domingo, 21 de março de 2010

Desconexões III




Uma semana são sete dias. 7 dias de abandono à minha loucura. Eu não me suporto. E a loucura não vai embora. O que me surta ainda mais. A loucura cresce por trás desses meus olhos arregalados e dessa febre custosa. Minha cabeça gira a 100 km por hora, não há o mínimo de organização aqui que me deixe saudável pelo menos. Ao contrário, toda organização deu lugar a uma força que me asfixia e me escurece as vistas.
Chorei três dias sem parar. Choro de culpa, de falta. Buraco fundo de um perdão impossível. Urgência de achar um caminho para reparar as coisas e te ter de volta, ou pra abandonar esse egoísmo da mesma forma que o desejo tanto.
Amigos. Essa palavra tem me feito cócegas doloridas. Grande perda, ou na verdade as coisas tem de ser como tem de ser, então é indiferente. Não foi forte o bastante, então já não quero para mim. Decepção. Eu sou mesmo insuportável. Não sinto rancor, sinto tristeza desenhando e apagando o rosto de cada um. Mais uma deseternidade me fazendo cair na realidade, ou me cuspindo na ilusão da loucura. Sei lá. É tudo frágil demais. É um saco ter que carregar o peso do equilíbrio a todo instante. Só restou eu e Caio, ele deixou o lugar lá onde ele estava tomando seu café sossegado e veio se deitar comigo. Ele pode tocar, apertar, apapar minha ferida, por que ele já esteve nisso. É uma invasão respeitosa, quase de fazer piada com a desgraça alheia. Juntos deliramos de dor. Pro resto eu não mandei nem um beijo.
Doídos. São seus olhos que eu pintei de vermelho. Como eu queria que eles me mandassem embora! Pelo contrário, ata meus olhos em ti e escancara sua dor. Eu não suporto, sempre fui covarde. Lanço tudo para fora de mim em lágrimas incontidas. Todos os nossos sonhos a dois, todos os nossos machucados mútuos... escorrendo nesses dias intermináveis. Os dias de outono são todos laranja-tédio-interminável; nada nem quente nem frio, tudo morno e preguiçoso. Até o barulho do papel higiênico desenrolando-se é alto demais. Outono carrega com ele a espera, sem esperança alguma mas com desespero abundante, em cada folha que cai. Esperamos por um milagre que nos salve do próprio outono, que nos salve de nosso cansaço. Até respirar exige muito esforço. A comida é sem gosto e o corpo padece em mil enfermidades, que expoem a alma necrosada.
De um lado do abismo eu, do outro lado, você. Ousei me aproximar. Vi sua barriga que eu tanto beijei contorcer-se freneticamente de nojo de mim e dos meus lábios. Facada merecida. Ouvi da sua voz que seu corpo já não sente mais nada. Facada merecida. O peito apertou sentindo você se entregar a outros braços. Doente de ciúme. Todas as facadas a partir de hoje são justas e fundas, atingindo a merda da minha memória que me deixa na mão quando eu mais preciso, retorcendo num sangue que não escorre, petrifica. Me apego até ao não parar tentar sobreviver ao seu talvez, porque se houver um sim eu tenho de estar viva. Um sim para vida não tem função quando já está morta.
Tudo num desencanto universal. Meu coração aprendeu uma batida tripla para doer mais. Eu queria você aqui parar me curar, mas não é possível, então eu vou dormir. Caio dá vontade de fumar. Ele faz parecer que quem fuma tem o direito de não ser perturbado por nada e morrer quando bem entender. Deus, nunca quis tanto morrer.

3 comentários:

Sr. Eulálio disse...

Adorável e confusa Talitinha,

Como você me lembra minha ex-namorada que sofria com o transtorno de bipolaridade. Tão linda quanto ela, mas escreve ainda muito melhor... A existência às vezes se torna um fardo pesado. A incapacidade que ás vezes temos de canalizar o nosso turbilhão emocional e encontrar os receptores de tanto amor, tanta emoção, tanta sabedoria...

Confusão só se dá pelo excesso de Vida. Excesso de tudo o que há de bom. Quando não encontra espaço livre, (co)funde-se...

O nosso lado "mal" nada mais é do que um lado que o amor não tá no momento (mas tá em excesso em outro ponto). Nada que não seja tão lindo também.

Se você quiser te dou colo e faço um cafuné. Mas digo logo de antemão que corres o risco de que eu me apixone por ti. ;-)

Um beijo no coração.

Nelson. Do mesmo planeta louco que você.

Sr. Eulálio disse...

http://eulaliotulalias.blogspot.com/2010/04/porque-adoro-confusao.html

Juh S. disse...

ahh sofrer por amor dói, sei bem disso.

mas é melhor sofrer do que nunca sentir o amor.
eu falo bastante disso no meu blog, se queiser compartilhar minha dor como compartilho a sua, a vontade xD