quarta-feira, 3 de abril de 2013

Por que Talita Confusão? II


Estou diante de um abismo. Na África era diferente porque por mais que estivéssemos a oceanos de distância, você estava ali comigo o tempo todo, dentro do meu coração. Agora tenho que te mandar embora de dentro e fora de mim. E não é nada fácil porque enquanto as coisas ainda fazem barulho a gente consegue fingir um pouco e ignorar a dor. Mas na madrugada tudo fica em silêncio, e daí o barulho da geladeira soa como um grito que chama essa dor dilacerante de te ter em tudo, em cada pedacinho. Eu sempre soube que depois de anos de uma vida vivida e sonhada juntos, me esqueceria de como é viver por mim mesma. Agora tenho que aprender a viver sozinha. Não posso mais te trazer em meu coração porque você não quer estar mais lá, e eu compreendo. Nesse abismo, eu olho pra baixo e vejo infinitos recortes de uma vida de 21 anos. E um deles especificamente me chama a atenção. Volto agora aos meus 16 anos e vejo que o ciclo se repete, como em várias coisas da vida. Sempre tive essa capacidade gigante de estragar as coisas, causar certa dor ou carregar tamanha dor em mim. Me lembro que aos 16 anos eu era conhecida como Talita Confusão! e isto não me incomodava, porque adolescente é um bicho que ninguém entende. Estava satisfeita de ter uma marca minha. Mas hoje me pergunto em que parte da minha vida isso tudo começou e porque? Será que existem culpados? Tenho essa capacidade de espalhar confusão na vida das pessoas. E não é que esteja ou seja confusa com os meus sentimentos. É que sou dona de uma personalidade ambígua nessa sociedade que já não é nada fácil. Espalho caos em tudo que toco e já não sei mais se tenho tanta certeza que carrego certa luz. Por enquanto meu mundo anda amarelo polaroid e estranhíssimo. Por um abismo, passamos sozinhos. E eu te desejo sorte e torço para não recordar coisas boas ou ruins. Na verdade a memória é um veneno. Gostaria que não houvesse recordações. Talita Confusão!, voltou. Ou melhor, já que essências nunca se esvaem, assim essa menina nunca se foi. 

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