quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Turyia é um bom nome para corujas.




Seja bem-vinda de volta, insônia minha. Da última vez sua visita foi demorada, me custou. O sono é uma dadiva, é a expressão do descanso quando se está em paz. Uma das coisas que mais me deixam fascinada é um ser humano com olhos fechados... é incrível como o ato de dormir deixa que até o bandido exale inocência. Cada ser que dorme, experimenta a sensação da concepção... como um feto inocente, raso, aquecido no útero materno. Os olhos fechados, nesse momento, não carregam a morte nas pálpebras... mas sim a graça de poder ausentar-se do mundo dos vivos por alguma horas e acordar num novo dia, que pode ser mesmo novo. Como quem nasce, ou renasce. Dormir é romper o cabo que nos liga à realidade. É lindo observar alguém que repousa e ver a criança deixada na infância vir à tona para brincar de fazer sonhos dentro de um semblante tênue e leve, num mundo onde tudo é posível e verdadeiro. Dormir é mesmo um dom... tão natural e poderoso quanto o respirar. O que seria de mim se não mais respirasse? Um corpo frio que não pulsa e que, por partir, nada altera no sentido da sociedade humana. E o que é de mim quando não durmo? Dizem que a causa da insônia é dificuldade de abandonar a si mesmo. Talvez ( digo talves porque tudo parece ser de sal, prestes a desmoronar no próximo instante), mas talvez seja isso mesmo. Meu "eu" está em apuros, e ele é o náufrago que eu não posso abandonar nesse mar de ilusões. Seria a assinatura final do pacto com a escuridão, e eu odeio morrer. Meu "eu" pede socorro, corre perigo. Como salvá-lo? Me irrita o fato de ter que trabalhar amanhã com o corpo, sendo que a alma não vai nada bem. Nunca consegui desvoncular corpo de alma; tem gente que é bom em maquiar-se, dividir-se, camuflar-se. É fim de carnaval... o calor vai dando lugar à chuva... e é início de Quaresma. A insônia veio com data marcada, propensa à reflexão e mudança. Eu amo dormir... amo meu quarto escurinho, minha fronha do Mickey e meus sonhos de travesseiro. Por ser tão gostoso isso de quarto, acho que os chamaria de recompensa. Alguma coisa tem de mudar por aqui, para que eu seja merecedora do descanso. Enquanto isso, velai corpo meu ... não desista de pulsar meu coração cansado... até que sua alma esteja de pé, colorindo tudo com as aquarelas abundantes que vêm da saudade que eu sinto de mim.