domingo, 25 de março de 2012

" A futilidade encarrega-se de maestrá-los."


Ora amigo, não são os encantamentos que tem me inspirado, mas a revolta. Quando ouvi a expressão TROTE SOLIDÁRIO, logo meus olhos brilharam, pensei ainda haver esperança. Mas seguido o desfecho, os olhos retornaram à opacidade de antes. O cenário foi uma sala de aula, em uma universidade. Vejam só que o curso é pedagogia, responsável pela formação de professores de vários futuros. E eis que a senhora, professora dos professores adentrou a sala e contraditoriamente apontou como razão para participação em tal trote: atestado para faltar ao trabalho, ou um lanche no final da sessão de doação de sangue. Citando e concordando com Nietzsche, não há são verdadeiramente filantrópica, sendo que na prática a filantropia consiste em uma forma de busca de recompensas egoístas. Nietzsche fala isso assistindo a promessa de leveza espiritual procurada por quem pratica a caridade. Me pergunto então se meu filósofo não ficaria pasmo ao se deparar com o tipo de recompensa que o homem do século XXI busca agora em troca da filantropia. O fato é que atestado, lanche ou dinheiro em espécie, trata-se de matéria. Entretanto, se compramos e vendemos tudo, porque não a solidariedade? Em um mundo no qual o materialismo latente cresce, espande, atinge todos os campos e sentidos da existência e convivência humana, mencionar a espiritualidade e seus frutos, tal como a paz de consciência, seria ridículo, não é? Se não houver matéria, lucro, não há compensação que movimente grande parte da humanidade. E tal cultura materialista é divulgada, repassada de pessoa para pessoa, geração para geração. E dessa vez foi em uma sala de aula. E infelizmente eu, que estava na posição de aluna, tive de ouvir tamanha...  asneira. Tudo o que eu quis foi voltar a fita, chacoalhar aquela mulher e alertá-la que aquela era uma sala para formação de futuros professores, que lá dentro deveria ser um espaço diferente, utilizado para cultivo de verdadeiras virtudes e ética, e que, como brasileiros que somos, sofríamos de falta de filtro e alienação, e logo aquela baboseira toda estaria nos ouvidos de diversos alunos desses mesmos professores. Infelizmente, para que uma revolução aconteça é preciso mais que uma voz, e para minha felicidade alguns risos de deboche me faziam companhia. Também deve-se primeiro integrar-se à sujeira, para depois modificar as coisas. Todo gigante tem seu ponto fraco.

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