sexta-feira, 5 de março de 2010

Fascinar.


Univitelino: um vitelo dividido por duas almas distintas que ocupam um corpo só. Mesmo sangue que nutre dois olhos. Signo. Sinal. Rótulo. Verdade. Emoções dobradas à flor da pele. É imenso em sentimentalidades e duplicado na dificuldade de suportar e ser suportado. Conquista o respeito pela instrospecção irônica que carrega sobre seus ombros e pela maturidade natural que exala. É a personificação de deus e demônio e todos seus atributos. Opostos. Metades. Conflitos. Sobreposições. Aquarela de luz e escuridão, paz e guerra, liberdade e prisão, homem e mulher... dualismos de duas almas inteiras num corpo só? Sim, num corpo só. Um vitelo de cosmos compartilhados pela sede e fome de duas almas mendigas num mundo que lhes cabe como luva. Par de dois dedos que acabam numa mesma mão. Corpo sozinho que abre em cores dessa aquarela múltipla que se transformam em dois olhos. Dois olhos num rosto só. São olhos gêmeos, alimentados pelo mesmo coração que pulsa dois caminhos de sangue, oxigênio e vida. São olhos que lançam ganchos em olhos de caranguejos. Ascende. Acende. Afaga. Apaga. Apanha. Atém. São olhos geminianos que vêm e vão e são temidos pelo poder em dobro. E eu? Refém. Poder que me desperta complexo de lixo, que me joga em meio a um lixo imenso de emoções. Imóvel. Mas não apático, em submissão, que me faz conformar. Luxuoso lixo que me desperta na tristeza extrema, na revolta que me faz queimas as veias do anti-braço, que ergue meu corpo em prol de uma revolução. Olhos gêmeos que quando enxergam o horizonte, alcançam o mundo em desejo, alcançam onde querem chegar e me têm nas palmas das mãos. Gêmeo que me destrói e me constrói com seus artifícios infinitos de me fazer viva, e alegre através de uma longa e infernal estrada de mistério de um chamado pela dor. Medo e beleza. Medo do belo. Tão belo que amedronta. Fascínio.

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