sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre espirais.



O que te lembra um espiral? Confusão? Loucura? Espiral começa em um ponto e vai abrindo-se. Se a linha é infinita, as voltas e a abertura são infinitas. Quando nota-se, espiral vira labirinto e sem seu mapa ou coisa parecida em mãos ou sem a interrupção de seu desenrolar é complicado retornar-se à sua origem. Espiral, apesar de estar presente nos fascinantes tornados, têm se encaixado em outra categoria de minha vida: sobre as coisas que me instigam, avisam e assustam. Tenho mania de tratar coisas como sinais,e não é questão de falta de ceticismo. Não mesmo. É que fatos recentes me ensinaram a dar maior respeito à minha intuição. E esses sinais carregam mensagens em códigos para que essa venda sobre meus olhos seja arrancada e eu possa ver e sobreviver à órbita caótica na qual dou voltas. Talvez eles já estivessem lá, ou talvez fizeram-se agora em nosso diálogo... mas sua frequência não pode passar desapercebida. O primeiro espiral apareceu assim que fexei meus olhos e movimentei minha pupila como se olhasse dentro de meu corpo... lá estava ele, em meio à imensidão negra, era um monte de voltinhas em verde-água. Assustei. Fiquei tonta e mina cabeça doeu. Abri os olhos. E me esqueci. O segundo espiral veio em aquarela vermelha, na tela da minha televisão ... foi desenhado nas costas de um homem por dedos finos de uma mulher. Era uma história de amor que me encantara bastante. Trazia a vida que fazia bodas de papel, fragilmente em espirais. Esse espiral era o acaso, o caos das emoções numa linha temporal intransgredível e efêmera. Não voltava. Imprevisível. Etiquetado a ele vieram coisas simples e belas, que meus olhos tanto amaram algum dia... como uma pipa no céu. O terceiro veio num sábado de uma das piores semanas da mina vida... num sábado de ressaca pré-álcool, regado à vinho, belo céu e cinema ficcional infantil. Saíram da tela iluminada seis ou sete signos de luz em, adivinhe? Espirais. Não li nada muito relevante, mas a quantidade de espirais berrava: você deve nos perceber e decifrar, agora e já! De repente transformaram-se em um gigante ponto de interrogação, bêbado de medo. O quarto e o quinto estavam desenhados em meus lençóis e na almofada da cadeira onde ficam os edredons. Estavam no meu quarto, eram coloridos e eram meus. Meu medo desfez-se num segundo, restara só a interrogação. Mensagem? O sexto visitou-me numa tarde de domingo, que poderia ter sido amarela, mas o céu teimava em deixar tudo cinza... Era inscrito no chão e cercada de amigos, pisamos em suas voltas. Pisar. Esmagar o que está embaixo ( de que? ) e causar dor. Esse espiral era como a verdade que não queremos ver, mas mesmo não sendo vista sua verdade detonou minhas estruturas e arrancou tudo que eu chamava de amizade e me tirou os pés do chão. O espiral é meu guarda e não ia me deixar cair... trouxe amarrado a ele tudo o que eu deixei no passado ou o passado deixou que fosse embora de mim... o que era verdadeiro deu um nó em minha cintura e impediu minha queda desta ponta de agulha fina e quebradiça à
qual tento respirar. Laço em espirais. O sétimo está, agora mesmo, sobre minha cabeça... num céu azul, esbranquiçado por nuvens de espiral. Acho que este pode ser a assinatura do mensageiro dessa salvação. Deus, é você?
Entrei nisso por amor, com rosto de menina e liberdade interior de um pássaro. Um pássaro que sabia e gostava de voar, com valores e abitado por paz e luz. A vida era deliciosa. Eu era protesto contra rótulos e não-verdades. Eu era eu e gostava do que eu era. O início de um espiral, que fiz com minas próprias mãos. Não tive mestria para manter-me afastada da carniça que tanto detestava e me tornei parte dela. Acabei por emendar ilusão em ilusão e perdi o foco, o sonho, a inocência, a confiança nas pessoas, e a vontade de amar... e me perdi de mim. Parei de ver a beleza humana e dividi a humanidade em dois grandes grupos repugnantes de homens e mulheres que não se misturavam... separados por um muro resistente e alto. Inferiorizai uns, perdi certas oportunidades, enfiei-me no meu próprio preconceito combatido. E a vida foi abrindo-se em espirais assimétricos... de um tempo que não volta. E agora meu mundo desabou e apesar da dor, entendo que foi a única forma que me fizesse parar de tecer esse espiral sem fim... antes que não me restasse mais vida para sentir dor. Foi por amor que entrei e onde esse amor puro estiver, eu estarei. No mais, não sei o que fazer. Não estou nada bem. Não há luz nesse estômago que sente fome e dilata em úlceras. Sem fé. Com dúvida.
Ontem olhei no espelho e percebi que meu rosto de meninna está desaparecendo.
*** Henry corre na Via Láctea em busca da paz utópica do olho de seu furacão.

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