sábado, 12 de dezembro de 2009

Às palavras escondidas em tua língua.


Depois de ver que não havia mais um rosto de criança no espelho, a menina Amélie achou um jeito de gostar disso. Bateu a mão sobre a mesa e exigiu por fim, uma pausa.Fez da pausa sua calma, e mais uma de suas primeiras vezes. No seu casulo, pediu para que algumas coisas se repetissem na tomada de sua memória: para morrer de saudade, pegar o que houve de melhor e vomitar o que pesava seus ombros. O novo foi compreender finalmente o vocábulo 'passado', sem precisar do amigo dicionário... e com seus dedos cancerianos, decidiu ser sempre saudosa para não romper com a tradição, mas decidiu também que libertaria seu passado, como se engolisse um remédio em direção a paz de ambos. Amélie apertou 'stop' em diversas ervas-daninhas, e em coisas que lhe corroiam e lhe afundavam olheiras, escondendo seus olhos ( que ela até gostava). Os dedos afinalados, porém ainda curtos, tomaram o mundo pelas mãos e ela o chamou de seu, conseguindo subir no palco com o gosto fantástico da solicitude conquistada. Notou que os botões daquele espetáculo só encaixavam nas pontas de seus dedos. Naquela vida que era dela, ela era insubstituível. Com a lição aprendida, a garota caiu em devaneio quando chamou essa persepção de egoísmo e quase desistiu... mas lembrou-se de não se cobrar por isso, e do caminho percorrido até a solicitude. Manteve-se firme. Martelo. Prego. Lacre. Tinta. Lixa. Serra. Reforma. Abertura. Tomou os seus com a certeza absoluta de quem ama, aconchegando-os sob suas asas. Asas não de um anjo. Amélie jamais fora anjo, e duvido que gostaria de ser assim chamada. Mas asas de um convite a um mundo onde sabe-se exatamente onde está, e pode-se ser o que é. Um mundo também colorido, que assim como o seu também é ' um museu de grandes novidades'. E que assim como o seu e exatamente por isso, amanhece cada dia como uma promessa.



(...)




E aquela noite finalmente cantara sua chegada e ela cogitou a indecisão de sempre, não fosse a saudade e o aumento das intensidades que fogem ao controle... Já não era confusão. Deixou-se tocar e ser tocada... venceu a si mesma, apesar da dor... Mais que isso, decidiu que ela também poderia sentir prazer nas coisas, e a partir daquela noite ela sentiu o prazer das musas dos poetas... rompeu com toda estrutura de pecado, negou a tudo que lhe trazia desmerecimento e socou diretamente o estômago daquela histeria. Amélie berrou na chuva, transpirando amor e silenciando de paz.






Ela tornou-se maestra, e apaixonou-se pela regência.





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