domingo, 21 de fevereiro de 2010

Auto-patrimônio histórico da minha humanidade.





Hoje a moça da faxina chegou cedo. Acordei sob um céu de espirais rosas e com a voz mais doce me falando ao ouvido. Embaixo desse espiral rosa eu amo o caos e a calmaria de todas as facetas da vida. eu estava com saudades da moça da faxina, é sempre bom conversar com ela e além do mais, agora os cachos que ela sempre teve fazem mais sentido para mim. Acordei bem sonolenta e pronta para o sempre fabuloso café-da-manhã de sábado. Pus-me a perguntar com qual frequência faxino minha alma... porque se minha alma for o reflexo que vejo na minha casa... ai, ai, ai. A moça vai ter muito trabalho hoje. À medida que a gente envelhece vamos ficando mais cansados, descrentes, desleixados... e quando percebe-se estamos com a casa e a alma pesadas de entulhos, escombros. Aqui em casa, quando eu olhava ao redor, assistia um bucado de coisas inúteis, poluindo minhas paredes azuis e mesmo assim na hora do desfazer-me delas, a disposição se escondia de mim. Acho que esse acúmulo era minha consciência implorando alguma demonstração externa que não me deixasse esquecer que se eu não faxinasse minha alma, ela seria cada vez mais esse acúmulo de coisas desagradáveis e dispensáveis. Mas o que me chamou atenção foi que a moça interessou-se por meus entulhos. O que era desnecessário a mim, era necessário a ela e foi preciso uma intervenção externa, bem escancarada para que eu me desfizesse do relicário da minha preguiça. E são tantas as vezes que nossas emoções desenrolam-se dessa forma.. por vezes nos sentimos como uma casa velha, abandonada, feia e desinteressante... assim, nos colocamos como entulhos cuja única função é atrapalhar outros caminhos e observar os passantes, estáticos, inertes. Mas daí, sem aviso, passa alguém que nota os entulhos e mais que isso, necessita de todas as emoções e detalhes nossos que julgamos não ter mais utilidade. É para isso que servem os anjos de carne e osso e calças jeans... os gogantes que não nos deixam cair. Reciclar. Reutilizar. Reconstruir.

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