domingo, 21 de dezembro de 2014

Onde você estava Natal passado?


Eu me lembro muito nitidamente de onde eu estava há 365 dias trás. Me recordo de acordar bem tarde todas as manhãs de um recesso abençoado. O sorriso daquela criança iluminava o quarto e a minha vida. Os barulhos daquela turminha me faziam acreditar que meu coração estava quente e a minha alma em paz. 
"Especialmente para os cancerianos", toda a minha verdade resumia-se a família. Lá eu estava em meu devido lugar, cheia de sonhos, escolhendo as cores que iriam pintar os meus dias. Juntos, acreditávamos realmente que aos pouquinhos poderíamos mudar o mundo ao nosso redor. 
Aquele menino não era meu filho, mas poderia ser. Eu queria pegar toda a dor que encobria seu corpinho de 5 anos e transferir para a minha vida. Demos alimento, roupa, calçado e brinquedos, mas ao longo do ano percebi que um mês foi capaz de germinar sementes virtuosas dentro daquele pequeno coração. Demos de herança a ele o carinho, o abraço, momentos de infância e convivência familiar que ele nunca tinha tido. Nessa falta de fé, eu ainda acredito no coração nobre daquele menino travesso.
E era exatamente aquela imagem que eu desejei para o meu ano novo. Eu estava pronta para construir a minha própria família. E poderia ter sido assim, mas não foi. Dizem que é devido ao primeiro ano de casamento, mas nada disso importa, porque não sobrevivemos.
Eu fui o tipo de garota, e depois moça, que era apaixonada pelo Natal. Tipo que viajava horas para ver uma decoração que havia em algum lugar, que escrevia carta para o Papai Noel, que acordava as 5 da manhã para fazer café da manhã para os meus, que passava madrugadas escrevendo cartões que não deixassem as pessoas esquecerem de quanto eu as amava. Armar a árvore era dia de festa, cozinhar juntos e cantar canções de como era belo estar ali. Na véspera, eu me postava ao lado da árvore e junto a Jesus menino eu rezava sem contar o tempo, acreditando imensamente que ali tudo renasceria.
E hoje, quando o desespero de um fim eminente se aproximava, eu me peguei questionando: onde você estava Natal passado? Eu estava fazendo alguém feliz. Meu coração estava aberto. Eu vivia a inocência de sonhos claros e belos.
E hoje estou aqui, sem me importar com tudo aquilo que fazia de mim eu. Assustada com a velocidade do calendário, mas confiante de que os dias apenas passem depressa, indo em direção a não sei o quê. 
Sei que quando o relógio tocar meia-noite, tudo irá se desfazer bem facilmente. A vida é uma coleção de eternas despedidas. Fico me perguntando onde tudo se quebrou. E enquanto eu pensava em tudo isso, só consegui te olhar nos olhos e dizer que a vida é mesmo muito triste.


Um comentário:

Noturno Saudade disse...

Fiquei muito tempo em seus dois últimos parágrafos, que me fizeram lembrar de um poema de Mario Quintana. "Agora é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado um dia, outra oportunidade eu nem olhava o relógio. Seguiria em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas..."
De que seriam feitas nossas tristezas sem nossas felicidades é essa bipolaridade que deixa tudo amargo e logo em seguida tão suavemente doce. E para tal contamos com a eternidade que é vislumbrar o passar dos ponteiros e no final entender que perdemos tantos sorrisos e amores apreciando apenas o tempo passar.