quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Hoje vou falar de Bossa e Tropicalismo.



Pela manhã assistindo ao telejornal vi uma Belo Horizonte devastada pela chuva e um Rio de Janeiro perfurado por balas e queimado por traficantes. O que me chamou atenção foi a diferença da postura da população em relação aos dois acontecimentos. Sempre me perguntam se morro de vontade de conhecer o Rio, sempre respondo que não. Com a licença dos apaixonados, a Cidade Maravilhosa para mim é uma grande farsa, uma bela embalagem de um produto podre em nome de um cartão postal para os gringos.
O tropicalismo surgiu contra a ditadura militar, como um grito de cansaço, a revolução pelo direito de falar vestida em calças jeans. As músicas eram enérgicas, explícitas ou subliminares só queriam uma coisa: o basta aos horrores da tirania. Foram os que não aceitaram, os que se divergiam da rebeldia sem causa da jovem guarda ou do conformismo da Bossa Nova.
Não havia lugar melhor para o nascimento da Bossa. A beleza natural do Rio chacoalha os músculos das garotas e dos garotos de Ipanema, dá leveza ao Bondinho como se fosse pássaro, e dá nome ao Morro como se fosse doce, surfando nas ondas do mar. Pequena elite da beleza que deixou de herança a apatia para a populção em geral. Ricos e pobres assistem o espetáculo de destruição cíclica, ora é pela chuva, ora é pelo tráfico. Feito marionetes, os cariocas ou choram ou sorriem, nunca gritam ou paralizam o calçadão. Os compositores da Bossa, cantavam canções baixinhas, em melodias excelentemente suaves, dentro de apartamentos, que era para não incomodar certos vizinhos.
Notam a gravidade disso? Não há promessa de um remanejamento estrutural social ou físico, e o povo nem protesta por isso. Atualmente os bandidos estão varrendo a cidade, desconstruindo o que foi estruturado com trabalho popular. Se existe algum protesto ou no mínimo exigência da população pela segurança que lhes é direito? Nada! Só aguardando uma possível aliança com a Força Nacional. Meu Deus, possível! Cadê o exército? Para quê tanto silêncio?
Como Tom, Miúcha, Nara, Vinícius... cantam o sofrimento, assistindo pela janela como se fosse parte do cenário, como se todo caos tivesse realmente a poesia ufânica de Wave.
Eu fico puta com isso.
O Rio é considerado elite intelectual do Brasil, mas é justamente de Minas, os indivíduos quietos por definição, que vem o grito de socorro ou de pare após uma noite de chuva. Foi necessário uma noite de chuva para que a população tumultuasse, berrasse, escancarasse a ferida numa das principais avenidas de BH. No Rio, isso é rotina. Será egoísmo?
Quem diria que os mineirinhos têm o sangue quente de Tom Zé, Gal, Torquato Neto, Os mutantes , Bethânia, Gil, Caetano... Mas é só mais um dia. Mais um. Um dia.

Um comentário:

Chiz disse...

Pra mim, basta um dia, como cantava Chico, o Buarque.
Paz.