terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Só se pode encher um vaso até a borda. Nem uma gota a mais" - Tao Te-King: Lao-Tse.


Salvo as falhas de memória, acho que de longe este é o surto mais grave que já me ocorreu. Dependendo do ângulo de visão, a gente perde a cabeça por uma coisinha mínima. Mas não é. A coisinha mínima é na verdade a última gota que faz o vaso que carregamos sobre os ombros, transbordar. "O corpo que entorta, para a lata ficar reta." Entortar o corpo para manter o equilíbrio a qualquer custo, dói. E é por isso que um dos assuntos que mais me intrigaram sempre é: o que divide a sanidade da loucura? O que segura a gente?
Hoje veio a chuva. Tive que caminhar sob a água. Por fora, uma moça que caminha para abrir o carro. Por dentro, uma menina que não pode se aguentar de vontade de tomar chuva, tirar a roupa e correr o mais rápido que puder, ali mesmo naquele campo.
Também gostaria de vender o carro agora e voltar a andar de bicicleta. O que será que segura a mão para que ela não aperte o FODA-SE? E quando é que vou saber se a corda arrebentar?
Por um bom tempo, esqueci dos "insetos interiores". Ignoramos que o homem é um complexo de impossibilidades, morte e merda. Tudo em nome de um voto de confiança na ... humanidade? Bondade? E quando se cai: não acredito que caí nessa de novo!
É tudo tão previsível que assusta. E mesmo assim, depois de tanta experiência, o que faz tentar repetidamente?
Ingratidão. Falta de reconhecimento. Doar o máximo e o sono. Pular as refeições. Corpo que padece em múltiplas visões de uma mesma história. Visitas inesperadas. Gritos de dor. Dúvidas da cor do céu. O bem e o mal. Cegueira em período integral. No auge do cansaço moral e generalizado, a visão panorâmica das verdades é jocosa. No que crer? A questão é: para quê fazer isso tudo?
Não há dança, programa ou sexo capaz de colorir o dessabor que o desmoronamento do meu mundo provocou.
De alguma forma, sempre acreditei na abstinência. Para remissão dos pecados. Ou para saciar essa sede maluca de buscar e ir de encontro a si mesmo. Em um mundo isolado, acaba-se por encontrar a si mesmo, nu e cheio de arranhões e amarguras. Tem que ser assim. E o que sobrar será classificado como fé.
Acho que na realidade a culpa não seja de ninguém, além de nós mesmos. Vendemos nossas vidas diariamente. Nos prendemos voluntariamente  grades convidativas, promissoras, traiçoeiras e fantasmagóricas.
E a alma exausta e castrada implora pela rendição da covardia em nome de um pedido de liberdade que pulsa a cada segundo.

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