quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Rainha Dourada e Soldadinho de Chumbo.




Esse texto de hoje é dedicado aos meus avós. Às vezes nos esquecemos. Qualé? Eu sou de câncer, o que torna esquecer mais espontâneo ainda. Minha calma se perde no meio dessa correria toda. O egoísmo é o ritmo da modernidade. Vivo em funcão do meu emprego, do meu estudo, das minhas refeicões. É tudo meu, entende? E quando tudo fica meu demais, olhar para o nosso ou para o outro vira missão dantesca, falta tempo e sobra comodismo. Eu estressada faco questão de colocar em marcador fluorescente o defeito das pessoas, paciência super saturada. Qualquer pessoa? Não, os mais próximos. É tão fácil ser sorridente com meus clientes. De repente até nossas emocões ficam capitalizadas. Será que é porque eles pagam meu salário? E ainda me perguntam o porquê das minhas preferências pelo mato. Ser urbano me deixa desatenta aos detalhes que me fazem realmente feliz. De repente me esqueco de que minha casa é a simplicidade. Hoje tive um dia diferente. Por precaucão, e gracas ao oftalmologista não trabalhei. E a tarde abriu espaco para que um grande amor meu fosse relembrado. revivido. Falar de amor é tão fácil quando o coracão de concreto permanece gélido. Sentir amor é que gasta tempo, e mestria, exige rebolado e magia. Entre o cafezinho cheiroso, os biscoitinhos doces e risos e vozes roucas só lamentei o tempo que morri de trabalhar ou o tempo que gastei com pessoas que julgava meus amigos ... Pedi perdão pelas vezes que deixei de ver minha vó, toda pequenininha, brigando por mim. Ao invés disso decidi vê-la brigando comigo. Como ela é brava! Luta, argumenta, gesticula em defesa da troca do meu velho colchão como se fosse um grande ideal a ser defendido. Bravo! Eu poderia ter rido de muitas outras piadas do meu avô. Certamente meus avós são partes fundamentais de minhas delícias. E no fundo a gente sempre sabe disso, porque no final das contas é pra cá que eu sempre volto e me encho de paz. Eles têm tanta história para contar! Bom mesmo é esquecer. Como aquela boneca que um dia encontramos no canto do quarto e nos lembramos do quanto é bom brincar. É na perda, quando notamos que estamos sem chão e já não sabemos onde pisar que notamos o porquê de toda essa palhacada que é viver aqui. A saudade é a maior arma da vida contra o egoísmo humano. Eu gosto de ser chamada de "fia", e de ter a barriga doendo de tanto dar risada enquanto caminho com minha vó. Bom mesmo é esquecer, mas para se lembrar depois e antes que a estupidez se torne parte do nosso caráter. Por que sou louca de amor por essas pessoas desde pequenininha? Ah, devem ser as rugas.



P.S.: Desculpem pela falta de cedilhas, coisas de teclado.

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