domingo, 23 de maio de 2010

"Por que os ossos doem quando a gente dorme?"






Não bastava amar a solicitude, uma hora haveria de se sentir sozinha mesmo acompanhada, e com isso sofrer. Sofrer muito. É no mínimo estranho, para não dizer o quanto estou triste. Sinto calafrios, cólicas no estômago, os olhos não param de chorar e meus ouvidos ouvem como quem tem a cabeça dentro de um aquário. Longe, longe... Fico buscando de quem é a culpa, pra ver se fica mais fácil encontrar a saída. Tenho acordada apavorada com a separação. As boas lembranças superam as forças dos argumentos que nos fizeram sair. e agora elas fazem cócegas nos meus sonhos de travesseiro, e passam como fotografias de moinho a todo instante que fecho os olhos. Elas são as piores. A dor de um dia de sol que nos fez sorrir, m que nos sabemos de cór, supera a ferida de tudo que já choramos. Se dar conta de que o tempo passou, e que já faz tempo demais para fazermos alguma coisa, tipo, me mata aos pouquinhos. Os dias têm sido para velar e sepultar tudo que já foi definitivamente perdido. Agora entendo a dor de quem perdeu a casa numa catástrofe. Quem perde a casa, perde a casa de dentro, e perde a casa de fora, e perde as casas que construiu dentro dos outros. Hoje eu não encho mais a casa de alegria. E talvez a culpa seja minha, porque me sinto uma entrusa dentro do meu lar. Não caibo no meu quarto. Me arrasto. Eu achei que eu tinha aceitado bem. Mas é que a mente da gente bloqueia certas coisas para depois soltar um avalanche e detonar corpo e alma. Divórcio deveria ser classificado como catástrofe e todos os sonhos que ele destrói, tratado como crime digno de pena de morte. pensa bem? Divórcio está condenado à pena de morte e deixará de existir depois de uma injeção ou de uma cadeira elétrica. No meu caso, foram assassinados dezesseis anos de vida, e agora tenho de sepultá-los, superá-los e ainda ser feliz plenamente em... três anos? Não sou de ferro não, meu Deus. Nada daquilo existe mais. Nada daquilo se repetirá. Os católicos acreditam na trindade como uma unidade indestrutível, inseparável. No começo foi fácil ser três forças que se encostam para não se desequilibrar. Afinal, deixamos a dor para sorrir de novo, três vezes e três bocas mais. Mas o problema é depois que a raiva passa. Sobra o amor. E cada um a seu tempo vai descobrindo que depois que um cristal de quebra sobram os cacos. e do caco que restamos vamos virando pó. Um pó cinza, de matéria orgânica incendiada e destruída. Sem fé, sem vida. E esse é meu tempo de perceber. Não tenho mais raiva, tenho é muito amor. E a dor de um amor impossível, sangra. Vou multiplicando então, essa dor por 4, afinal eu também entrei na dança. talvez a saída seja mesmo sair, quando não se sabe o que fazer. E talvez essas lágrimas sejam o preço ou o único alívio para uma maturidade precoce que demonstrei... e a fragilidade, nessa maior idade, seja ridícula ao conjunto de seus olhos.

Nenhum comentário: