segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

E aí, já tomou sua dose de analgésico hoje?


Quem me conheceu profundamente há alguns meses atrás, sabia que eu era totalmente contra o uso de drogas, lícitas ou ilícitas.Eu achava que as drogas, assim como a psicanálise, eram distorções da verdade, meios pagos de fuga. Tudo em nome de um santo equilíbrio ausente.
Se eu tinha uma cólica, aguentava firme que era para sentir a natureza da dor. Dores de cabeça, de hérnia, de ombro, eram pequenas superações diárias. Formas de dizer que eu ainda podia ver a verdade e que as coisas ainda estavam sob meu controle.
E cá estou eu, alguns meses depois, chocada por ouvir uma música que canta meu mantra desaparecido. Senti muitas saudades de uma época em que eu realmente buscava o equilíbrio. Respirar não era difícil e eu sabia fechar os olhos e honrar a divindade que havia em mim. Meu mantra já ganhou um texto por aqui, há muito, muito tempo atrás.
Hoje me deparei com um comprimido difícil de engolir na mão direita. Percebi que aquelas 750 gramas de analgésico haviam se transformado no meu hábito noturno casual. Depois de um dia de sobrevivência a cabeça pulsa, e meu corpo, que já não aguenta mais nada, não iria suportar mais essa dor. 
Em inglês, analgésico é "painkiller". Traduzindo literalmente, os comprimidos mágicos seriam os "assassinos da dor". Um assassinato que dura de 6 a 8 horas, infelizmente. 
Eu que tanto busquei o equilíbrio e disse não às químicas, agora me rendo aos comprimidos diários. E é nesse momento que sabemos o quão distante estamos de nós mesmos.
Sempre via nos filmes norte-americanos aquelas pessoas que preenchiam seus armários de banheiro com medicamentos. Eu sei que é uma patologia social, mas eu não entendia o porquê.
Por que pessoas que vivem em um país de primeiro mundo, com acesso a uma boa qualidade de vida, se drogariam todas as noites para conseguir dormir? O negócio é que o valor da vida decresce quando o dinheiro aumento.Bem-vindos à era da banalização.
Não há espaço para carinho e a loucura enche o lugar com as sombras de uma caixa de pandora repleta de futilidades e superficialidades. Some o toque, o olhar e as demonstrações de amor real.
Sinceramente, hoje vi uma cena que me provocou ainda mais asco deste mundo cansativo. Não consigo compreender a falta de lealdade escancarada. Que o ser humano era desleal eu já sabia, mas o que mais me coloca em parafusos é ver que os machucados estão sendo deixados no colo de pessoas que tem um bom coração. Pessoas que apenas derramam doçura. E lá estão elas, vendo tudo que acreditavam ser derretido pela falta de lealdade e humanidade daquele que chamou de amigo.
Antigamente, ou era suficiente ou se pregava que era suficiente ser bom e fazer o bem. Hoje em dia essa balança está desregulada, distribuindo feridas gratuitas e espalhando a efemeridade da "desimportância" das relações humanas. A vida tem pago em moeda desproporcional aqueles que fazem amor. 
A amizade deveria ser a forma mais forte de comprometimento. Dá vontade de mandar certas pessoas calarem a boca: pare de cuspir abelhas. Ferrões matam.
E é por isso que os americanos ou eu tomam diariamente sua dose de assassinos de dor. Serão oito horas de fôlego, disfarçando a falta de força para lutar por um equilíbrio real. Haja fé para honrar a divindade que há em você. Cadê ?

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