domingo, 10 de maio de 2009

De ressaca.


A Capitu do Machado tinha olhos de ressaca, dissimulados. Ser aceito é a condição fundamental? Por mais que seja repugnante, por mais que tenha sido este a pedra que destruiu teu lar. Está na cultura, está na festa, está no doce. Você continua odiando a sensação do dia seguinte, mas o cheiro líquido te traz as lembranças orgásmicas e você nunca resiste. O álcool é um potente orgasmo. Os dedos adormecem, contorcem ... a dormência sobe pelos braços e percorre teu corpo até as pontas dos pés, te fazendo tremer. E tudo recomeça de novo. Fluxo. Fluido. Êxtase. Frio na barriga. Nó na barriga. Você apaga. Você apaga sem conseguir dormir porque o mundo gira, e gira cada vez mais rápido te deixando tonta e enjoada. É nesse ponto que você se dá conta de que qualquer coisinha domina sua sanidade, que você é um merdinha que vive num corpo que não é teu. A confusão sobre pensar e descobrir qual a tênue linha que te separa da loucura cresce como um pão fermentado, e te engasga e nessa parte você vomita tudo. O álcool te transforma num telespectador 'sllowmotion' de você mesmo. Você observa tudo de fora mesmo vivenciando a cena e ri da própria desgraça. O álcool é desgraçado, a ressaca mais ainda e eu que sei de tudo isso e ainda consumo, sou a mais idiota desgraçada de tudo isso. Te direi que o hálito do meu pai cheirava a álcool. Esse líquido inundou minha casa de gritos, de lágrimas e de tudo que nos tornou estranhos uns aos outros. Álcool é diurético. O diurético fez mijar, urinar, excretar minha família e o amor que um dia senti pelo meu pai. Hoje acordei de ressaca à margem da hipocrisia. Capitu fingia. De ressaca a gente finge. Finge não lembrar das merdas que fizemos andando sobre a corda alcóolica, pois de uma forma ou de outra tudo aquilo fora armazenado em algum lugar mesmo que no extremo inconsciente e está guardado para jorrar a qualquer momento. A farsa por trás dos olhos de ressaca mal dormidos e vermelhos esconde uma irresponsabilidade de cometer novamente e novamente tudo aquilo que já tem-se de exemplo e presságio por um vício pré-existente. Com a cabeça em eco fundamental de um poço fundíssimo você desperta. Num esforço extremo tenta-se dormir de novo. Dormir mais. Possibilidade de esquecimento. Possibilidade de não ter acontecido. Possibilidade de ter acontecido e ter sido lícito e perfeitamente normal. O álcool é ilícito para menores e para o trânsito, e tudo que se faz embebedado acaba por ser ilícito apesar de sensual. O álcool fere o fígado, a alma, incendeia ... O guarda de trânsito pune; o juizado pune; sua consciência pune. Se nada disso fosse assim? As cabeças não girariam tanto, eu não estaria com essa fraqueza, meus pés não estariam gelados e minha consciência não gritaria sempre tão insuportavelmente.

2 comentários:

aliNe nOvaeS disse...

Toda essa esperança que voce disse... esse momento de encontrar o verdadeiro amor, nao preciso repetir q ja o encontrei... e agora q alcanço o portal do meu quarto (rs) eu alcancei o coraçao de quem tambem tem o meu. ^^ viva a amadurecencia (do teatro) viva o que o tempo nos traz... amor de verdade e a satisfaçao da espera.

te amo Tilitinha!

ps.: nao fique mais de ressaca... finja como Capitu ^^ farei o mesmo.

Ariana Luz disse...

Ah os inesquecíveis olhos de ressaca.
E a eterna melancolia etílica, que a ressaca dissimula esquecer.
desfasatez?quem sabe a gente tá aqui p beber e depois, depois vomitar aquilo que poderia ser a causa do porre..mas nem semrpre se cura..

adorei teu canto ;)

flores.