sábado, 29 de janeiro de 2011

Ficando no caminho.


Desta vez a tristeza viera tão forte, tão profunda que nem mesmo as palavras da menina-mulher ousaram confrontá-la, entendê-la e tampouco resolvê-la. Este era o cenário que chamaria de veramente desconhecido - a garota não tinha estado em tal desapontamento sequer por imaginação. E então ela permaneceu como o esperado, ou como quem espera por nada ou por tudo, na verdade permaneceu assim além do tempo previsto; quieta, impassível, impotente. Ela sentia falta das palavras, da caneta borrando seu mindinho. Será que todas as suas memórias lhe faltavam? Pois tudo de repente se desfizera e misturado num borrão grotesco, ausente de beleza, e todas as dores e alegrias passavam a não existir. Agora sim tudo estava realmente confuso e nada que acontecia era verdade ou suficientemente ilusório para ser mentira, ou era. Amélie, olhando os dias que passavam cinza sonhou que vinte anos ficaram para trás como prova dura de todos os seus sonhos fracassados. Nenhum plano sobreviveu às enchentes. E na angústia da falha, ela equilibrou-se novamente no paradoxo. Aceitar seu destino ou revoltar-se pelo insucesso de sua saga? No meio de todo o caos, a mulher enxergou alguns rostos conhecidos e viu que apesar de todas as coisas, mentiras ou não, a vida era a realidade tristemente real. A plantinha que Amélie trazia junto ao peito permeneceu intacta, calando ou tagarelando, mas jamais abandonando a reciprocidade daquele amor. Seu alimento estava na seiva daquele verde esperança. E então ela pensou que o seu futuro estava na raiz de uma árvore.

Um comentário:

- J.Martins disse...

"E então ela pensou que o seu futuro estava na raiz de uma árvore."

- Há lugar melhor pra depositar o futuro que nas raízes de uma árvore?