terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Andanças sem andar.


É que tem dias que o palhaço fica assim ao céu, sem teto na cabeça, sem casca nenhuma que lhe faça um pouco mais forte. Se fosse no palco, ele diria que estava um super herói sem capas. Mas piada assim, cá pra nós, não tem graça alguma. Tem coisa mais triste que um palhaço triste? Depois do espetáculo, na rua e sem platéia, a dor escorreu pelos olhos, borrando a maquiagem roxa. A vaia veio de si, ou de partes que lhe compunham. Cada aplauso fora uma vaia que lhe arrebentava as costelas? A lua tem mania de dar o tom de azul às coisas. Lembrou-se então de outras memórias, cobertas pela mesma luz: como era belo o blue daquela pele gélida na madrugada. Blue. Blues. Para acompanhar o choro, uma canção. Como doem as lembranças! E como corroem as incertezas! Não bastasse a zombaria dos outros revirando suas víceras, agora o que lhe restava eram chacotas, deboches de si ou de partes de si para si mesmo. Num cansaço enorme, desabou no picadeiro, teve vontade de abandonar a corda. Mas apagou as luzes e foi pela noite feito coruja pensando o que faria agora sem lar. Ao léu. à lua. Enquanto sua vida envelhecia.