domingo, 7 de dezembro de 2014

Serpente.


Sabe aquela cena do desenho animado quando o personagem corre até que  chega em um penhasco? Ele desaba e enquanto eles caiam, meu coração de criança ficava sem ar. Mas, do nada, surgia um tronco de árvore e ali eles se agarravam. Pelo menos por um instante, tudo estava a salvo.
E foi assim que eu resolvi passar meu final de semana. Os finais de semana, especialmente, são desesperadores. O choro dos meus olhos é incessante, sou preenchida por vazio e medo. A vida insiste em existir, por mais que eu diga não. O tempo berra em meus ouvidos e não me deixa dormir. 
Fiz as malas e parti para a estrada, vestida por uma coragem que há muito tempo me faltava. Recentemente, eu havia desenvolvido um pânico da combinação: dirigir e rodovias. Tinha a impressão de que elas me levariam a apenas um destino: o hospital que mantinha a vida da minha irmã por um triz.
Mas desta vez eu fui. Senti falta de ter suas mãos para segurar. Mas Deus me protegeu com aquela cortina de chuva que cortava os sons à minha volta e me dizia: comigo você está segura.
Me lembrei da cena do desenho porque sim, meu mundo desaba. Ando caindo de um penhasco infinito, soterrada por tudo aquilo que eu conhecia sobre amor e verdade. Tenho que encarar meus medos de frente e dessa vez não há ninguém para me segurar ou me proteger.
Dentre os muitos, tive que enfrentar sozinha aranhas, água congelante, mordidinhas de peixes, o silêncio horroroso de um quarto vazio e o mais terrível: minha própria companhia. O que me acompanhará por uma longa jornada...
Mas, no meio disso tudo, havia um pequeno galho no qual eu podia me agarrar. Deus mandou que eu treinasse meus dragões e à noite, quando eu achei que não aguentaria mais, Ele pediu que Rubem Alves me fizesse um cafuné mineiro. Consegui dormir, finalmente. Me agarrei aos galho como alguém, que cai de um penhasco, tem sua única chance de sobrevivência.
Quando eu tinha 12 ou 13 anos, li um texto que falava sobre um homem que passou a vida buscando Deus (ainda vou encontrar esse texto!) Enquanto tudo esfarela, enquanto vejo que as pessoas simplesmente não se importam, eu só pude ir de encontro às duas únicas coisas verdadeiras: comida e natureza. O homem do texto, constatou por fim que Deus estava o tempo todo dentro dele.
Eu encontrei com Deus na água congelante de um rio que aqueceu meu coração. Deus é verdade. E é por isso que ele está na natureza. A gente peca por depositar nossas verdades nos homens. Homens se espatifam como bolhas de sabão. Foi congelando meu corpo que encontrei forças para sobreviver a esse domingo. Passo razoavelmente bem, corpo cansado, respirando com dificuldade.

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