sábado, 2 de janeiro de 2010

Sem esse gosto de sabão na boca.




É claro que eu não deixaria de escrever um texto de ano novo. Novo não, pois não haveria muito o que escrever sobre um ano recém nascido além de desejos e anseios. E acho que não haveria muita dificuldade em encontrar escritos sobre esses desejos universais em todo canto. Então vamos falar do que já foi escrito, do que me torna um indivíduo, daquilo que chamo de minha e de vida. Senhoras e senhores, eis aqui um texto de ano velho.


Quase mandei 2009 ir embora a custa de ponta pés. Não aguentava mais. 2009 foi longo demais para ser chamado de 2009, por isso clamo às letras para chamá-lo de 'doismilenove'. A soma de seus algarismos resultam em 11, e esse número só me lembra dia 11 de setembro, torres gêmeas, destruição. E esse é o símbolo do meu 2009, como um parto, uma guerra, minha vida foi varrida, parindo uma entrada dolorida na idade adulta. Como todos os anos, ele também nasceu bebê, em meio ao caos da minha depressão pós reprovação no vestibular da UNB, seguindo de minhas numerosas dúvidas de escolha profissional... por fim acabei rasgando meu diploma de futura jornalista, sem descartar o caráter provisório da coisa. Pois é muito cedo para ter-se sentença de granito de tamanha responsabilidade. Arranjei um trabalho que chamei de primeiro emprego, e cá pra nós que a semi-escravidão não me fez nada bem. Engordei. Chorei. Surtei. Larguei. Com apoio incondicional da minha mãe e minha irmã. Descobri que sou uma pessoa mais econômica que pensava. Apliquei os valores de honestidade ensinado por vovô e vovó e gostei disso. Tomei nota de que o orgulho é o valor mais idiota e ausente de função que o homem já criou, e a partir de então atropelo o meu sempre que posso. Depois virei a única coisa que profetizava nunca ser na vida: professora. É claro que isso me deixou num conflito imenso sobre minhas verdades e minha impotência perante os fatos, resisti ao máximo, porém a loucura maior foi ter me apaixonado perdidamente pela profissão. Pasmei ao prestar vestibular para letras, vestibular que sonhei no Sul, adaptei para Brasília e acabei fazendo de fato no meu berço goiano. O mais surpreendente é estar aguardando a aprovação em ritmo empolgado, mesmo após tantas adaptações de sonhos e conceitos. Foi um ano sem melhor amigo, que cruzou meu caminho de volta no final num reencontro que serviu como assinatura para deixá-lo ir. Acho que talvez o término das coisas também possa ser um destino, e assim como aceitamos as coisas que ficam é preciso aceitarmos também as coisas que vão com tamanha beleza e fé. Isso lembrou-me de outra coisa: continuo me perguntando se já amei de verdade ou não, mas enquanto me decido vou amando do jeito que posso. De novo. Adoro repetir isso... outra vez. Saber que fui capaz de amar de novo e recosntruir sonhos me deixou com um frescor gigante de liberdade que posso tentar explicar. É algo como... se depois do susto de assistir tudo que você acredita ser demolido porque o amor que era para sempre acabou, estava te fazendo mal ... você visse surgir um grande martelo que quebrasse as correntes que te mantiveram presa ao comodismo de coisas vividas pela metade, e você corresse como quem descobre que tem pernas, corresse muito e mais rápido e chegasse a um lugar que pudesse chamar de seu e admitisse que apesar de diferente do outro, também era belo e cheio de cores e perfumes. Criei coragem para cortar franja. Hoje agradeço pela oportunidade, pela honra de ter feito parte finalmente de alguma coisa na história mundial através do contágio de uma pandemia. Obrigada gripe suína! Obrigada por eu ter sobrevivido para contar depois! Na calmaria consegui emagrecer. Apaixonei-me por meus colegas de trabalho. Conheci lugares que com certeza me levaram pertinho de Deus e seu céu ( um brinde especial à fantástica cachoeira Rei do Prata). Descobri que gosto das minhas unhas bem coloridas. Minhas delícias foram marcantes nos livros que li, nos filmes que vi e nas músicas que ouvi ( não posso me esquecer também das belas apresentações de balé). Vivi amizades que talvez sejam as mais fortes da minha vida. E, como ' a hora do encontro é também despedida', doí com seus respectivos afastamentos com a mesma intensidade dos sorrisos compartilhados. Ainda não sei se são amigos apertados em 'pause' ou 'stop'. Colecionei novas cicatrizes, celebrei datas marcadas e me despedi de várias outras coisas, pessoas e sentimentos. Meus 18 anos mudaram bastante minha vida, é verdade que de forma diferente do que se espera, mas de fato aconteceram mudanças. Um brinde ao ano de entrada dessa coisa adulta, desses mitos desfeitos e reelaboração de crenças. Dói pra cacete mesmo, não vou mentir. Doismilenove foi a crueldade humana escancarada, que desencadeou sustos, lágrimas e decepções em mim. Foi aí que eu parei de acreditar que todos os homens podiam ser bonzinhos algum dia, e resolvi lutar só por mim mesma e deixar de carregar o peso do mundo nos meus ombros ( mais ou menos). Foi triste ver que o preconceito ainda é muito maior do que eu idealiza em meu mundinho, que a escola é a maior propaganda da hipocrisia e da segregação social, que julgar ainda é tendência de todas as estações e que a futilidade ainda impera entre e muito mais próxima de nós. As noitadas, geralmente me deixaram gosto de incompletude, tendo como ápice minha esquisita e totalmente esquecível festa de aniversário. São erros que não desejo repetir. Protagonizei uma cena cinematográfica no aeroporto, e me senti muito bem depois que percebi que aquilo acontecia na minha vida real. Termino esse ano como quem está parada na borda de um poço assistindo um balde afundar, cheio de agonia, indo embora... levando anjos, lembranças e o crescimento pelo sangue derramado. Regredi na aceitação de mim, cheia de esperanças num ano cuja soma de algarismos resulta em três. Três é meu número da sorte. Que o terrível 2009 me faça notar um maravilhoso 2010.


Adeus meu caduco, deixe comigo seu Cazuza e a revolução... porque mesmo odiando a morte essa é sua hora de padecer. Senhoras e senhores, gostaria de propor um brinde porque eu sobrevivi! Ponto final.



P.S.: Não deixem que o conceito de família caia em desuso.

Um comentário:

Ariana Luz disse...

Ainda bem que se foi.o teu foi fatal, mas tenho pra mim, também, que 3 é um número cabalístico e vai dar tudo ceeeerto.

Flores [de maior]
hehe