sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sobre tornados...


Suponhamos que eu tivesse apenas poucas horas ou dias de vida, e exista uma lista como aquelas de coisas que queremos fazer antes de morrer. Meu maior desejo certamente seria observar de perto um tornado, que aliás sempre me atraiu e me fascinou. Não! As produções de Hollywood não foram suficientes para me convencer de que tornado deveria me causar medo, em mim elas causaram o reverso. Aquela massa cinzenta-azulada na minha tela conquistou meu espaço sonhador. Eu sei nada sobre ventos e meteorologia, minha ligação com o tornado é puramente física e metafórica. Vento e vida são gêmeos siameses.A vida é totalmente frágil, pode se desfazer em questão de segundos... em qualquer esquina... O vento também é frágil, e se tranforma fatalmente em qualquer sopro inesperado. as vidas brincam entre si, interceptam-se, sobrepoem-se ... e assim os ventos movem-se, chocam-se, se confundem na bola azul e gélida da Terra. A vida tem prazo de validade, os ventos têm vida útil. A vida, apesar da fragilidade de seus choros e risos, é forte inexplicavelmente. Quando não há mais vida, há a ausência da vida. A invisibilidade dessa vida permanece no ar. A vida morta e invisível é a única forma de vencer a barreira do tempo e do esquecimento, pois não precisa ser vista, e nem vai embora, é apenas sentida. Não importa o tamanho da vida ou o impacto que ela causou, não existe um padrão incontestável da concepção de certo. Todas as verdades são relativas. Os ventos, assim também, são notados pela sua invisibilidade. Não interessa realmente se o vento durou como brisa ou furacão, o fato é que seu movimento trilhado influenciou os climas onde tocou. Vidas e ventos são almas idênticas. Mas voltemos ao tornado, que seria uma fase do vento. Comparando vento à vida, o furacão seria a "enérgica" adolescência. Tornado é caos, anarquia. Começa lento e se intensifica em torno de seu próprio eixo, em torno de sua própria introspecção. Em pequeno espaço de tempo o tornado se torna forte e passa a se alimentar só de sua própria confusão, seu próprio e eterno conflito espiral. O mundo além dos limites espirais do tornado, por mais que o tornado se agrave, continua sendo "o mundo além dos limites do tornado". O mundo intacto e perfeitamente encaixado e simétrico que o destruidor tornado não vê com bons olhos. O tornado encara dois caminhos possíveis: ir de encontro a esse mundo de peças encaixadas e tantar modificá-las, de maneira que ele acredita que ficariam melhor ajustadas, que o mundo seria mais mundo... ou procurar incessantemente outro furacão mais forte que o faça parar de rodopiar em si mesmo. O tornado fica tonto, enfim.
O que há de mágico num furacão? sua força pode arrancar tudo que parecia sólido e intocável do chão.... concreto, veículos, moral, ideologia, vidas dentro d eoutras vidas... o tornado que conseguir organizar seu caos pode reconstruir seu eixo quantas vezes for necessário, até ajustar sua paz. Em instantes um tornado pode não saber mais o que é ou criar um novo eu. Furacão é entropia e a vida surgiu da entropia substancial. Entropia é promessa de vida nova. O caos destrói no objetivo de construir. Isso é a magia. A vida na prática é sempre paradoxo. No centro do furacão não há confusão, seu olho está intacto. A essência de uma brisa que vira tornado nunca é atingida pelo caos externo dos anéis espirais. Permanece constante, presente e invisivelmente mínima. O tristeza de um furacão não está no seu cinza azulado, mas sim no tempo que o vento perde se distraindo com seus objetos voadores e violentos e grandes ... a brisa se assemelha a uma pedrinha preta quase inotável dentro do peito do vento, e está sempre a cutucar a carne dolorida...
Tenho leve impressão que já vi um furacão de perto. minha morte não está programada ( estranho isso ) e eu continuo sonhando em observar um furacão. estar diante desse espetáculo significaria ter eu roubada de mim mesma pela natureza ( eu que nunca fui minha ) e assistir meu caos adolescente, ser platéia de minhas dúvidas. Talvez e remotamente eu me entenderia melhor. Crescer dói. Sou o furacão do meu mundinho. Não morro sem respirar aquela massa cinza-azulada e gigantesca, mas até lá quero ser brisa ...

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