terça-feira, 8 de novembro de 2011

De quando a gente descobre o que não quer ser.

Os corpos vagavam naquele lugar. Logo percebi que eram apenas corpos, todos vítimas, de uma dor dilacedora assim como eu. Me identifiquei, me juntei. Aonde é que a alma se esconde nessas horas? No fundo, bem no fundo... Quase ninguém pode chegar e a gente não quer nem ver. A alma abandona o corpo e só ela que sofre, o corpo nada mais é que um simples objeto, a casca mais espessa que nos faz permanecer como zumbis. Passei a ser só copro, flutuando pesadamente. Mal podia conter minhas pernas. O corpo se controla sozinho, rumo à auto-flagelação. Acordei sobre meu próprio vômito. Daí a alma ficou triste, sangrou, hemorragicamente falando. E o corpo já não respondia. Não dormia, não comia, não sentia frio. A água tava gelada e a pele nem aí. A alma também ficou revolta, gelada, nem aí, afundada na sua própria dor já não se importava com nenhuma coisa além de si. O corpo agora era sujo, um lixo. A existência me doía, a imagem no espelho ficou difusa, a ressaca dura além do dia seguinte. Às vezes é preciso - na verdade não é preciso porcaria nenhuma, pois a dor jamais cicatriza e o tempo não volta, a vida ainda segue e te arrasta com ela - trilhar o caminho dos erros para se inventar o próprio pecado.  Traí então todas as minhas orações de todos os dias de manhã, destruí minha vida, e as de outras pessoas. Faltava tanta alma. Achava que aqueles corpos de cenário eram uma exceção num mundo que ainda era bom. Na verdade percebi que já haviam centenas de músicas que cantavam aquela paisagem, que traziam a tendência da auto-destruição. A marcha caminha para a extrema superficialidade, para a ausência de alma e de bondade. Todos éramos regras nesse mundo corroído pela dor de uma existência vazia, material. Eu que sempre acreditei que o mal e o bem habitam igualmente em cada um de nós, era só escolher, bebia agora de um arrependimento dantesco. O mundo carece urgentemente de pessoas de alma grande, que ainda acreditem em milagres e em amor. Ao contrário disso essa existência vazia e confusa não teria justificativas. Seríamos como zumbis a caminhar desordenadamente por uma natureza destruída por nós. É certo que eu nunca soube o que fazer da vida, mas isso eu não quero ser. "Vou subir o morro, enquanto ainda tenho pernas."

Nenhum comentário: