eu estou são,
O que é um sonho ruim,
E o que é um sonho bom.
Que diferença? a vida é igual,
assim e eu não sei
Eu não sei...
Não sei...
Eu não sei..
Se isso é você.
Quem bate aí?
Se é pra eu te ver então deixa eu dormir.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Onde você estava Natal passado?


Eu me lembro muito nitidamente de onde eu estava há 365 dias trás. Me recordo de acordar bem tarde todas as manhãs de um recesso abençoado. O sorriso daquela criança iluminava o quarto e a minha vida. Os barulhos daquela turminha me faziam acreditar que meu coração estava quente e a minha alma em paz. 
"Especialmente para os cancerianos", toda a minha verdade resumia-se a família. Lá eu estava em meu devido lugar, cheia de sonhos, escolhendo as cores que iriam pintar os meus dias. Juntos, acreditávamos realmente que aos pouquinhos poderíamos mudar o mundo ao nosso redor. 
Aquele menino não era meu filho, mas poderia ser. Eu queria pegar toda a dor que encobria seu corpinho de 5 anos e transferir para a minha vida. Demos alimento, roupa, calçado e brinquedos, mas ao longo do ano percebi que um mês foi capaz de germinar sementes virtuosas dentro daquele pequeno coração. Demos de herança a ele o carinho, o abraço, momentos de infância e convivência familiar que ele nunca tinha tido. Nessa falta de fé, eu ainda acredito no coração nobre daquele menino travesso.
E era exatamente aquela imagem que eu desejei para o meu ano novo. Eu estava pronta para construir a minha própria família. E poderia ter sido assim, mas não foi. Dizem que é devido ao primeiro ano de casamento, mas nada disso importa, porque não sobrevivemos.
Eu fui o tipo de garota, e depois moça, que era apaixonada pelo Natal. Tipo que viajava horas para ver uma decoração que havia em algum lugar, que escrevia carta para o Papai Noel, que acordava as 5 da manhã para fazer café da manhã para os meus, que passava madrugadas escrevendo cartões que não deixassem as pessoas esquecerem de quanto eu as amava. Armar a árvore era dia de festa, cozinhar juntos e cantar canções de como era belo estar ali. Na véspera, eu me postava ao lado da árvore e junto a Jesus menino eu rezava sem contar o tempo, acreditando imensamente que ali tudo renasceria.
E hoje, quando o desespero de um fim eminente se aproximava, eu me peguei questionando: onde você estava Natal passado? Eu estava fazendo alguém feliz. Meu coração estava aberto. Eu vivia a inocência de sonhos claros e belos.
E hoje estou aqui, sem me importar com tudo aquilo que fazia de mim eu. Assustada com a velocidade do calendário, mas confiante de que os dias apenas passem depressa, indo em direção a não sei o quê. 
Sei que quando o relógio tocar meia-noite, tudo irá se desfazer bem facilmente. A vida é uma coleção de eternas despedidas. Fico me perguntando onde tudo se quebrou. E enquanto eu pensava em tudo isso, só consegui te olhar nos olhos e dizer que a vida é mesmo muito triste.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Fotografias ao avesso.

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Às vezes tenho a impressão de que não passamos de meras vitrines a circular por esse mundo. A pessoa tatuada é taxada especialmente como essa vitrine ambulante. Acho que na verdade as tatuagens não passam de uma bula: decifra-me. Poucos tem essa habilidade de chegar tão fundo na alma de uma pessoa, tornando-se capaz de ler a camada mais superficial do que é ser humano: a pele. Tatuagens são uma espécie de código que conta a história de uma vida toda, e não é apenas um olhar que vai compreender ou vivenciar qualquer tipo de obra de arte. Ou devoro-te.
São poucas as coisas que me irritam na vida. Dentre elas podemos citar grito, trânsito, futilidade e "você vai se arrepender de ter feito essa tatuagem no futuro."
Alguns dias atrás fui abordada por uma senhora: "Uma moça tão bonita, doce e delicada com essas tatuagens. Não pensa num futuro? E se você passar num concurso?". Bom, se eu passar em um concurso... primeiro, se eu fizer um concurso estarei abrindo mão de tudo aquilo que busquei da vida: paixão, desafio e mudança. Se eu passar num concurso e tiver que abrir mão das minhas tatuagens, aquele lugar não é pra mim, porque estaria abrindo mão de uma história escrita em tinta em minha própria pele. Pode não parecer, mas aquilo sou eu. Não é um hobbie. Eu tive que sangrar, e tenho que sangrar todos os dias porque a vida gosta de provar que a gente está vivo e bem capaz de sentir toda a dor do mundo. Sim, um dia quis ser pássaro e agora tenho eles como a utopia da liberdade. Ela é um lembrete, um post-it diário de: não se esqueça de quem você é. E por último, o laço que uniu nós três é de um amor incondicional e infinito.
E ainda faltam muito mais, só tenho 23 anos de idade. Ainda tem a árvore, o espiral, a pintura rupestre e o que mais a vida me apresentar.
Depois me aparece um padre. Poxa! A missa estava tão legal até Deus ser pintado como o cara superficial que julga as pessoas pelo exterior. Engraçado neh? Tudo não passa de um grande espelho humano. Deveria ser ao contrário... imagem e semelhança...
Há um mês atrás, fui apresentada a uma música maravilhosa: Ink, do Coldplay. E agora quando as pessoas me perguntarem se doeu, vou dizer: 'Got a tattoo and the pain is alright. Porque eles não fazem ideia do quanto não dói ser ferido por fora. Um risco na pele não é nada comparado ao interior que desmorona. Será que a gente faz ideia do quanto podemos suportar?
Boa notícia: não tenho mais medo da morte.

E o Chris Martin canta: "All I know is that I love you so So much that it hurts" e Eu BERRO: Got a tattoo and the pain's alright!!!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

E aí, já tomou sua dose de analgésico hoje?


Quem me conheceu profundamente há alguns meses atrás, sabia que eu era totalmente contra o uso de drogas, lícitas ou ilícitas.Eu achava que as drogas, assim como a psicanálise, eram distorções da verdade, meios pagos de fuga. Tudo em nome de um santo equilíbrio ausente.
Se eu tinha uma cólica, aguentava firme que era para sentir a natureza da dor. Dores de cabeça, de hérnia, de ombro, eram pequenas superações diárias. Formas de dizer que eu ainda podia ver a verdade e que as coisas ainda estavam sob meu controle.
E cá estou eu, alguns meses depois, chocada por ouvir uma música que canta meu mantra desaparecido. Senti muitas saudades de uma época em que eu realmente buscava o equilíbrio. Respirar não era difícil e eu sabia fechar os olhos e honrar a divindade que havia em mim. Meu mantra já ganhou um texto por aqui, há muito, muito tempo atrás.
Hoje me deparei com um comprimido difícil de engolir na mão direita. Percebi que aquelas 750 gramas de analgésico haviam se transformado no meu hábito noturno casual. Depois de um dia de sobrevivência a cabeça pulsa, e meu corpo, que já não aguenta mais nada, não iria suportar mais essa dor. 
Em inglês, analgésico é "painkiller". Traduzindo literalmente, os comprimidos mágicos seriam os "assassinos da dor". Um assassinato que dura de 6 a 8 horas, infelizmente. 
Eu que tanto busquei o equilíbrio e disse não às químicas, agora me rendo aos comprimidos diários. E é nesse momento que sabemos o quão distante estamos de nós mesmos.
Sempre via nos filmes norte-americanos aquelas pessoas que preenchiam seus armários de banheiro com medicamentos. Eu sei que é uma patologia social, mas eu não entendia o porquê.
Por que pessoas que vivem em um país de primeiro mundo, com acesso a uma boa qualidade de vida, se drogariam todas as noites para conseguir dormir? O negócio é que o valor da vida decresce quando o dinheiro aumento.Bem-vindos à era da banalização.
Não há espaço para carinho e a loucura enche o lugar com as sombras de uma caixa de pandora repleta de futilidades e superficialidades. Some o toque, o olhar e as demonstrações de amor real.
Sinceramente, hoje vi uma cena que me provocou ainda mais asco deste mundo cansativo. Não consigo compreender a falta de lealdade escancarada. Que o ser humano era desleal eu já sabia, mas o que mais me coloca em parafusos é ver que os machucados estão sendo deixados no colo de pessoas que tem um bom coração. Pessoas que apenas derramam doçura. E lá estão elas, vendo tudo que acreditavam ser derretido pela falta de lealdade e humanidade daquele que chamou de amigo.
Antigamente, ou era suficiente ou se pregava que era suficiente ser bom e fazer o bem. Hoje em dia essa balança está desregulada, distribuindo feridas gratuitas e espalhando a efemeridade da "desimportância" das relações humanas. A vida tem pago em moeda desproporcional aqueles que fazem amor. 
A amizade deveria ser a forma mais forte de comprometimento. Dá vontade de mandar certas pessoas calarem a boca: pare de cuspir abelhas. Ferrões matam.
E é por isso que os americanos ou eu tomam diariamente sua dose de assassinos de dor. Serão oito horas de fôlego, disfarçando a falta de força para lutar por um equilíbrio real. Haja fé para honrar a divindade que há em você. Cadê ?

domingo, 7 de dezembro de 2014

Serpente.


Sabe aquela cena do desenho animado quando o personagem corre até que  chega em um penhasco? Ele desaba e enquanto eles caiam, meu coração de criança ficava sem ar. Mas, do nada, surgia um tronco de árvore e ali eles se agarravam. Pelo menos por um instante, tudo estava a salvo.
E foi assim que eu resolvi passar meu final de semana. Os finais de semana, especialmente, são desesperadores. O choro dos meus olhos é incessante, sou preenchida por vazio e medo. A vida insiste em existir, por mais que eu diga não. O tempo berra em meus ouvidos e não me deixa dormir. 
Fiz as malas e parti para a estrada, vestida por uma coragem que há muito tempo me faltava. Recentemente, eu havia desenvolvido um pânico da combinação: dirigir e rodovias. Tinha a impressão de que elas me levariam a apenas um destino: o hospital que mantinha a vida da minha irmã por um triz.
Mas desta vez eu fui. Senti falta de ter suas mãos para segurar. Mas Deus me protegeu com aquela cortina de chuva que cortava os sons à minha volta e me dizia: comigo você está segura.
Me lembrei da cena do desenho porque sim, meu mundo desaba. Ando caindo de um penhasco infinito, soterrada por tudo aquilo que eu conhecia sobre amor e verdade. Tenho que encarar meus medos de frente e dessa vez não há ninguém para me segurar ou me proteger.
Dentre os muitos, tive que enfrentar sozinha aranhas, água congelante, mordidinhas de peixes, o silêncio horroroso de um quarto vazio e o mais terrível: minha própria companhia. O que me acompanhará por uma longa jornada...
Mas, no meio disso tudo, havia um pequeno galho no qual eu podia me agarrar. Deus mandou que eu treinasse meus dragões e à noite, quando eu achei que não aguentaria mais, Ele pediu que Rubem Alves me fizesse um cafuné mineiro. Consegui dormir, finalmente. Me agarrei aos galho como alguém, que cai de um penhasco, tem sua única chance de sobrevivência.
Quando eu tinha 12 ou 13 anos, li um texto que falava sobre um homem que passou a vida buscando Deus (ainda vou encontrar esse texto!) Enquanto tudo esfarela, enquanto vejo que as pessoas simplesmente não se importam, eu só pude ir de encontro às duas únicas coisas verdadeiras: comida e natureza. O homem do texto, constatou por fim que Deus estava o tempo todo dentro dele.
Eu encontrei com Deus na água congelante de um rio que aqueceu meu coração. Deus é verdade. E é por isso que ele está na natureza. A gente peca por depositar nossas verdades nos homens. Homens se espatifam como bolhas de sabão. Foi congelando meu corpo que encontrei forças para sobreviver a esse domingo. Passo razoavelmente bem, corpo cansado, respirando com dificuldade.

sábado, 29 de novembro de 2014

Happy Thanksgiving! ou Carta para você, Vida.



Senhoras e senhores,

É com um certo entusiasmo que venho tardiamente celebrar a ação de graças neste ano trágico. Mas não importa. 

Tem uma campanha de publicidade acontecendo no Youtube através da rede de Bancos Itaú. É engraçado porque nós sempre adoramos as campanhas deste banco. Chorávamos várias vezes com os vídeos emocionantes que aconteciam antes da execução da nossa playlist. Mas isso é segredo, neh? Se alguém me conta que chora ao ver publicidade devo manter a discrição, e parecer surpresa: Sério? Mal sabem eles...
Mas enfim, esta campanha faz o seguinte questionamento: qual filme mudou sua vida? Houveram tantos que eu não pude escolher um. Até hoje.
É que hoje eu acordei de mais uma noite insone para passar meu tempo vazio neste laboratório frio. E como tudo que tenho feito é rezar para que o tempo passe depressa, resolvi assistir um filme que pudesse acelerar as coisas. De repente caiu na tela: Sob o sol da Toscana. Nunca deu certo de assistirmos juntos. 
Assim que começou, eu sabia que eu ia amar. Fala sério: duas atrizes da minha série favorita em um filme só? Ver o rosto das duas me fez lembrar a sensação calorosa que eu encontrava em Grey's Anatomy, grande companheiro de noites em claro. Me senti em casa. E sinceramente, Itália? Toscana? É lá que meu coração bate. Mas isso é um outro texto.
Hoje eu vim aqui dizer que Sob o Sol da Toscana mudou a minha vida porque ontem eu fui dormir monocromática, e hoje consegui notar algumas cores. Mesmo que o futuro pareça obscuro, minha bela história do passado me oferece o sopro para seguir em frente.
Gostaria que hoje fosse quinta-feira para que eu pudesse dividir com o resto do mundo meus agradecimentos. Mas devido ao atraso... gostaria de compartilhar algumas coisas que enxerguei.
Os últimos dias tem sido tão traumáticos que eu não cheguei a te agradecer e nem te trazer flores. Viver ao seu lado me ensinou muito: Gostar de água gelada, aprender a apreciar a arte de fazer nada sem se sentir agoniada, me apaixonar pela poesia, silenciar para ouvir o tac-tac do vinil, pentear o cabelo e comer ingá (eca!). Coisas, várias.
Eu gostava da simplicidade que encontrei descansando em você. É impossível não chorar. Porque é tudo muito bonito. Eu não consigo explicar porque as coisas findam e não sou dessas de colocar pontos finais em sonhos, você sabe. 
Nós compartilhamos muito. Muita dor, muita alegria, muita aventura, muito romantismo. Superamos coisas que a maioria das pessoas não conseguiria. Eu sinto muito não ter tido resiliência suficiente para não quebrar. Eu me quebrei, por dentro, por fora e em espírito. Não sei se posso culpar o ano ou não, mas meu corpo não aguentou superar mais. Pelo menos por enquanto, meu corpo não aguenta mais nada.
Se "a casa protege o sonhador" é bem verdade que você me resguardou nestes cinco anos (e três meses?). Você foi meu apoio. Você sempre estava lá. 
Tenho assustado muito ao deparar com um mundo mais cruel do que eu pensava. Nem todo mundo gosta de cuidado e de carinho, sabia? E o cuidado e amor que nos dedicamos me salta aos olhos. Porque são nas contradições que as raridades sobressaem. 
Deus me abençoou com sua vida na minha. Deus me deu uma segunda família e me fez sentir em casa. E eu agradeço todos os dias por conhecer uma alma grande neste mundo caótico. Você caminhou ao meu lado e pudemos sonhar muito, fazer muito, lutar por uma humanidade e bondade que acreditávamos ser o caminho.
Aliás, eu admiro você por ter encontrado o seu. O amor é a explicação, neh? E aí você descansa em Deus.
Eu ainda não encontrei o meu, mas hoje tive alguns bons sinais. Consegui ver as coisas boas, nossas cores e as duas criaturas que são frutos do nosso grande amor. É um amor que não vai ter fim, você sabe. Mas hoje eu queria agradecer pelas suas mãos e pelas noites em claro que você ouviu meu choro e meu desespero, "não sei se eu saberia, chegar até o final" de 2014 sem você. Você me deu seu ombro para que eu conseguiesse levar a minha cruz até aqui.
Hoje descobri, vendo nosso filme que não preciso me encher de vazios e nem fazer das pessoas minhas muletas, esperando que elas preencham a falta de sentido que há em mim. Devo buscar a minha verdade. Será que tenho o direito de esperar por joaninhas? Como aquelas que fizeram sentido muito tempo para nós. Eu acho que conseguimos tocar o mundo e torná-lo um pouco melhor, mesmo com nosso pequeno alcance, você não acha?
Por fim, quis te dar a notícia primeiro e dizer obrigada por você. E tudo que eu mais quero e te ver feliz. Você, sua mão de ursinho e seu coração de elefante. Não se perca mais também, viu? 
Hoje te trago uma flor: Um girassol?

Un bacio, mia dolce vita. 

P.S.: Fellini, pra que a gente não se esqueça das nossas macaquisses: "Não importa o que aconteça. Sempre mantenha sua inocência infantil." Ainda há magia, não é mesmo, palhacinho?

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O mundo (a)colorido.


Hoje eu vi as lágrimas daquele homem. Eu cheguei mais perto e consegui sentir seu tórax convulsionando num anseio por um ar que não chega ao fundo dos pulmões. Acho que foi a primeira vez em trinta dias que eu encontrei semelhança com o que eu sentia.
2014 ficará gravado eternamente na minha memória. Primeiramente porque ele veio coroar o 2013 maravilhoso: o ano que me deu asas, me apresentou o mundo. Mas 2014 foi bruto, de propósito, fincou meus pés no chão. Na verdade, enterrou meus pés no chão.
A cada novo dia acordo com um medo gigante de que  esse novo dia possa ser pior que o anterior. A cada novo dia, um funeral. Por um momento, penso: é possível? E coisas inesperadamente terríveis acontecem, para me provar que sim.
Sem meus "bisos", brindei este ano novo, que com muita fé logo se finda. Dei a largada caindo de costas. Faltava raiz, mas eu sabia que poderia encontrar uma casa. E busquei, construí, encontrei: ali estava o sonho de uma vida toda. Até que: "A vida é  um espiral. Você gira diversas vezes em torno do mesmo ponto, mas se afasta dele cada vez mais." Vi meu castelo desabar. Eu não mais caía de costas, mas o meu mundo caía em cima de mim, em queda livre infinita.
Tento me lembrar de coisas boas, mas todo brilho que houver está ofuscado por essa imensa dor solidificada em mim.
Eu nunca imaginei tantas coisas. Me decepcionei ao ver que 'ying yang' explodem quando se tocam. Tudo começou faltando meu ar, e fazendo a raiva subir nas minhas veias. Eu já não era mais a mesma. De Gandhi, fui à Hitler. A fúria vomitada.
Pessoas muito boas nos deixaram esse ano. E as que foram antes também nos fazem pensar: o que está acontecendo? O mundo sinceramente precisa de pessoas que cultivem o bem, mas parece que não há tempo para isso. Todos estão de partida. Grandes mentes dão lugar à pessoas que se preocupam com lucro, dinheiro e passam seus dias curtindo a frieza das falsidades e coisas superficiais. Infeliz, mas com um bom salário.
Outra porrada na cara, foi perder a pureza da menina Catarina. O nome quer dizer "pura". Não compreendo esta contradição. Será que Deus é mesmo este cara punitivo, rancoroso e impiedoso? O colo da mãe, vazio, nunca irá se aquecer novamente.
E como explicar que um belo pôr-do-sol pode se transformar no maior inferno de uma família? Porque pior que lidar com os próprios sonhos despedaçados, é ter de lidar com os sonhos despedaçados das pessoas que você mais ama no mundo, sem poder fazer nada a respeito.
Será que Deus é tão sacana e sarcástico, que dá 5 sonhos e te tira todos eles? Nunca pensei que eu fosse ser obrigada a abandonar aqueles que bateram à minha porta para que eu cuidasse. Esta era a minha missão e fracassei. E a condenação para isso são pesadelos diários e um buraco enorme na alma.

É horrendo o poder que as coisas fúteis podem fazer na vida de uma pessoa. É como se Romeu e Julieta tivessem sobrevivido, mas se separassem no final. É tipo assim: mais uma bomba sobre o casamento. E é aqui que eu chego neste homem que chora. E eu olho para ele e vejo os olhos vazios como os meus. Eu olho novamente e vejo umas das pessoas que eu mais admiro neste mundo. E me olho no espelho. Não tenho nada para lhe dar de conforto.
Às vezes tudo que se pode fazer é compartilhar da dor de alguém. Não há nada de bom que eu possa retransmitir, porque assim como ele, eu também quero acordar daqui um ano e torcer para que tudo isto tenha passado. Assim como ele, também sinto saudades e sinto muito que o tempo não volte atrás.
Não há sentido. Não há verdade. Vou terminar este ano muito mais gélida. Longe de Deus, porque não há nem um mínimo de fé para que as cores voltem.
Este ano fez questão de me provar que tudo que eu conhecia do amor era ilusório. Porque algumas coisas simplesmente não existem. E o amor é a mais covarde das mentiras.
É impressionante o que a dor e um quarto vazio e uma alma vazia podem te revelar. É como repassar pela vida novamente, com uma lente de aumento: veja direito. No final das contas, nada é isso tudo. Amizades são conveniências e a única coisa real é que você está sozinho no mundo, afinal.
Por isso hoje é um ótimo dia para dormir.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Consegui achar um sonho.

Lema da Starbucks:

"Inspirar e nutrir o espírito humano - uma pessoa, uma xícara de café e uma comunidade de cada vez."

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Texto sobre a paz.



Capelania Institucional da Associação Educativa Evangélica – Novembro/2014 – no 044
Relacionamentos Saudáveis X – Cuidando dos sentimentos nos relacionamentos
Poucas coisas nesta vida são mais desejadas do que a paz. “A paz é a única forma de sentirmos realmente humanos”, já dizia o ganhador do prêmio Nobel de Física (1921), o físico teórico alemão Albert Einstein (1879-1955). “Uma vez que a guerra nasce no espírito dos homens, é no espírito dos homens que se devem erguer as defesas da paz” - Archibald McLeish (1892-1982), poeta e escritor norte americano.
Vimos na reflexão anterior as recomendações para nos alegrarmos, sermos amáveis com todos, não andarmos ansiosos e mais, para colocarmos nossas crises e alegrias diante de Deus. Tudo isso, mesmo em meio a dificuldades relacionais. Agora o texto nos apresenta a dica final e maravilhosa, especialmente no quesito de saber se estamos no caminho certo ao tomar decisões sábias frente às múltiplas opções apresentadas nos caminhos da existência.
Paz. Poucas coisas são tão ardentemente desejadas pelo coração humano quanto a paz. A paz é o anseio da alma, por isso mesmo ela é eminentemente interior. Ainda que tenha seu reflexo no exterior é no interior do ser humano que a mesma acha guarida e se desenvolve. Qual é o trabalho da paz? Ou, que trabalho se processa em nosso interior que resulta em paz? Antes de falar da paz, pensemos no seu oposto. De acordo com nosso assunto, o oposto da paz não é a guerra, mas a dúvida. O que é a dúvida? De forma simples, principalmente em se tratando de decisões, a dúvida é o descompasso entre a mente e o coração. Por mente entenda-se a razão, análise, pensamentos e consciência; por coração, queremos dizer emoções, sentimentos e desejos. A dúvida acontece quanto o coração deseja algo e a mente revela que tal desejo não é bom ou no mínimo é incoerente. Por outro lado, por vezes a mente aprova algo, mas o coração não anda no mesmo compasso. Cria-se uma oposição e mesmo uma guerra entre mente e coração. A verdadeira paz implica na harmonia entre mente e coração. Ela acontece quando os dois andam na mesma direção.
A sabedoria bíblica milenar é fantástica ao afirmar: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fl 4.7). Não é interessante? A paz é fruto de um coração e mente guardados e andando no mesmo compasso e direção. Esse é o fruto da paz. Paulo credita tal ação à pessoa de Cristo Jesus. Outro aprendizado interessante. A paz excede todo o entendimento. Por vezes se pensa que a fé e os frutos da mesma - como a paz e amor - são elementos que não dependem da razão, ou seja, são irracionais. Contudo o texto é claro ao afirmar que a fé não é irracional, mas suprarracional: “a paz de Deus, que excede todo o entendimento”. A paz vai além dos raciocínios, é maior que a capacidade de análise, é mais ampla que as conexões dos neurônios.
Como precisamos da paz! Paz nos relacionamentos; paz para a tomada de decisões; paz que atrai o sono; paz, bendita paz. O poeta hebreu escrevera há milênios: “procura a paz e empenha-te por alcança-la”. Uma das formas de procurar e empenhar por achá-la é “fugir do mal e praticar o que é bom” (Salmo 34.14). Mais intrigante ainda é perceber Jesus sendo declarado como o Príncipe da Paz (Is 9.6). O Deus Pai de Jesus como o Deus da paz (Fl 4.6). O Espírito Santo como aquele que concede vida e paz (Rm 8.6). E todas as cartas enviadas, por aqueles que conviveram com Jesus, as comunidades da época tinham em sua introdução a saudação desejando paz aos destinatários.
Quando nosso coração e mente são unidos sob a bandeira da paz, temos um bom indício que estamos tomando as decisões acertas. Se isso não acontece é melhor esperar. É melhor pedir a direção de Deus. Buscar conselhos com amigos sábios e continuar procurando-a. A paz tão almejada, seja para nossas decisões e ou relacionamentos, advém do relacionamento correto com o Príncipe da Paz, com o Deus da paz. Por isso, desejo a você e aos seus PAZ. 
Que o Eterno nos ajude. Rev. Heliel G. Carvalho – heliel.carvalho@unievangelica.edu.br