Ontem eu estava caminhando pela calçada, depois de uma briga
colossal com meu amor e passei por um casal de jovens, deviam ter em torno de
17 ou 18 anos. Eles conversavam arduamente, sobre tudo, sentados no chão de uma
esquina qualquer.
É engraçado demais o amor jovem, o tempo simplesmente não
existe e as conversas podem durar séculos. O que me chama atenção é a
capacidade que o jovem tem de se expressar, promover suas ideias, como se o
diálogo fosse um reflexo no espelho, revelando uma belíssima identidade, única.
Você pula de um penhasco, toma banho de chuva, tem um milhão de amigos, pede carona para estranho. Deve
ter um santo protetor dos jovens, porque na maioria das vezes, tudo termina em festa. Dizem que a adolescência é uma montanha-russa porque ora se é
uma coisa, ora se é outra, em um grande conflito de identidade. Mentira. Para
mim é um fluxo contínuo de tudo que somos nós, saindo pelos poros, explodindo
em energia e paralisando o relógio. Expressão máxima individual de um ser que
ama e odeia intensamente. É usar aquela roupa porque é seu estilo, ou andar com
aquela turma porque é sua tribo, ou ouvir aquele gênero musical porque é o seu
som. Depois de adulto, tudo fica muito igual e muito menos autêntico. Crise de identidade é ser adulto, porque andamos por aí uniformizados de caretice. Povo marcado, povo feliz. Enquanto
eu passava por eles, tentei me lembrar da última vez que tinha feito aquilo.
Sentar na calçada, depois de um dia qualquer com toda a rotina de sempre, e
gastar meu tempo ali, horas e horas com a paciência e a mágica de argumentar
minha posição no mundo. Faz tempo. Queridos jovens, quando somos adultos, a
rotina é um polvo que te sufoca e cada dia é uma gota caída de um conta-gotas
cruel, chamado tempo. O tempo deixa de ser suficiente, e a paciência ou a
capacidade de conversar, é curta. Esta briga, por exemplo, na juventude teria
durado 5 minutos e acabaria em uma grande reconciliação. Mas como somos
adultos, pegou metade da minha noite, que já é tão escassa. Sinto falta de ser
jovem, por isso, aproveite se você ainda tem essa chance. Voltei do
supermercado e meu amor estava dormindo. Um beijo no rosto, um sorriso sem
graça, e um pedido de desculpas. Acorda! Vamos tentar aproveitar o que resta,
porque dessa vida, ninguém sabe.
P.S.: As vantagens de ser adulto envolvem aprender a respeitar o funk como uma manifestação popular e reconhecer que o
tempo passa muito rápido e por isso é necessário aprender a perdoar na mesma velocidade.
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