segunda-feira, 19 de abril de 2010

O riso que traz a dorzinha empacotada.




Hoje estou com vontade de falar com um caracol, nada contra as outras criaturas... mas é que o caracol é coloido dessas cores que carregam a beleza pigmentada, que vem de longe... preciso dessas cores, nemque seja para me dar a impressão de que ainda existe gente feliz em outro lugar. Esse negócio de carregar a casa nas costas é bem legal. Eu até seria um caracol se um caracol pidesse levar alguém consigo, nas suas jronadas. Já viu como a feiura é perigosa? Se isso te prende, corre o risco de cegar. Por isso cantar a beleza tem de ser em forte tom, de voz aberta e peito quente. É um milagre conseguir uma lanterninha que rasgue um pouco dessa escuridão. A casa de um caracol... hi-la-ri-an-te-men-te é um espiral. Só mesmo um caracol para encontrar abrigo num formato de furacão. Mas eu não sou caracol. E os espirais continuam aparecendo e eu não consigo achar nem a ponta do fim ou do começo dessa espiral maior chamado vida. Eita coisa difícil que é viver depois de grande! Seu expiral existencial é feito de quê? Pirulito cheio de voltas e cores e doçuras? Lençol macio, de uma cama geladinha de chuva? Mistura de tudo? O meu tem sabor de coquetel batido três vezes nas desilusões mais diversas. Nada vai se tornando o que a gente pensou que fosse. Pode ser "um museu de grandes novidades", mas ainda assim é estranho porque se repete algo que é triste, ou tudo que você acreditava que fosse e não é. É volta que não caba mais. Hoje encontrei-me com tudo que já chamei de "eu" e tudo que já chamei de "meu". Acho uma tristeza imensa as coisas passarem. O que mais me dói são os amigos que a gente diz tchau, de forma gratuita ou pagando um preço muito alto... o que dói são os sorrisos fotgrafados na memória, as feridas que alguns nos causaram, e a virgindade e a beleza roubada pela falsidade. Passeei meus dedos por palavras escritas e dedicadas à pessoas que já não existem nos meus moinhos, nas minhas confusões. Rasga o peito saber que de nada adinataria se o tempo voltasse, se eles voltassem ou se eu voltasse atrás. A confiança e o respeito quebram-se em pedaços impossíveis. Existem portas que se fecham com tamanha força que te impedem de levar certas coisas a sério. A porta que bate forte racha o portal e fica uma dificuldade danada de tantar abrir novamente a porta emperrada para novos mundos, novas pessoas. Às vezes sinto sede de amigos, de dar boas risadas... mas sabe a estrutura rachada? Sempre pensa que abrindo-se, os ventos fortes podem entrar depois da brisa e a porta bater e rasgar de novo o portal enfraquecido em mil linhas desordenadas. E talvez o portal um dia não suporte. Com certeza muitos não acreditam mais em mim. E o cansaço? É por isso que você pára de lutar tanto. Ser já é complicado demais. Insistir em ser, ter, crer o tempo todo é como disputar uma maratona por toda a vida. Cansa pra caramba! Por falar em cansaço, tento acietar Irmã Morte passando por aqui novamente, deixando uma promessa de descanço em troca das asas feridas do meu passarinho. Há de estar bem melhor agora, cheio de vida, voando alto. Pássaros t~em de voar alto, ficar em gaiola é uma tristeza. É como só existir. A morte é um sil~encio quente e impertinente. É caracol, arrastar-se não é fácil. Você se sente responsável pelas cores que lhe foram dadas? Cor é dom, para se espalhar. Eu vejo que tem mais gente cansada por aí. O mundo tá pesado. Mas o que eu não entendo é porque, se estamos todos sangrando, não dar as mãos para tentar estancar tudo que nos dói e nos torna desumanos? Essa armadura de ser humano é frágil-forte demais. Só mesmo um milagre para nos fazer abandoná-la, correndo o risco de morrer no campo de batalha, arriscando-se por um contato a mais com o outro além de mim. É foda levantar a cabeça sabendo que todos somos feitos da mesma matéria, da mesma desilusão e da mesma sacanagem. - Espelho, espelho meu.... dá para parar de mostrar esse mesmo rosto todo dia, antes que eu me vomite?

Um comentário:

Nathie. disse...

vc fala tão lá do fundo, que ao mesmo tempo que é confuso, é reconfortante.