quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pertencer.


Cada um tem seu baú, o meu é bem pequeno, com madeira clara, meio desgastada, todo trançado, como se fosse uma cesta que trouxe flores. Sempre gostei de coisas pequenas, parece que elas carregam uma paz singela, o conforto e aconchego de um lar. No fundo desse baú achei um papel de contrato. Rasguei. Cortei os votos, as assinaturas e as testemunhas, afinal um negócio apoia-se naquelas letrinhas do papel. Na verdade o papel era meio encardido, coisa de tempo... raridade para poucos sobreviver a anos que contam as duas vidas geradas por meio dele. Olhei em volta ... tudo ainda estava lá. Decidi queimar o papel. Tudo ficou no lugar. Sabia que eu já soube de histórias que as coisas dissolvem? Isso é quando os fatos e o acordo é só teórico, aquela coisa forçada e calculada que me causa alergia. Essa matemática não sobrevive às coisas da vida. Mas com meu bauzinho foi diferente. Um cara que vive batucando me convenceu que é porque o acordo só foi assinado para encantar o que já era belo, louco e real. Me disse que as assinaturas que importavam eram só as do jardineiros que ficaram responsáveis por aguar aquela florzinha do amor dia após dia. Assinatura alheia não culminaria em construção alguma naquela caixa, talvez só em destruição. Na borda da caixa tinha um mapa, que cabia o mundo inteiro e espalhava cada coisa do baú em todo canto, mas mesmo assim os corações sobreviviam, continuando a bater compassados. Que Deus uniu, ( nasceram os filhos, partiram animais, pariram netos, chegaram outra bicharada...) e o homem... bom, o homem não deveria separar! Caramba Deus... tudo bem que o senhor me fez meio confusa, mas essa parte ouvi muito bem daquela estrela de onde vim!



No final das contas e das fases, eu-hippie, eu-skatista, eu-roqueira, eu-eu... e todos os outros que virão sempre escolhem voltar para esse baú e dentro dele nem um rótulo é necessário. Por que escolher um baú e não um casulo? Essa é fácil! Casulo é aquela coisa fechada, como um coma, uma semi-morte, que te evita a vida como um todo, tristezas e alegrias. O baú não. A tampa abre Deus, e te vomita na vida, dá injeções de ânimo e de repente você já está dando os primeiros passinhos rumo a tudo que pulsa fantasticamente cheio de dor e delícia, fora do baú. E daí que se você encontrar algo bom na curva , sorte sua! Certamente você desejará seguir em frente! Mas e se você achar uma coisa feia? Aí a coisa complica! Um casulo não se reconstrói uma vez rompido, a lagarta vira borboleta e pronto. Mas a tampa do baú fecha ... e abre... e tem aquele espelhinho no canto, sabe? Aquele que eu olho e vejo minha cara de menina, com cabelos curtos e pretos, sorrindo como quem está prestes a aprontar? De tudo que eu vi e vivi nesse tempo tenho saudades... era o esperado para uma canceriana cuspida... e só com meu baú posso voltar, mesmo com 18, 25, 50 anos... nesse tempo lindo, como uma máquina do tempo. Encontrei no fundo do baú um soldadinho de chumbo... foi o único príncipe que encontrei nessa vida. Lá fora não achei nada nem ninguém que parecesse pelo menos com a unha do meu homenzinho. Foi ele quem me ensinou a lutar contra meus dragões, pescar, encontrar paz nos livros, nos filmes e nos cantos dos pássaros. As mãos dele são gigantes, sempre maiores que as minhas me dão um colo de proteção inabalável. Agora o soldadinho envelheceu. Príncipes não deveriam envelhecer, isso não é justo! Como eu, a menina das mãos pequeninas, vou proteger ele, o homem das mãos gigantes? Nunca foi assim, Deus. E agora não sei como fazer. Do seu lado havia uma rainha, com lindos fios dourados e mutante como trocas de roupas. Ela, ao contrário dele, era mais real que ideal. Ou não, depende da sua lente de contato. A rainha toma da fonte da juventude, o tempo passa e ela fica mais jovem. Sabia que ela é linda e adora falar com o Senhor todo dia? Ela te visita sempre, adora cantar e eu soube por aí que ela se importa muito comigo. Agora ela vestiu uma roupa, que confesso que não lhe caiu bem. Preferi a tendência passada... aquele vestido-que-criava-o-bolo-delicioso-com-requeijão! Tá metida com umas falsas-realezas, e eu ando buscando seus olhos... o Senhor, que é conhecedor de todos os corações, me dá notícias deles? Na mesinha de madeira existem oito lugares e a mesa está sempre posta em ceias de Natal e almoços de domigo. Cada um senta-se com seu melhor sorriso, escolhido rigorosamente pelo comitê da memória. Do lado do soldado e da rainha tem aquele vagalume verde, que tece fios e luzes e mora perto das cachoeiras que saíram dos Seus dedos. Seu bum bum ilumina meu caminho inteiro... e tem aquela joaninha cacheada, vermelha e preta de teimosa e de flamengo... que cuida dos doentes... essa daí já é o sorriso mais bonito que eu conheço. Tem a Janis Joplin de voz gostosa, minha companheira de pilates e de sol... e a mini Janis Joplin do Cerrado. Achei também um bicho de bochechas fofas, que não sei se é urso ou cachorro, só sei que é meu maior e melhor sonho realizado, minha alegria de cada manhã. E por fim uma barbie, docinha e azeda, o glamour hollywoodiano e escandaloso que me faz gargalhar e enfeita a caixinha. Tenho tantas fotos coladas aqui. Tantos lugares colecionados... Ainda sobra espaço para o tempo que ainda me resta. E eu amo cada cantinho desse quadrado, até aquele arranhado ali e aquele aculá... Alguma coisa não tem anadado bem por aqui. Ouvi um terremoto ou boatos de uma epidemia contaminando meu relicário. Pra cá voltei rapidamente. Acho isso confuso porque foi por uma carta sua que me pus a caminhar por esse mundo como se ele fosse um segredo. Até que gosto dessa minha missão na vida. A coisa funciona como meu alimento. Doutor estou com náuseas, será que é fome? Como poderei caminhar com fome? Como minha força pode ser também minha fraqueza? Se o baú sumir, para onde vou voltar quando estiver cansada? E esse forro de mesa sujo, é pra quê?


A mão direita do canhoto. A aids do Cazuza. O whisky do alcóolatra. A diabets da infância. A orelha diferente por trás dos cabelos longos. Ando doendo, Deus. Como vício, doença, restrição,impotência e ponto fraco. Será que o Senhor poderia salvar meu baú? Amém!



- Out of luck, out of faith, loosing my memory, saving my face...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A quem me ensinou a desenhar carneirinho...



Em primeiro lugar devo dizer que só seus olhos lacrimejantes foram capazes de calar o Vinícius, e em segundo lugar gostaria de dizer que o texto está escrito em verde porque você odeia verde.
Eu gostaria muito de te dizer que eu vivo porque te amo, mas não posso. Seria uma mentirada só, sujeira das grandes. Porque, amor, eu sempre vivi antes de você aparecer. Minha história não precisou esperar até você para começar a ser escrita. O que eu posso te dizer, sem falsidades, é que eu te amo porque estou viva... e até que vivo melhor depois de ter me apaixonado por você. Seus cachos me troxeram luz e se você partisse hoje... bem, se você partisse hoje eu continuaria a viver mas faltariam as coisas que faço por causa desse amor e essa falta me deixaria um buraco enorme e triste, eu teria de inventar algo que desviasse minha atenção da cicatriz grotesca que seria viver sem você. Quando te olho vejo um clamor constante por provas de amor... isso se chama insegurança. E confesso que às vezes fico chateada por você não acreditar em mim. Mas sabe, que na verdade, meus dias também têm sido camadas de alternância entre "o meu amor é retribuído" e "não, o meu amor não é retribuído"? Pois é meu bem, hoje decidi agradecer ao noso Cara pela insegurança depositada em nós que não nos deixa ficar parados no que é cômodo. Tomara que essa insegurança dure pelo resto da vida cheia de sonhos que quero viver ao seu lado, porque é graças a ela que buscamos a cada segundo algo que nos faça ter um pouquinho de mais certeza sobre esse sentimento complicado. Acho que ela pode até ser um daqueles venenos que o Cazuza procurava, que seriam capazes de curar a monotonia da vida, sabe? Porque não ter certeza é fundamental para reinventar maneiras que não te deixem duvidar do meu amor, e vice-versa. O inseguro nos traz a euforia que só as novidades conseguem despertar. Sua importância na minha vida atingiu a escala que acusa todos os dias ao seu lado como memoráveis, gravados em mim com todos os detalhes das coisas que faço questão de não esquecer, arquivados na categoria das minhas delícias. Ter notado que não vivo por você me mostrou que você é o motivo das coisas mais importantes que a vida em si, como por exemplo as coisas que deixam meus dias coloridos. É por você que ando à meia-noite nessa cidade deserta... não diria sem medo, mas enfrentando esse meu medo do perigo e desencadeando em mim uma reação corajosa de admitir e enfrentar os outros. É por você que todas as canções de amor ( que são nossas) desenham seu sorriso travesso em cada esquina da minha pista de treino. Por culpa sua entro emd esespero quando vejo as coisas da Alice, do Principezinho, da Palhaçada.. e desejo no silêncio enriquecer para te entregar toda essa beleza material que te arrancaria um sorriso grandão. E por sua culpa queria que as coisas fossem um pouco melhores. Fiquei meio 'perturbada' circulando por cada supermercado que entro à procura de cobrinhas azedas, creme de avelã e suco de pêssego... mesmo se não for pra comprar, só pra ouvir cada uma dessas coisas me dizendo que você as ama. Eu te amo um pouco por causa das coisas que você ama. Passei a ver novela das nove, porque a gente sabe que a bossa nova é um nó de um laço que nos une e é bom ouvir nossas semelhanças e depois lembrar do quanto somos diferentes e de como isso me faz crescer e querer te desvendar mais e mais. Eu assista TV também na espera de encontrar aquela personagem que se parece com você, e ver seu corpo tomando o lugar que era dela... lentamente.. alucinadamente... e agora é você que está lá, com seus gestos efusivos, seus movimentos dramáticos, sua risada debochada e sua voz rouca. Outra coisa que me faz te amar mais um pouco é essa voz rouca. Quando sinto alguma dor, lembro de você ter vencido o receio de olhar nos meus olhos e imagino o quanto deve ter doído em você escancarar sua alma e aceitar a minha por completo, então sei que depois da dor vem a beleza e assim a enfermidade fica bela e logo passa. Por você aprendi a conversar no celular e até aguento um pouco a queimação nas minhas orelhas devido às nossas longas conversas. É com você que durmo pregada sem me incomodar com espaço pequeno e suor que me fazia coçar. Ou também com você que acordo às 6 da matina com humor de quem acordou às 10 e a disposição de quem coemte um crime e tem de fugir para não ser pego. Foi por você que decidi sentir prazer ao ser tocada e com quem tive a-melhor-virada-de-ano-do-mundo. É do seu suspiro de afago de menina mimada, que parece um gatinho que sinto falta escrevendo esse texto. Você é minha gargalhada preferida das nossas falhas de português. Poderia comer cachorro-quente na praça todo dia com você sem reclamar, e se a gente enjoasse poderíamos procurar um novo sabor e devorar com todo apetite de primeira vez. Por falar em comer, mais uma coisa que amo um pouco em você é sua bagunça na mesa, sua boca lambuzada de molho, sua frescurite-fiscal-alimentar e sua preguiça de exercitar-se comigo. Amo um pouco também a pinta que você quer tirar.. e os beijos que distribuo no seu rosto, e em sua boca quente e depois no seu corpo inteiro. E acho o máximo a paz que eu sinto quando ficamos quinze dias sem brigar. Bem... as outras coisas que eu amo em pouco em você talvez eu não queria dizer e existem outras que ainda desconheço. Mas não se preocupa que quero descobrir todas e para isso dispus meus infintos dias. E que cada dia seja uma prova de amor.
- Amor sopra minhas costas queimadas que eu quero cuidar do corte no seu pé...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Sem esse gosto de sabão na boca.




É claro que eu não deixaria de escrever um texto de ano novo. Novo não, pois não haveria muito o que escrever sobre um ano recém nascido além de desejos e anseios. E acho que não haveria muita dificuldade em encontrar escritos sobre esses desejos universais em todo canto. Então vamos falar do que já foi escrito, do que me torna um indivíduo, daquilo que chamo de minha e de vida. Senhoras e senhores, eis aqui um texto de ano velho.


Quase mandei 2009 ir embora a custa de ponta pés. Não aguentava mais. 2009 foi longo demais para ser chamado de 2009, por isso clamo às letras para chamá-lo de 'doismilenove'. A soma de seus algarismos resultam em 11, e esse número só me lembra dia 11 de setembro, torres gêmeas, destruição. E esse é o símbolo do meu 2009, como um parto, uma guerra, minha vida foi varrida, parindo uma entrada dolorida na idade adulta. Como todos os anos, ele também nasceu bebê, em meio ao caos da minha depressão pós reprovação no vestibular da UNB, seguindo de minhas numerosas dúvidas de escolha profissional... por fim acabei rasgando meu diploma de futura jornalista, sem descartar o caráter provisório da coisa. Pois é muito cedo para ter-se sentença de granito de tamanha responsabilidade. Arranjei um trabalho que chamei de primeiro emprego, e cá pra nós que a semi-escravidão não me fez nada bem. Engordei. Chorei. Surtei. Larguei. Com apoio incondicional da minha mãe e minha irmã. Descobri que sou uma pessoa mais econômica que pensava. Apliquei os valores de honestidade ensinado por vovô e vovó e gostei disso. Tomei nota de que o orgulho é o valor mais idiota e ausente de função que o homem já criou, e a partir de então atropelo o meu sempre que posso. Depois virei a única coisa que profetizava nunca ser na vida: professora. É claro que isso me deixou num conflito imenso sobre minhas verdades e minha impotência perante os fatos, resisti ao máximo, porém a loucura maior foi ter me apaixonado perdidamente pela profissão. Pasmei ao prestar vestibular para letras, vestibular que sonhei no Sul, adaptei para Brasília e acabei fazendo de fato no meu berço goiano. O mais surpreendente é estar aguardando a aprovação em ritmo empolgado, mesmo após tantas adaptações de sonhos e conceitos. Foi um ano sem melhor amigo, que cruzou meu caminho de volta no final num reencontro que serviu como assinatura para deixá-lo ir. Acho que talvez o término das coisas também possa ser um destino, e assim como aceitamos as coisas que ficam é preciso aceitarmos também as coisas que vão com tamanha beleza e fé. Isso lembrou-me de outra coisa: continuo me perguntando se já amei de verdade ou não, mas enquanto me decido vou amando do jeito que posso. De novo. Adoro repetir isso... outra vez. Saber que fui capaz de amar de novo e recosntruir sonhos me deixou com um frescor gigante de liberdade que posso tentar explicar. É algo como... se depois do susto de assistir tudo que você acredita ser demolido porque o amor que era para sempre acabou, estava te fazendo mal ... você visse surgir um grande martelo que quebrasse as correntes que te mantiveram presa ao comodismo de coisas vividas pela metade, e você corresse como quem descobre que tem pernas, corresse muito e mais rápido e chegasse a um lugar que pudesse chamar de seu e admitisse que apesar de diferente do outro, também era belo e cheio de cores e perfumes. Criei coragem para cortar franja. Hoje agradeço pela oportunidade, pela honra de ter feito parte finalmente de alguma coisa na história mundial através do contágio de uma pandemia. Obrigada gripe suína! Obrigada por eu ter sobrevivido para contar depois! Na calmaria consegui emagrecer. Apaixonei-me por meus colegas de trabalho. Conheci lugares que com certeza me levaram pertinho de Deus e seu céu ( um brinde especial à fantástica cachoeira Rei do Prata). Descobri que gosto das minhas unhas bem coloridas. Minhas delícias foram marcantes nos livros que li, nos filmes que vi e nas músicas que ouvi ( não posso me esquecer também das belas apresentações de balé). Vivi amizades que talvez sejam as mais fortes da minha vida. E, como ' a hora do encontro é também despedida', doí com seus respectivos afastamentos com a mesma intensidade dos sorrisos compartilhados. Ainda não sei se são amigos apertados em 'pause' ou 'stop'. Colecionei novas cicatrizes, celebrei datas marcadas e me despedi de várias outras coisas, pessoas e sentimentos. Meus 18 anos mudaram bastante minha vida, é verdade que de forma diferente do que se espera, mas de fato aconteceram mudanças. Um brinde ao ano de entrada dessa coisa adulta, desses mitos desfeitos e reelaboração de crenças. Dói pra cacete mesmo, não vou mentir. Doismilenove foi a crueldade humana escancarada, que desencadeou sustos, lágrimas e decepções em mim. Foi aí que eu parei de acreditar que todos os homens podiam ser bonzinhos algum dia, e resolvi lutar só por mim mesma e deixar de carregar o peso do mundo nos meus ombros ( mais ou menos). Foi triste ver que o preconceito ainda é muito maior do que eu idealiza em meu mundinho, que a escola é a maior propaganda da hipocrisia e da segregação social, que julgar ainda é tendência de todas as estações e que a futilidade ainda impera entre e muito mais próxima de nós. As noitadas, geralmente me deixaram gosto de incompletude, tendo como ápice minha esquisita e totalmente esquecível festa de aniversário. São erros que não desejo repetir. Protagonizei uma cena cinematográfica no aeroporto, e me senti muito bem depois que percebi que aquilo acontecia na minha vida real. Termino esse ano como quem está parada na borda de um poço assistindo um balde afundar, cheio de agonia, indo embora... levando anjos, lembranças e o crescimento pelo sangue derramado. Regredi na aceitação de mim, cheia de esperanças num ano cuja soma de algarismos resulta em três. Três é meu número da sorte. Que o terrível 2009 me faça notar um maravilhoso 2010.


Adeus meu caduco, deixe comigo seu Cazuza e a revolução... porque mesmo odiando a morte essa é sua hora de padecer. Senhoras e senhores, gostaria de propor um brinde porque eu sobrevivi! Ponto final.



P.S.: Não deixem que o conceito de família caia em desuso.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Motivo.




Será razão? Para alguém que nunca soube ser racional e só, não significaria isso. Seria então a união do que é razão, cega pelas sentimentalidades. O cordão umbilical que mantém unido o corpo, a alma e a condição de estar vivo.Mas cordão umbilical é involuntário demais. Aquilo que chamo de motivo é voluntário, vem de vontade, de querer abraçar a vida e devorarcada circunstância de forma intensa. Já fui assim, de me achar meio morta... e na verdade ainda guardo essa inferioridade em vestígios ... e então ele me chamou de Vida pela primeira vez. Veio da boca do meu melhor amigo, aquele da fronha do Mickey. E percebi tão claramente que Vida era o que eu queria ser, transmitir, transpirar ... carregando em mim uma energia que fizesse amor com todas as partes de meu corpo e tocasse cada criatura a ponto de começar a melhorar as coisas ao redor de mim. Ele pegou uma trilha diferente da minha e nos perdemos um do outro. Foi complicado cair no vão e ter que suportar aquela falta de luz e chão sozinha. Me tornei algo como gelo e rigidez. Por sorte ( ou não ) caía na cratera de entrada no mundo de Alice, aquela do País das Maravilhas. Eu que já fui assim meio morta, fui chamada de vida pela segunda vez... e isso gerou uma responsabilidade e uma gratidão gigante em mim, como dois contrapontos... que geraram uma resistência sobre humana na tentativa de manter esse gelo e essa rigidez. Intactos. Não sei o porquê exatamente, mas ainda tenho medo de ser feliz demais... daí me mantenho em metades, cursando dois trilhos e não sendo inteira em nenhum dos dois, que é pra não me entregar completamente. Mesmo nessa covardia, o chamado de vida incomodou como uma mordida no ombro. Voltaram as cores, os perfumes, as borboletas, a vontade de ser, transmitir e trsnpirar vida. Estava quase dando certo eeu precisei arrumar um jeito de te agradecer pela ressurreição. Chamei-te de motivo, causa voluntária que me faz querer estar viva e viver muito bem. Daí você me matou. E conheci mais uma parte de mim. Os pontos, realmente viram reticências. E agora caio num vão gogantesco em busca de algo que me leve de volta ao que éramos nós antes do perdão, algo que me remeta à vida que você soprou em mim algum tempo atrás e não me deixe esquecer que amor é uma coisa boa de sentir. Sigo, contudo rígida e gelada. Mas esse algo que me leva adiante, espero que guarde um retorno dentro de sua cartola mágica. Será isto um ciclo? E se for, que retorne logo ao ponto de origem, nem que este esteja do outro lado do oceano. Pois nesse distanciamento de estar perto, a camada fria alarga-se rumo ao absoluto. Agora és meu motivo oposto. Causa involuntária rumo ao contrário de vida. Zero. Eu não quero cicatrizar.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Coisas para se dizer a um estranho.






Queria te dizer que seus cabelos em carcóis circularam a luz do dia, como se seus centros fossem a fonte de tudo que ilumina. Que de todos os espirais que cruzam meu caminho, teus cachos foram os mais belos. Nossos espirais crescem juntos como corpos adolescentes. E sei bem que também és tornado. Quem dera se você soubesse que tua pele é mais que clara, faz-se branca e branco é a cor da paz. Não percebes que tens a paz em si? Pois como um paradoxo,você foi silêncio que calou a avenida à suas costas. E será que essa infinitude de pintas desenhou-te uma capa fria e morta... quente e viva... Não senti. Sei que uma gotinha de suor deslizaria por ela sem grandes obstáculos até atingir o chão. Será que nesses lábios pequenos e pálidos caberia um beijo ardendo em paixão? Agradou-me muito teu jeito de fazer bom uso da fala mansa e comum, de humanidade que saiu desses mesmos lábios e não vomitou bobagens, elaborando cada frase como quem evita um desperdício importante. Como eles comeriam? Aposto que em mordidas pequenas e demoradas... como quem ama comer. Queria te dizer que tuas roupas largas dançam num tom delicado, esparramadas em teu corpo esguio... contudo, seu baile não remete a uma orquestra, nem tampouco a sapatilhas pontudas... dançam mesmo como quem anda sobre rodas, descendo e subindo ruas... E as mãos ainda guardam impressas as dobrinhas de bebê, como àqueles anjos impressos em artigos de papelaria. Olha como quem olha para baixo, após uma desilusão... vagam banhados em dor, berrando interrogações, com sede de algo como vingança ou clamor de quem teve os sonhos roubados e despedaçados. Ah! Se soubesses que teus olhos destoam da suavidade de tua obra... fazendo-te moldura abstrata renascentista.Queria dizer-te que você foi a beleza que me despertou de um longo período de sono. Que foi você o meu salvador da feiura, como um tapa que arde no rosto mostrando a beleza.Pura. Que ainda existe. Não deixe que teus cachos derretam na fumaça de teus labirintos. Cuida-te estranhamente por mim, como quem não se conhece e nunca mais se vê.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Às palavras escondidas em tua língua.


Depois de ver que não havia mais um rosto de criança no espelho, a menina Amélie achou um jeito de gostar disso. Bateu a mão sobre a mesa e exigiu por fim, uma pausa.Fez da pausa sua calma, e mais uma de suas primeiras vezes. No seu casulo, pediu para que algumas coisas se repetissem na tomada de sua memória: para morrer de saudade, pegar o que houve de melhor e vomitar o que pesava seus ombros. O novo foi compreender finalmente o vocábulo 'passado', sem precisar do amigo dicionário... e com seus dedos cancerianos, decidiu ser sempre saudosa para não romper com a tradição, mas decidiu também que libertaria seu passado, como se engolisse um remédio em direção a paz de ambos. Amélie apertou 'stop' em diversas ervas-daninhas, e em coisas que lhe corroiam e lhe afundavam olheiras, escondendo seus olhos ( que ela até gostava). Os dedos afinalados, porém ainda curtos, tomaram o mundo pelas mãos e ela o chamou de seu, conseguindo subir no palco com o gosto fantástico da solicitude conquistada. Notou que os botões daquele espetáculo só encaixavam nas pontas de seus dedos. Naquela vida que era dela, ela era insubstituível. Com a lição aprendida, a garota caiu em devaneio quando chamou essa persepção de egoísmo e quase desistiu... mas lembrou-se de não se cobrar por isso, e do caminho percorrido até a solicitude. Manteve-se firme. Martelo. Prego. Lacre. Tinta. Lixa. Serra. Reforma. Abertura. Tomou os seus com a certeza absoluta de quem ama, aconchegando-os sob suas asas. Asas não de um anjo. Amélie jamais fora anjo, e duvido que gostaria de ser assim chamada. Mas asas de um convite a um mundo onde sabe-se exatamente onde está, e pode-se ser o que é. Um mundo também colorido, que assim como o seu também é ' um museu de grandes novidades'. E que assim como o seu e exatamente por isso, amanhece cada dia como uma promessa.



(...)




E aquela noite finalmente cantara sua chegada e ela cogitou a indecisão de sempre, não fosse a saudade e o aumento das intensidades que fogem ao controle... Já não era confusão. Deixou-se tocar e ser tocada... venceu a si mesma, apesar da dor... Mais que isso, decidiu que ela também poderia sentir prazer nas coisas, e a partir daquela noite ela sentiu o prazer das musas dos poetas... rompeu com toda estrutura de pecado, negou a tudo que lhe trazia desmerecimento e socou diretamente o estômago daquela histeria. Amélie berrou na chuva, transpirando amor e silenciando de paz.






Ela tornou-se maestra, e apaixonou-se pela regência.





domingo, 6 de dezembro de 2009

Soul Keeper



"- Como se pode ter tanta coragem?
- O amor tem que ser mais forte que o medo."
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Carta ao Cazuza.


Amigo meu,

resolvi escrever-te novamente e falar-lhe da minha mania de te colocar em meu lugar. Prega-se por aí que virtude é o contrário disso, colocar-se no lugar dos outros é compaixão... e o inverso, como se chama? seria fracasso?
O que você faria se sua vida tivesse mudado rápido demais a ponto de não condizer com nenhum sonho seu? Acho que você teria se drogado, feito amor, gritado por aí, tudo... menos fazer o que não fosse da tua vontade.Eu cresci com essa mesma energia que me permitia falar em tom claro que eu faria tudo da minha vida, menos desistir do que eu sonhava e me tornar professora. Achava uma chatisse falar a mesma coisa todo ano, como uma oração pronta e mais chato ainda ter nas pessoas meu objeto de trabalho.
Eu era sonhadora, dessas que acreditavam nas coisas, Amélia de revolução, quiçá prosituta, mas nunca a dona-de-casa.Poderia dizer que a vida me derrubou, mas sempre a vi como bela, ela não poderia me fazer mal algum... já o seu oposto, a falta dela, é capaz de destruir tudo que toca. E assim aconteceu. Recebi uma série de negações em sequência que podaram tudo que pulsava em meus olhos verdes e brilhantes. Fizeram meus sonhos mudarem de nome, passaram a se chamar ilusões. E não foi um prazer conhecê-las, porque num primeiro momento tive forças para fazer birra, mas se eu soubesse que depois eu me acostumaria, teria berrado muito mais.
Educação no Brasil é mesmo uma piada. Um bando de gente grande que acha que sabe das coisas socando uma sopa decorada de letras em alunos que não querem aprender nada. Tudo sem porquê, sem vontade, sem paixão. Tudo movido na direção de um dinheiro que você ganhará um dia. Daí você recebe diplomas de papel, gasta anos de vida entre quatro paredes e isso se chama educação.
Não bastasse meu fracasso veio junto a decepção. A corrupção é ensinada em sala de aula e camina lado a lado com a futilidade de adultos que deveriam ser nobres de alma antes de serem chamados professores. Por vezes estava fazendo o trabalho que é repetitivo e me afastava da situação pela perspectiva cósmica de Nietzsche... ri do meu ridículo: estava eu interpretando o papel de Charlies Chaplin em Tempos Modernos, plena revolução industrial no século XXI.,, num ambiente escolar. Os professores morrem de preguiça ou estão cansados demais para ler algum livro ou abrir a mente para novas idéias. A escola deveria ser laica, estimular o livre pensamento, e o respeito... pois é dentro dela que brota o preconceito e os moldes segregativos. Trabalho ensinando uma língua estrangeira para brasileiros que odeiam MPB, vestida numa camisa com as cores da bandeira da nação que mais mata, escraviza e separa a humanidade.
Não bastasse isso tenho procurado trabalar mais e mais, desperdiçar mais horas na ilusão de que está tudo bem. Esconder-me de decisões e conflitos que tenho de enfrentar, da felicidade que deixei para depois e o nojo de estar sendo uma 'professora', sem tempo, sem gosto, que aceitou a falta de vida.
No primeiro ano queria fazer relações internacionais, no sul do Brasil... que é a região que eu mais amo. Mas me disseram que lá era longe e caro demais, para eu mudar meu sonho para Brasília.Assim o fiz.Mais perto do vestibular me convenceram que eu era uma garota que estudava no interior de Goiás e relações internacionais era um curso muito concorrido para mim, seria melhor que eu tentasse um mais fácil. Mudei assim para o jornalismo, porque amo escrever... mas é um hobbie, uma delícia, não sei se como profisão teria dado certo. Pouco tempo atrás, com os planos todos alterados, uma liminar do STJ, mais uma vez o papo do custo de vida me fizeram desistir de Brasília e de todas as imagens que eu tinha projetado na capital do Brasil. Eu fazia 18,crescer doía e eu estava desempregada e pressionada. Pedi emprego na escola de inglês que me formara.
Aceitei meu salário mínimo e minha crescente carga horária que me tapava em seus números gigantes. O espiral foi desenrolando-se, as possibilidades passando despercebidas e eu aceitando tudo. Sem revolta. Como uma Amélia, dona-de-casa. Quiz dizer que me apaixonei pela profissão, diminuiria o peso da rotina. E disse. E até acreditei um pouco. Mas meus próximos sabem que não sei permanecer na mentira. O falso rompeu-se e eu desabava, me agarrando nos pequenos sorrisos das crianças que eu ensinava, para a queda ser mais branda. Se houve alguma verdade nisso é que sou louca por criança e esse amor só cresceu com a experiência.
Hoje enxaqueca, vômito e uma porrada de sonhos de travesseiro me fizeram acordar. E quando olho no espelho, pareço minha avó.


beijos, Amélie... des-pe-da-ça-da!

sábado, 7 de novembro de 2009

Sobre espirais.



O que te lembra um espiral? Confusão? Loucura? Espiral começa em um ponto e vai abrindo-se. Se a linha é infinita, as voltas e a abertura são infinitas. Quando nota-se, espiral vira labirinto e sem seu mapa ou coisa parecida em mãos ou sem a interrupção de seu desenrolar é complicado retornar-se à sua origem. Espiral, apesar de estar presente nos fascinantes tornados, têm se encaixado em outra categoria de minha vida: sobre as coisas que me instigam, avisam e assustam. Tenho mania de tratar coisas como sinais,e não é questão de falta de ceticismo. Não mesmo. É que fatos recentes me ensinaram a dar maior respeito à minha intuição. E esses sinais carregam mensagens em códigos para que essa venda sobre meus olhos seja arrancada e eu possa ver e sobreviver à órbita caótica na qual dou voltas. Talvez eles já estivessem lá, ou talvez fizeram-se agora em nosso diálogo... mas sua frequência não pode passar desapercebida. O primeiro espiral apareceu assim que fexei meus olhos e movimentei minha pupila como se olhasse dentro de meu corpo... lá estava ele, em meio à imensidão negra, era um monte de voltinhas em verde-água. Assustei. Fiquei tonta e mina cabeça doeu. Abri os olhos. E me esqueci. O segundo espiral veio em aquarela vermelha, na tela da minha televisão ... foi desenhado nas costas de um homem por dedos finos de uma mulher. Era uma história de amor que me encantara bastante. Trazia a vida que fazia bodas de papel, fragilmente em espirais. Esse espiral era o acaso, o caos das emoções numa linha temporal intransgredível e efêmera. Não voltava. Imprevisível. Etiquetado a ele vieram coisas simples e belas, que meus olhos tanto amaram algum dia... como uma pipa no céu. O terceiro veio num sábado de uma das piores semanas da mina vida... num sábado de ressaca pré-álcool, regado à vinho, belo céu e cinema ficcional infantil. Saíram da tela iluminada seis ou sete signos de luz em, adivinhe? Espirais. Não li nada muito relevante, mas a quantidade de espirais berrava: você deve nos perceber e decifrar, agora e já! De repente transformaram-se em um gigante ponto de interrogação, bêbado de medo. O quarto e o quinto estavam desenhados em meus lençóis e na almofada da cadeira onde ficam os edredons. Estavam no meu quarto, eram coloridos e eram meus. Meu medo desfez-se num segundo, restara só a interrogação. Mensagem? O sexto visitou-me numa tarde de domingo, que poderia ter sido amarela, mas o céu teimava em deixar tudo cinza... Era inscrito no chão e cercada de amigos, pisamos em suas voltas. Pisar. Esmagar o que está embaixo ( de que? ) e causar dor. Esse espiral era como a verdade que não queremos ver, mas mesmo não sendo vista sua verdade detonou minhas estruturas e arrancou tudo que eu chamava de amizade e me tirou os pés do chão. O espiral é meu guarda e não ia me deixar cair... trouxe amarrado a ele tudo o que eu deixei no passado ou o passado deixou que fosse embora de mim... o que era verdadeiro deu um nó em minha cintura e impediu minha queda desta ponta de agulha fina e quebradiça à
qual tento respirar. Laço em espirais. O sétimo está, agora mesmo, sobre minha cabeça... num céu azul, esbranquiçado por nuvens de espiral. Acho que este pode ser a assinatura do mensageiro dessa salvação. Deus, é você?
Entrei nisso por amor, com rosto de menina e liberdade interior de um pássaro. Um pássaro que sabia e gostava de voar, com valores e abitado por paz e luz. A vida era deliciosa. Eu era protesto contra rótulos e não-verdades. Eu era eu e gostava do que eu era. O início de um espiral, que fiz com minas próprias mãos. Não tive mestria para manter-me afastada da carniça que tanto detestava e me tornei parte dela. Acabei por emendar ilusão em ilusão e perdi o foco, o sonho, a inocência, a confiança nas pessoas, e a vontade de amar... e me perdi de mim. Parei de ver a beleza humana e dividi a humanidade em dois grandes grupos repugnantes de homens e mulheres que não se misturavam... separados por um muro resistente e alto. Inferiorizai uns, perdi certas oportunidades, enfiei-me no meu próprio preconceito combatido. E a vida foi abrindo-se em espirais assimétricos... de um tempo que não volta. E agora meu mundo desabou e apesar da dor, entendo que foi a única forma que me fizesse parar de tecer esse espiral sem fim... antes que não me restasse mais vida para sentir dor. Foi por amor que entrei e onde esse amor puro estiver, eu estarei. No mais, não sei o que fazer. Não estou nada bem. Não há luz nesse estômago que sente fome e dilata em úlceras. Sem fé. Com dúvida.
Ontem olhei no espelho e percebi que meu rosto de meninna está desaparecendo.
*** Henry corre na Via Láctea em busca da paz utópica do olho de seu furacão.

sábado, 31 de outubro de 2009


Você foi meu primeiro beijo no corredor de uma casa na manhã do meu aniversário. Você foi minha primeira vez num carro. Foi minhas primeiras e constantes brigas em cidade distantes. Foi meu primeiro abraço num aeroporto internacional e sua primeira vez numa casa de pedras. Foste meu primeiro banho de chuva no meu quintal cantado seu Cd. Foi meu primeiro término na nossa primeira ida ao cinema e a primeira vez que chorei ( desmanchei de chorar) no seu colo. Foi minha mancha de sangue numa camiseta branca. Você foi aquele primeiro e único dia inteiro juntos, nosso sábado. Foi meu pedido e resposta de sim, regado à keep cooler de pêssego, na sala de um anjo que quando o mundo ficou contra nós, só ela permaneceu. E foste a zona que fizemos naquelas almofadas. Você foi nosso primeiro jantar, semana passada e meus três meses de esplendor e queda. Você foi meu primeiro beijo numa sala vazia de faculdade, e meu primeiro porre de Heinekein. Foste meu primeiro céu alaranjado algodão doce... minha primeira corrida contra o tempo, pelo centro da cidade à meia noite de um sábado. Foi a primeira vez que passei um dia todo beijando teus lábios, sem pausa. Foste a quebra das minhas amarras com passado e a vitória de conseguir viver outra história de amar. Foste quem me trouxe vida, pelo proibido, pelas cores.. quem me fez acreditar de novo num tal de amor e todos seus preceitos, conceitos e promessas. Você foi a primeira dança no piso branco da minha casa, na sua primeira semana de retorno. E toda canção de amor que era nossafoi mais uma primeira vez da triha sonora que você cantou por mim pela voz de Nando Reis. Foi no seu corredor que não resisti a um último beijo. Foi em seu corpo que descobri a geometria dos triângulos, e foi na sua cama que senti sua respiração pela última vez. Por você tirei minha bermuda e até consegui ficar séria.Você foi a imagem de quem sabia das coisas que estavam por vir. Em você me enojei do drama. Foste o primeiro amor que senti raiva. Foi o primeiro a marcar meus punhos. Foi o primeiro a machucar-me por vontade própria e o primeiro que fez o medo real me corroer as veias. Foste o primeiro que desconheci. Foste a primeira intuição do errado. Foste minha libra e meu arrependimento do início. Foste meu contrário e minha contradição. E de tantas unicidades, particularidades e começos vividos ou que ficaram apenas no fabuloso País da Maravilhas, temo ter sido você, também, a minha primeira morte.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dia amarelo brasilidade.


Nos dias amarelos é esperado que eu sinta o conforto de um lar, de estar em casa, de querer estar ali e pronto. Nenhum outro lugar do mundo serve além do meu. Até hoje eu só tinha vivido dias amarelos em casa mesmo, com minha família. Amo dias amarelos porque sinto aquela sensação de intimidade e harmonia alma-corpo. Hoje foi diferente ... então eu poderia ter chamado de outra cor, mas escolhi o amarelo pois seus rostos e corpos ficaram lindos, iluminados e vivos pelo sol de um tarde de domingo, naquela avenida que prefiro anonimar que é pra não perder o encanto. Vocês estavam amarelas. E beleza maior não poderia haver. Acordar ao lado da Pry, com exatos 3 anos de amizade inexplicável ( isso é outra história ) me fez sorrir apesar da cara inchada pelas lágrimas e sombras de ontem e seus outros dias atrás. Ri, bebi, comi como se o tempo não tivesse passado e falei, quebrando meu silêncio. Como é bom falar com o coração e como faz bem ter um amigo-amado pra dividir o sono! Depois houve a quebra de esperar ... finalmente hoje consegui que meu amor se despisse olhando em meus olhos. A sensação foi mágica. Amei o que vi e francamente não cometi erro algum. Hoje você desembarcou,meu bem. Como é bom amar com o coração! Sinto hoje que aquilo que buscava externamente adentrou em mim e adeus saudades eternas! Nem é bom falar muito devido à minha desconfiança sobre coisas e fins. De pijama recebi a energia das ruas, trazidas por olhos desconhecidos e amigos. Maquiei-me da energia que aquela partida de futebol impregnara naqueles músculos aquecidos de suor. Como é bom estar rodeada de queridos e poder ser eu mesma. Pensando em novidade ... houve uma Flor e nossa sina de euforias. Fora a primeira vez que o acaso saíra de cena e abrira espaço para sentir de pertinho os olhos, a voz, os jeitos da minha flor. Eh... Raposa... estavas certa sobre cativar. Sente paz no lugar que mais me atribula e tenho certeza de que isso só foi possível devido aos corações vívidos da minha tribo. Já sentiu o amor guardado ... à flor da pele? Merecia foto, chocolate de café e essas palavras de liberdade que aquela revista me trouxe. Quero demorar a dormir para que a raridade não se esvaia, ou quem sabe porque foi hoje mesmo que acordei. Deito sob esse céu vermelho com o lábio meio-molhado inteiramente livre e encantado.



*** Serendipity é quando você procura uma coisa e encontra outra coisa melhor ainda. Coisa simples. Surpresa. A vida.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Gastrite nervosa crônica;


Há dias que a vida fica tão insuportável! Nesses dias não sei definir se o que fica extremado é nossa insignificância ou nossa superioridade. Tudo fica insignficante e ausente de sentido e levantar-se da cama custa. Os olhos pesam de um sono incontrolável, e ao deitar dormir fica impossível. Cada ação no trabalho, na escola... cada palavra, cada pessoa... parece vão, dispensável e o gosto disso tudo é muito mais repugnante que uma tonelada de doces engolidos de uma vez só. Aliás, nesses dias como bastante doce. Por pirraça. Por teste. Para ver se tal overdose supera o enjoo de estômago que a vida e tudo o mais que eu façi da minha me causa. Tal insignificância de todo esse cotidiano que me cerca me traz a imagem de um grão de areia qualquer, fragmentando-se em pedaços cada vez menores e menos significantes nesse universo imenso. Eu e meu nada. Eu medo de nada. Eu-nada. O lado paradoxal é que esse reconhecimento cósmico de minha pequenez só é possível quando há um afastamento da tragédia. E esse afastamento me torna diferente das outras criaturas, pois a coisa mais altruísta e solitária que há são nossas próprias percepções. E daí, quando estou longe, as outras criaturas continuam aqui, com sua vidinhas sem questionamento ( aparente ), percorrendo o caminho devido. Isso é superioridade. E por mais que ela seja tão insuportável quanto a insignificância, amabas coexistem. E sem haver sobreposição de formas, rio à distância desse espetáculo ridículo e debochado que é ser humano... e choro, com ou sem lágrimas exterioradas, por essa insignifância que me imobiliza. Nesses dias deseja-se parar de viver... e a morte não é a solução mais sensata para tal querer... O arremate certeiro seria uma palavra sentida que ultrapassasse os opostos insignificância e superioridade... qual a palavra que ata esse laço? Não sei.

sábado, 17 de outubro de 2009

Cala a boca.


Amor, desculpe-me mas não voltarei. Cuidarei de mim de hoje em diante. Voltarei à minha forma ativa. Cuidarei mais do meu corpo, da minha alimentação e da minha mente, eu prometo. Quero urgentemente voltar a me achar interessante, muito mais que antes. Cursos, viagens. Dançar!( que saudade!) Quero não mais me esquecer de que somos dois... distintos e vivos seres apaixonados, mas que existem muito bem separadamente e assim parar de transformar o bom em cansaço, em dependência. Na verdade acabei me escondendo atrás da palavra “nós” para não encarar quem sou hoje e tudo o mais que eu deixei de ser. A verdade amor é que passei a me preocupar demais com coisas fúteis, e diante de ti fiquei só te admirar quando a cena era pra ser nossa, e deixei o tempo correr sem ter estado lá realmente.Não meu bem, não é culpa sua e ter estado ao seu lado jamais foi dever. Não te darei esse poder gigante de ser a causa da saudade que sinto de mim, afinal os passos foram meus mesmo. Sou ainda muito jovem para saber o que é amor e para te cobrar tudo isso, se é assim mesmo teu jeito de amar é assim que eu te amo. Não fique mais triste nem se cobre demais, abra essas suas asas cheias de promessas assim como as minhas, e voe como quiser. Eu não quero ter você ao meu lado numa gaiola. Borboletas não caem bem entre grades.Quero ser livre e cantar com você por todas nossas madrugadas embaraçosas. A partir de hoje, tomarei meu vinho, criarei minhas receitas e não reservarei todo meu tempo livre pra ti, o tempo é meu, e eu não acredito em reencarnação... tenho que crescer espiritualmente, humanamente, intelectualmente.. e todos os demais entes... porque vimos juntos na mesma direção o quanto é triste fazer do casamento um pretexto para o comodismo. Não quero essa vida de tédio.Não quero ser tudo que eu mais odeio. E quero desejar cada dia meu o pra sempre com nosso jeitinho. Me devolve aqui minha parte no plano e levante esses olhos e cobre-me as promessas, preciso reparar o tempo que te deixei caminhar só, suportando todos nossos sonhos em suas perninhas curtas. Você foi forte ! Perdão por não ter te notado como deveria, e só ter pedido tudo em troca sem nada dar, além de boas lembranças. Seria tão legal minha vida sem você. Cada noite tentando me convencer de que o fechamento das cortinas de nossa comédia seria o certo a se fazer, me projetei ao lado de cada cara legal, com mil histórias de felicidade e eu bem-sucedida nem lembrava que tinha amado você. Idealizei e rezei tanto por isso. Mas acho mesmo que sua vó tem maior afinidade com Deus que eu mesma, e você estava errada. A prece dela foi mais forte e cada pedido pra deixar você ir embora, era um aperto a mais num coração que te fundia a mim, mais e mais forte. Insuportável. Hoje eu não podia ficar quieta. Assim como faz um ano do nosso ‘all star’ roxo, esse dia não voltaria a acontecer nunca e nossos caminhos poderiam ter se separado para sempre . Eu não poderia deixar você escapar assim.. porque ‘pra você guardei o amor que nunca soube dar’. E não sei. Continuo não sabendo. E sei onde está o erro meu. É que junto com o amor guardei as formas de demonstrá-lo e assim deixo você ir dia após dia na ilusão de que você me dá muito pouco. Na verdade você me mostra muito, mas preferi camuflar-me na covardia de não admitir isso. Amor, não guardarei mais a sede de vida que a saudade de quando você estava longe me fez sonhar. Hoje enxerguei que você desembarcou naquele aeroporto. Nessa vida eu só tenho obrigação de viver e eu quero viver bem. Amor, desculpe-me mas não vou voltar. Aquela menina que você namorava morreu, ela não era eu. Me envergonho pela menina morta e pálida. Mas agora que ela morreu, poderemos viver em paz, dentro de tudo que há de melhor que você me faz.É legal viver sem você. Mas eu não sou feliz assim. E ainda te digo que vou cuidar de mim, pois é minha maior forma de demonstrar que eu te amo. Vida em abundância! Eu não posso deixar você ir.




- Um brinde ao nosso primeiro horário de verão!

sábado, 3 de outubro de 2009

Corinthios 13


"O mundo está muito corrido e eu lido com música, que tem pausa e andamento, mas tem silêncio. E o amor, no mundo de hoje, representa o silêncio, essa necessidade humana que todos nós temos."
( Maria Bethânia )

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O primeiro divórcio.


O que foi o matrimônio? O que o feto causou. Eu era um feto. Havia amor, sem dúvidas. E havia teimosia de moça jovem também. Aqui cabe o termo nunca: nunca saberei aocerto como teria sido a história se o feto continuasse existindo sem o casamento ou se o feto desistisse de existir ( talvez você tivesse razão quando disse que as coisas seriam melhores). Três anos depois outro feto chegou. Uma benção! E depois desse feto não imaginar como teria sido se o primeiro feto existisse sem o matrimônio, nesse caso seria melhor nem existir. O que causou o segundo feto? O matrimônio. Eu sem o segundo feto não seria metade do que sou hoje, tudo teria sido menos amizade, menos alegria. Há casos que os filhos são 'poupados' das dificuldades de um matrimônio, uma casa, um lar. Minha mãe foi um desses casos, meu pai foi um dos casos contrários a esses. Eu e minha irmã sempre sabíamos de tudo. Soube de certas dores e lágrimas muito cedo, e sim elas poderiam ter sido evitadas. E não comentá-las é evitá-las ( entendem?). "O parto ocorre. Parto-me." A separação já era esperada desde eu-feto. Essa é uma história regada ao amor, e a tudo aquilo que destrói o mesmo. Se houve traição, não foi extraconjugal. Trairam-se a si mesmos por esquecerem que amor se mantém se for cultivado e demonstrado todo dia. No lugardas palavras doces, ouviram-se berros. O abandono veio na doença e depois na saúde também. Os domingos de guarda deram lugar ao álcool, que foi impregnando posteriormente todos os dias da semana. E o dinheiro... tornou-se o único assunto e a briga de cada dia. Sem honestidade, vivíamos num lar regado à teimosia e falta de diálogo. Nos meus dias de tédio revivo esse silêncio cortante, quente, incômodo regado por promessas vagas. A separação já não era esperada.. era ansiada, desejada, urgente . Não sofri. Fui paralítica. Impassível. O que lamento é a saudade dos momentos alegres, raros e deliciosos que vivemos juntos. E se houvesse outra chance? Só acrescentaria mais dor e frustração. O que foi já não volta e não somos os mesmos. Estranhos do que um dia foi um lar. O que me dói é que não é justo ser assim, e tivemos tempo suficiente para consertar as coisas. Entretanto não o fizemos. Se não fizemos foi por falta de querer e esforço, que são ... ações voluntárias. Me explique então essas lágrimas no seu rosto? Porque você chora se além de carinho me nega também o material? Carinho já seria exigir demais de ti, mas nem se importou quando eu estava com fome ou doente. E ainda diz que me ama, e agora chora. Lágrimas de hipocrisia. Só me enojam mais. O divórcio separa cônjuges, mas você não soube separar as coisas e acabou me separando de ti também. É fato que não consigo sorrir tão inocente quanto o bebê que você gerou, mas a mulher que fui obrigada a ser reegueu a cabeça e mesmo com a bagagem que sangrei, continuo sorrindo e até sou feliz. Quero dizer-te que casei de novo, e agora é recíproco.
- Avohai!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A rosa.


Se os olhos humanos enchergassem o além do óbvio ... Se o rosa não fosse rosa choque ou rosa bebê ou rosa carmim ... Se a voz soltasse aquela sinceridade abrupta,sem filtro algum ... Se as palavras soletrassem tudo aquilo que é essencial, entretanto nunca é dito ... Se não fosse indispensável o sofrimento para poder crescer ... Se a coragem humana fosse tão grande quanto seus supostos sonhos ... Tudo estaria, seria e permaneceria fácil, como épara uma criança. As coisas da vida são assim mesmo: tão fáceis. E complicamos só para nos queixamos depois? Parece que o complicado justifica a existência que pode nem ter uma razão maior. Ou será que o ser humano não sabe mesmo ser jovem por muito tempo? Sem surpresas. Isso mesmo. O que você vê e só. Um nada pequeno, bem pequeno. E se for isso? A gente complica para suportar. Porque a vida pode ser grande quando se olha para frente e então passamos a contar os longos anos que ainda restam até a tal morte. Vazia. Para quê? E de complicar por vontade, as coisas fáceis não são mais fáceis e a busca nunca acaba pois não se sabe o que se busca. Se as coisas fáceis fossem assim tão fáceis o bêbado equilibrista não temeria e nem acabaria só ( trocando as pernas ), talvez a criança humana nunca adormecesse e as coisas e os valores não seriam relatividade, sem perder a importância com o tempo. Se as coisas fossem assim tão fáceis, elas seriam assim tão fáceis e o fácil anda passando assim ... desapercebido ( assim como as coisas simples, a humildade, o céu e a sensibilidade. O que o homem talvez não saiba é que o sangue, uma vez derramado, não retorna para a veia de origem ... e essa veia um dia seca. Seco. O que o homem talvez devesse saber é que ver uma coisa fácil como uma coisa fácil e só, pode ser a chave para não secar a fonte. Fonte que seca com esse tal de tempo. Aliás, ainda falta muito tempo . E o que eu tenho feito para que essa existência fácil não seja vazia também ... e acabe numa morte que pode ser ainda mais fácil e vazia que esse tempo de história que ainda me resta? Mas isso é só talvez. E um talvez é só talvez, e só.





- Deprimente, mãe! Não quero crescer!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Carta ao Cazuza.


Amigo porra louca... você estava certo, certíssimo, por completo... as idéias realmente não correspondem aos fatos. Você? me acerta em cheio. A forma como você pronuncia, faz caber a mesma palavra em trilhões de significados em zilhões de situações distintas. O fato foi bem melhor que a idéia. Tenho a impressão de que a realidade atou as mãos em cada canto de sonho das duas almas... tomando todos os gostos e formas dos primeiros beijos idealizados e misturou a tudo que de concreto já houve no mundo. O primeiro beijo? Você sabe que minhas bochechas queimam e nunca sei quais palavras utilizar para falar de tudo. Nada pode escapar. Até hoje não despertei daquele momento. Tento me manter serena, economizar a entrega, permanecer de olhos abertos... mas não dá! Sonho acordada, segundo após segundo, em progressão geométrica de amor agudo. Não foi em aeroporto algum, nem nquele barco que você tinha me sugerido, nem no morro do outro sonho, nem no carro frenético, nem em lugar algum que já nos beijamos antes. Era manhã clara, cedo... eu de febre, meu amor de sangue. Foi a primeira vez que acordamos a menos de um oceano de distância. Eu não sabia, não soube e nem saberei o que fazer. Eu chorei, eu ri, eu duvidei, mas o fato é que meu amor estava a minutos de distância da minha casa. Assustei, disse sim. Houve o atraso, óbvil... os atrasos são a sombra de meu amor. Nossos cabelos estavam molhados e ventava muito. Dia frio. Houve criança trazendo fôlego de vida, criança com o mesmo sangue que circulava pelas veias de meu amor. Houve um supermercado cheio de gente. Cheiro, voz, visão.. tudo novo. Olhos arregalados para não perder nada. Risos e mais risos. Era uma imã que nos juntava em cada corredor de chocolates, frutas e pães. Abraços desajeitados, incrédulos e urgentes ... toque novo. Tudo sem vergonha. Me afoguei em seus cabelos no meio da multidão e a partir daí não vi mais nada a não ser nós dois. Outro cenário. Foimeu pão e minha comida, minha sede de saliva... é todo meu amor que há nessa vida. Acho que já não aguentávamos mais a espera do provar. Na verdade percebemos que suportamos muito mais do que imaginávamos ou precisávamos. Agora não era necessário resistir, persistir, imaginar, etc e tal. Frente a frente. Inacreditável, tudo novo . Eu, como diz meu amor... sou mais experiente. Hilário, mas isso não serviu para nada. Curriculum vão. Fui estátua, muda, petrificada de medo, como uma criança prestes a dar seu primeiro passinho. Não suportamos mais, para felicidade geral da nossa nação. Foi num corredor. O gosto? De todas as delícias dos mundos reais e imaginários fundidas numa poção mágica. O cheiro? Da pele que eu esperei por um tempo maior que eu pude. O som? Meu coração, óbvil. Serelepe. E o coração do outro corpo me chamando pra vida e me tirando do coma. A luz? Do mesmo sol que tocou minha pele no dia verde. Não foi teatro, não havia roteiro. Tontura. Perna bamba. Vou cair. Senta e respira.Fôlego. Febre. Observar. Não solto. Desde então grudamos. Ferro e platina fundidos numa liga indestrutível para construir castelos de segurança máxima contra todo tipo de destruição. Nosso muro. Nossos tijolinhos colocados com cuidado a cada dia. Ando fazendo promessas malucas, como você amigo. Faz parte do nosso show. A vida é desconhecida e mágica mesmo, mas anda tagarela dormindo ao meu lado. Pra que sonhar? Ah.. eu escolhi viver só se for a dois. O amor é brega.



beijos fortes e melecados de sua amiga,



Amélie.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tão cliché.

Mãe Terra me fez comum: aparência, voz, sorriso, talento, beleza... tudo comum. Odeio ser comum. Nascer comum é destino, ser comum é escolha. Passei a vida toda me esquivando de jargões. Sou cansada de saber que sou o verme da pulga do mamute gigante chamado vida. Sou nada, uma miséria perdida nesse universo lindo. Escolhi trilhar esse cenário comum com aventuras diversificadas e tentar fazer de meu rastro um pouco de diferença nessa imensidão de história. Pois paguei a minha língua, moço! O jargão me pegou! Maravilho-me diante da dominação que meus sonhos de travesseiro exercem sobre minha sobriedade. Estou apaixonada mais uma vez, seu moço! Passei a vida toda amando platonicamente e certamente aprovo mais o sabor das coisas reais. Gosto do toque, do concreto, do alcance dos olhos. Numa dessas noites atrás, quando meu amor ainda era segredo, erro, imperfeição, me refugiei em minha fronha de Mickey. Meu amor veio me visitar no sonho. E mesmo que em sonho, poderia ter sido um sonho mais real, mas não foi. Meu amor desembarcara por fim num aeroporto lotado por seus queridos. Adentrou o saguão com ar sublime, forte e a mesma travessura de sempre nos olhos. Abraçou sua mãe e seus familiares, passando por mim como se eu fosse um vidro transparente... numa sem-gracisse notória; mas mesmo assim seus olhos teimaram à sua timidez e rolaram pros cantos do rosto, me fitando de lado ... gelando minha espinha. Abraçou, beijou e berrou com todos seus outros amigos presentes, exceto eu, claro. Chegara a hora de deixarmos o aeroporto e irmos para casa. Saímos todos juntos, com uma jóia recém chegada. Ao abrir a porta, estava chovendo para a surpresa geral. Todos recuaram pra não se molhar, e eu que nunca tive medo de tempestades permaneci, e meu amor também. Eu e ele no palco principal com uma plat[eia gigante dois passos atrás de nós. A chuva veio para lavar aquela estranheza de um reencontro tempos depois. Havia uma poça e uma poça guardava todo registro das memórias que juntos viveram algum dia. Num segundo só nossos olhos se encontraram, percorrendo o mesmo caminho de lado que deslizaram no saguão. Timidez fora embora, e deu um contorno curvo e brilhante e sapeca naqueles olhinhos puxados. Meu amor me deu a mão e pulamos juntos na poça de chuva, cheirando a carro, asfalto e óleo... Se açúcar tivesse nome, seria o seu, e nessa chuva que já nos embalou nas madrugadas de nosso amor telepático, não te derreteu. E mesmo tirando-me o chão, deu-me a sensação de maior vividez já provada. Nossos olhos congelaram-se uns nos outros. Vi seus contornos, suas contrações, seus brilhos e me dei conta de que já não havia mais platéia. Só havia eu, você, um céu azul gigante, a poça de chuva e o calor de suas mãos nas minhas. E daí.. o jargão nessa história? Dentre as mil formas que poderia ser, nosso primeiro beijo fora em um sonho dentro de outro sonho. Sepulto aqui este sonho de fronha de Mickey na corrida para seus braços. Paguei minha língua, e mesmo que não aja realidade alguma, foi numa fantasia que eu adorei ser beijada. E adivinhem só? Mais uma vez... contra tudo o que eu pensava. dá-lhe senso comum! Aqui jaz: " O primeiro beijo, dá-se com os olhos."


te amo toin toin... não me destrua como uma faca cortando as etapas.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Distantantemente perto de mim.


Existem hóspedes que trazem lar um lar com eles, trazem paz e calor, e são sempre bem-vindos. Dessa ves estou com um hóspede estranho em meu mundo de moinho, um penetra que tomou conta das minhas coisas. Esse hóspede habita meu corpo e minhas atitudes, e toma minha imagem dos espelhos. Em sua bagagem trouxe algumas verdades que prefiro encarar como a parte boa da história. Ele só pode estar cumprindo uma missão, e sempre tem de haver alguma parte boa nas coisas. É verdade que sou fácil de conquistar e difícil de conduzir e que não notei que a foto já estava lá. Essas verdades legendam muita distorção que fazem por aí, mas não justifica. Não presto. É complicado me namorar, é complexo ser meu amigo. E é insuportável acordar todos os dias com a minha inconstância e meu silêncio. Imagine eu correndo pra todo canto e sempre estar comigo? A perspectiva cósmica pode fugir de minhas confusões, mas eu não. Agora pense em mim, duas vezes mais complicada: Confusão e seu hóspede. Ele não tem nome, senão o meu. Não é culpa sua, nem do mundo, é de alguma coisa " morna e ingênua que vai ficando no caminho", meu brilho próprio. Passa ofuscada pelas ruas. Teme qualquer contato visual, não sabe se comunicar face a face. É o berro que não saiu pra trazer alívio. São as lágrimas que meu travesseiro não abrigou. São os sonhos que se perderam. São as opiniões que não dei naquela discussão. Poderia chamá-lo timidez, não fosse seu equipamento de mil perguntas e desilusões limitadoras, imobilizantes e mortais... e de uma tristeza inata, estrangeira para mim. O hóspede suga minha fome, minhas energias e na noite me dá um cansaço pesado. Desespero. Uma coisa sobre nós: será válvula de expulsão ou refúgio? O casulo. Um casulo quente e macio, exatamente do meu tamanho, escurinho ( não um escuro negro, mas aquele escuro de quando tapamos os olhos com as mãos... um escuro avermelhado ). Prata e duro por fora. Onde eu possa dormir para sempre ou até a hora suficiente que me desencontre desse estranho dentro de mim. Um útero, sem canções de ninar. Por vezes gostaria de estar num filme de exorcismo, medonho. Mas seria o mesmo que me expulsar de mim, e isso não é muito sensato. Não quero me perder, quero me recuperar. Não creio em demônios externos, eu sou o demônio de mim e você é o seu. É com isso que tenho que lidar e não me acostumar. Hóspede tem de ir embora alguma hora!Tomara que seja breve. Não me agrada nada a sensação de transparência, me apaixonei pelas cores. Quero buscar meu casulo como a um tesouro, ficar quietinha na minha solicitude e arrumar meu mundo para você. Quero voltar a te abraçar com calor, e acordar com meus olhos de menina. Voltar a buscar nos olhos de um estranho, a beleza única de cada criatura. Voltar a fazer amor com minhas palavras, meus risos e minha paz transpirada. Quero voltar a abraçar árvores e mendigos e tocar o coração das pessoas, recuperando minha fé no que pode ser belo. Estou perigosa. E se me calo é para não ferir mais quem amo. Me deixe só. Continuo tendo medo do escuro, do inseguro e principalmente dos fantasmas da minha voz. Mas o que vi me deixou menos ignorante, como diria Tom Zé. Acho que tenho que aprender a ser mulher agora. Trarei flores, cores e borboletas. Fiquem na paz.

À Cosme e Damião.


Falávamos de evolução. Ela diz que evoluir é sempre bom, eu digo que não. É por evoluir demais que nosso fantástico planeta está morrendo ( www. SOSclima.org ). Foi a evolução que inventou o câncer, e cegou os olhos dos homens com milhões de dólares. E, no caso discutido com ela, fez com que as relações humanas fossem feitas para não durar. E é por isso, caro Papa Joseph, é que a família está acabando e não pela aceitação do homossexualismo ( que sempre existiu). Estou entrando de férias. E férias, pelo menos teoricamente, está intimamente relacionada à liberdade. É o estudante ansioso para dormir e acordar na hora que quiser, sem horários e provas. É o trabalhador louco para não ter de dar satisfação à seu patrão por um espaço de tempo. Mas a palavra liberdade é mais uma dos vocábulos inconsensuais da humanidade, e eu não vou entrar nesse fogo cruzado de definições e verdades. Mas todos sabemos que sem a liberdade o ser humano enlouquece, sufoca-se, morre. O Brasil nunca conquistou a liberdade maior que gritada por Dom Pedro: a liberdade maior. Pego por prova a nossa falta de liberdade total em nossos detalhes pessoais. Uma das canções que mais gosto é 'Não é proibido', da Marisa Monte. Não, ao contrário de minhas outras músicas preferidas, ela não fala de polêmica, nem de amor, nem de violência. Ela fala de doces, de festa, da cara do Brasil da Tarsila, do Oswald, do Mário, da Anita ... Evolucionalmente falando, o homem aprendeu a alimentar-se de inúmeros nomes e tribos: lights, diets, fast-food, slow-food, integrais, orgânicos, vegetarianos, controle de peso, espectador de balança, dos pontos, das calorias, do tipo sanguíneo, da compensação... trazidos especialmente lá de fora, das ricas multinacionais ...transmitidas pela mídia vendida, até você, consumidor final. Pressão! Liberdade tem muito a ver com paz também. Pressão, tantas escolhas urgentes, tantas exigências imagéticas a cumprir definitivamente tira a paz e a leveza. Ficamos o tempo todo preocupados com algo, com mil contas, mil produtos, mil desejos, mil discussões e ainda mais ou primeiramente com o que comer para agradar ... alguém que na verdade eu nunca soube quem é. A música resgata a idéia do nosso, do viver sem culpa, do alimentar-se com delícia e prazer. Da gostosura das coisas simples, com os doces que estão em extinção. agora mesmo, escrevendo esse texto, minha vovózinha apareceu na janela e disse que havia comido um pé de moleque e a boca estava secando... que devia ser o aumento da taxa de glicose. Te juro que ela era muito mais leve e a boca dela não secava antes de ir ao endocrinologista. Psicológico. Mensagens subliminares que estão impregnadas em nós. Não é proibido. É pra dançar. Tá convidadp. A perfeição é a diferença que nos faz únicos.Desamarre essa pequena corrente e seja criança. Não precisa bancar bacana. Eu odeio a evolução, e todos os dias da minha vida procurarei regredir. Com um efeito dominó, é das coisas pequeninas que serão derrubadas as grandes. Será que não percebes que és apenas uma marionete da ditadura corporal, alimentar, do marketing que enriquece os criadores da anorexia, da bulimia, da obesidade, da depressão? De quem roubou sua alma, as espécies de alguns animeis, e aqueceu nossa casa? Te garanto que a química que vem de fora nas porcarias que a gnt come mata muito mais que o gosto da roça do nosso interior. A gente não entendeu a mensagem modernista, e a antropofagia é a primeira chave para atingirmos nossa sonhada liberdade. e brasileiro sabe sonhar muito bem! É preciso vomitar, mas não o bolo de chocolate gostoso que você comeu, mas sim a idéia de que isso é pecado. Meu último segredo: você tá ficando magro ... desaparecendo. E o cofre deles... engordando e tapando sua passagem cada dia mais. E não, Che! Nem toda revolução é feita com armas.
Jujuba, bananada, pipoca,Cocada, queijadinha, sorvete,Chiclete, sundae de chocolate,Uh!Paçoca, mariola, quindim,Frumelo, doce de abóbora com coco,Bala juquinha, algodão doce e manjar.Uh!Venha pra cá, venha comigo!A hora é pra já, não é proibido.Vou te contar: tá divertido,Pode chegar!(uh)Vai ser nesse fim de semana (uh)Manda um e-mail para a Joana vir (uh)Woo.. Uh!(uh)Não precisa bancar o bacana (uh)Fala para o Peixoto chegar aí! (uh)Traz todo mundo, 'tá liberado, é só chegar.Traz toda a gente, 'tá convidado, é pra dançar,Toda tristeza deixa lá fora; chega pra cá!(uh)Jujuba, bananada, pipoca,Cocada, queijadinha, sorvete,Chiclete, sundae de chocolate,UhPaçoca, mariola, quindim,Frumelo, doce de abóbora com coco,Bala juquinha, algodão doce e manjar.UhVenha pra cá, venha comigo!A hora é pra já, não é proibido.Vou te contar: tá divertido,Pode chegar!(uh)Vai ser nesse fim de semana (uh)Manda um e-mail para a Joana vir (uh)Woo.. Uh!Traz todo mundo, 'tá liberado, é só chegar.Traz toda a gente, 'tá convidado, é pra dançar,Toda tristeza deixa lá fora; chega pra cá!(uh)Não precisa bancar o bacana (uh)Fala para o Peixoto chegar aí! (uh)(uh)Yeah(uh)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sobre meus ovários.


Sim, ainda tenho dois e nunca vi como eles são. Só fui ao ginecologista uma vez, e isso é arriscado... Ou não. Afinal “quem procura acha”. Mas existe ainda a possibilidade que se eu procurasse um especialista talvez eles não berrassem tanto assim comigo, me fazendo brinquedo. Um deles é problemático, jurava. Inchaço. Irritabilidade. Sensibilidade extrema. Reações impulsivas. Confusão ( pra variar). Perguntas sem resposta. E daí? Era totalmente suportável, afinal a mulher ovula apenas com um ovário a cada mês. Mês sim, mês não. No limite, mas suportável. E tem a insônia e a mudança de paladar também, que vem de brinde. Mas agora... Adivinhem! São os dois ovários! Todo mês a mesma coisa, e daí vêm à tona meu medo de enlouquecer, e até hoje não descobri a chave que me segura no campo da sanidade. Dois... esse número me faz rir. Pode ser benção e acidente ao mesmo tempo. Dois: paz e amor; bom e mau; certo e errado. Par, complemento, ying yang. Duas metades que se encaixam. Equilíbrio, metade, raiz das metades, dos dobros, das divisões, das somas, das multiplicações. Amor. Amizade. Carta alta. Faixa de CD. Anos. Tempo. Base dos sessenta, dos segundos, das horas. Dois caminhos, os de sempre. A escolha. Dois ovários. Culpados. Dois que divide os 50% de chances de cada escolha sua dar certo. Meu coração andando em duas metades, e não... não é a famosa parte minha e de outra pessoa. São duas metades de duas pessoas distintas mesmo dentro de uma pessoa inteira: eu. Deve ser mal de canceriano. Minha euforia, minha forma quente de viver estava numa juventude impressionante quando essas duas metades se interligavam dentro de mim, como almas gêmeas. É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Perguntei muito isso por aí, e só ouvi duas respostas SIM em toda a pesquisa, uma amiga e eu claro ( que fiz a pesquisa pra saber qual grau de minhas alucinações atualmente, e tem se agravado) -ambas de câncer-. Ouvi que isso é apenas mais uma de minhas confusões tentando camuflar minha imparcialidade, maneira desgraçada de andar no muro, indecisão. Ou que é apenas um pretexto pro meu desejo íntimo de revolucionar a sociedade pregando a orgia e destruindo a unidade familiar baseada na monogamia. Enfim, as pessoas dizem... como sempre: dizem, acham e tem sempre um idiota que houve, que pede opinião, que chama. Mas do que sinto só eu mesma saberei e eu amo duas pessoas ao mesmo tempo, na verdade eu amo várias, mas aqui estou falando de paixão. Amo uma metade oposta à outra. Amo o gosto real, que vi, senti, cheirei, beijei e toquei.Concreto. Amo uma metade que antes chamaria de irreal, sonho mas que na verdade é tão real quanto à que eu já vivi. Trata-se de vidas envolvidas, e não importa toda história que foi construída pela imaginação, pois foi vivida como algo fisicamente possível. Abstrato. Frio. Dizem na bíblia que não devemos viver de forma morna. E enquanto essas duas metades existiam sem se tocar dentro de mim, eu estava quente. Mas elas se tocaram. Mudaram as peças de lugar, porque partes opostas que entram em atrito, causam deformações nos corpos envolvidos. E o que é o amor? Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Não se regozija com a injustiça, mas com a verdade.Não busca seus próprios interesses. É sofredor, é benigno. Quem ama quer o bem do ser amado. Mas quando se amam dois seres, no fim o rio desemboca naquela coisa odiosa chamada ‘escolha’. Não pela responsabilidade que essa palavra carrega na bagagem, mas pelo caráter banal que ela impõe aos sentimentos e ás pessoas. Escolha: vai querer café com leite ou toddy? Que incômodo! Uma vez escolhida há conseqüências. Numa escolha deve-se comportar como um vidente, pois tenho plena conseqüência que essa minha confusão é um canivete afiado que sempre deixará feridos. É possível sentir amor por duas pessoas ao mesmo tempo sim, mas viver os dois é impossível, a menos que as partes injetem diariamente altas doses de morfina. Num futuro... Quem machucarei mais? Abstrair-se do egoísmo é fundamental. E um libriano é irredutível. Escolhas fecham as portas e, por ser amor traz a dor, recompensada pelo bem de ver quem se ama bem. Meus ovários me deixam sensíveis e estou com tensão pré-menstrual. Escolha. Trajeto novo, eu não esperava. O que fazer? Não sei. Julho chegou e tudo mudou?. Quem sabe daqui a três dias terei essa resposta comigo, e essas dúvidas e dores, se esvaem. Como o sangue que jorra no cio e prepara a mulher para novos tempos de possível fertilidade? Por hoje, só quero dormir.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sobre as mãos.


Estou apaixonada pela forma de suas unhas e pelo belo caimento que há entre elas e seus dedos longos. Amo suas unhas vermelhas. Pintadas è renda. Com patinhas e flores... Amo suas unhas de graxa, cheirando a óleo diesel. Amo unhas sujas de terra, cobertas de massa de bolo, escondidas atrás de nuvens de espuma. Amo suas unhas ruídas ou crescidas, ou o barulho que elas fazem no cortador de unhas. Odeio o barulho áspero que o contato de uma unha lascada faz ao roçar-se num pano. Amo suas linhas de futuro na palma da mão. Amo as palmas que alisam esculturas, que circundam martelos, que lixam a madeira, que limpam a casa, que bordam vidas em toalhas. Amo o violão dedilhado por ti. E o barulhinho do som do teclado esmagado por seus dedos. Falando em dedos... Gosto também de cada dobrinha de pele que há em seus contornos e esconderijos. Amo tocá-las com as pontas dos meus dedos. Amo suas veias, seus músculos e seus tendões pulsando entre minhas mãos pequeninas. Sou apaixonada pelo encaixe perfeito dos seus dedos nos meus. Amo teu calor do toque. Amo seu toque acariciando outros corpos. Estou apaixonada pelo orgulho que é desfilar com você de mãos atadas e da coragem que esse entrelaçamento desperta.Gosto das mãos que descobrem coisas no escuro, que são os olhos do cego, que pariram a criação do homem. Amo me perder nos labirintos de tuas digitais e nunca conseguir encontrar a saída que a água encontra ao escorrer por seus dedos. Amo os poros da sua pele de vida, e adoro quando eles parecem ter sido feitos para apenas beijar os poros das minhas mãos. Amo os beijos na mão e o respeito calado que ganha significado. Gosto das palmas de aniversário, dos socos no ar na comemoração de um gol... Dos socos de raiva, das palmadas de um pai. Dos apertões nas bochechas e na cintura. Gosto das mãos que dão nós em cabelos, que massageiam nucas e aliviam um dia tenso de trabalho. Amo tudo que uma mão diz sem pronunciar alguma palavra e do “evitar” berrado por mãos que não se encaixam ou pelo “ pra sempre” da vida real por trás de mãos num perfeito encaixe. Mãos que fazem guerra... e assinam acordos de paz. Mãos que socam ou mãos que acariciam. Djavan cantou que o amor é um grande laço...e a alma de um laço fica no nódulo que une as duas extremidades distintas e as transformam em uma só. Mãos são os nódulos de todos os possíveis laços. Mãos estão grávidas de amor.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Desconexões II.


Existem os fusos horários que são a diferença de horas a mais ou a menos do lugar onde estou. O lugar onde estou é sempre minha referência. Hoje não estou tão certa de onde estou nem o que ser. Gostaria de estar em todos os lugares menos aqui. Mas qual seria a parte 'todos' dos 'lugares'? Realmente eu não tenho noção. Será que se estivesse em outro lugar ou em outra pele estaria pensando no que estou pensando agora? A hora marcada no relógio varia de acordo com os fusos, mas o tempo dança no mesmo compasso para tudo que existe em qualquer lugar.Injustiça.Se o homem pode estar num lugar mais cedo ou mais tarde, por que não se pode contar o tempo mais rápido ou mais devagar? Se me lembro bem ontem vivi um dia de 24 horas, e as horas saltitaram num piscar de olhos. Cada segundo tinha razão, sentimento, sentido e preenchimento. Hoje é um dia de 24 horas, como ontem. Ando pela casa, escrevo, leio, assisto, converso, como, respiro e o tempo passa arrastado. Nenhum segundo tem razão, nem sentido, nem sentimento e nem preenchimento. A isso tudo chamo de tédio, e não há o que se faezr com ele. O homem inventou tanta coisa bacana, mas não entendo porque ainda não inventou uma caixinha para guardar o tédio. Qual o tamanho, o peso, a natureza disso? O tédio te anestesia.Você quer gritar e não consegue. Quer chorar e não consegue. Quer agir e não consegue. O tédio é o atalho mais curto para o pessimismo e para a confusão. E de confusão ... eu entendo, alimento e dou aula muito bem. É nesses dias que eu arrumo fios que não sei de onde saem para me enrolar. Fico mais embaraçada que um nó cego, um gatinho travesso num novelo de lã, ou que os fones do meu MP4. Não sei se fico, se vou, se páro, se penso, se mudo, se desisto, se luto ... Não sei de nada e cada resposta que atrevo a meter meu nariz puxo ainda aqueles fios repletos de " e se", "talvez" e "quando" para ficar completamente sem saída. No fim do dia minha cabeça dói. Surto. Insônia. Loucura. O tédio é viciado nas perguntas sem resposta. Não me arrependo de nem uma merda, erro, glória que fiz. Se me perguntarem do que me arrependo, eu direi que me arrependo dos dias de tédio. Dos dias de cor creme.

domingo, 10 de maio de 2009

De ressaca.


A Capitu do Machado tinha olhos de ressaca, dissimulados. Ser aceito é a condição fundamental? Por mais que seja repugnante, por mais que tenha sido este a pedra que destruiu teu lar. Está na cultura, está na festa, está no doce. Você continua odiando a sensação do dia seguinte, mas o cheiro líquido te traz as lembranças orgásmicas e você nunca resiste. O álcool é um potente orgasmo. Os dedos adormecem, contorcem ... a dormência sobe pelos braços e percorre teu corpo até as pontas dos pés, te fazendo tremer. E tudo recomeça de novo. Fluxo. Fluido. Êxtase. Frio na barriga. Nó na barriga. Você apaga. Você apaga sem conseguir dormir porque o mundo gira, e gira cada vez mais rápido te deixando tonta e enjoada. É nesse ponto que você se dá conta de que qualquer coisinha domina sua sanidade, que você é um merdinha que vive num corpo que não é teu. A confusão sobre pensar e descobrir qual a tênue linha que te separa da loucura cresce como um pão fermentado, e te engasga e nessa parte você vomita tudo. O álcool te transforma num telespectador 'sllowmotion' de você mesmo. Você observa tudo de fora mesmo vivenciando a cena e ri da própria desgraça. O álcool é desgraçado, a ressaca mais ainda e eu que sei de tudo isso e ainda consumo, sou a mais idiota desgraçada de tudo isso. Te direi que o hálito do meu pai cheirava a álcool. Esse líquido inundou minha casa de gritos, de lágrimas e de tudo que nos tornou estranhos uns aos outros. Álcool é diurético. O diurético fez mijar, urinar, excretar minha família e o amor que um dia senti pelo meu pai. Hoje acordei de ressaca à margem da hipocrisia. Capitu fingia. De ressaca a gente finge. Finge não lembrar das merdas que fizemos andando sobre a corda alcóolica, pois de uma forma ou de outra tudo aquilo fora armazenado em algum lugar mesmo que no extremo inconsciente e está guardado para jorrar a qualquer momento. A farsa por trás dos olhos de ressaca mal dormidos e vermelhos esconde uma irresponsabilidade de cometer novamente e novamente tudo aquilo que já tem-se de exemplo e presságio por um vício pré-existente. Com a cabeça em eco fundamental de um poço fundíssimo você desperta. Num esforço extremo tenta-se dormir de novo. Dormir mais. Possibilidade de esquecimento. Possibilidade de não ter acontecido. Possibilidade de ter acontecido e ter sido lícito e perfeitamente normal. O álcool é ilícito para menores e para o trânsito, e tudo que se faz embebedado acaba por ser ilícito apesar de sensual. O álcool fere o fígado, a alma, incendeia ... O guarda de trânsito pune; o juizado pune; sua consciência pune. Se nada disso fosse assim? As cabeças não girariam tanto, eu não estaria com essa fraqueza, meus pés não estariam gelados e minha consciência não gritaria sempre tão insuportavelmente.